sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dougie MacLean, Perthshire Amber

Fantástica música de um fantástico cantor e compositor.
Ladies & Gentleman,

                                       »    Dougie MacLean

Got the cd and I thought that this was the best one on it.

Dougie MacLean - Gloomy Winter's Noo Awa


                                              Fantástica Escócia!
Jean Vauquelin des Iveteaux, alquimista, fue un personaje nacido a mediados del siglo XVII, del que muy pocas cosas se hubieran sabido sin el estudio de Sylvain Matton aparecido en el volumen homenaje publicado para festejar los 90 años de François Secret y dedicado a los Documentos olvidados sobre la cábala, la alquimia y Guillaume Postel.
 
 

En uno de sus comentarios al comienzo del Cantar de los Cantares, Vauquelin se refiere a lo qué se esconde bajo los nombres de esposo y esposa y dice:
“… el espíritu luminoso o el fuego fijado en la tierra virgen es la esposa; y por esposo se entiende el espíritu volátil luminoso invisible, fuego natural contenido en la naturaleza húmeda, enviado del cielo en calidad de espíritu universal, que vivifica y anima a toda criatura. Es este spiritus intus aliens, totamque infusa per artus mens agitans molem, el anima mundi de Platón y Metatrón de los cabalistas.”
 
Quando se refiere al famoso versículo del Cantar que dice: “Que me bese con los besos de su boca, pues sus pechos son mejores que el vino” (1, 2), Vauquelin define a los protagonistas del poema e indica el medio de su unión:
 
“El término que significa ‘beso’ está expresado en plural en hebreo, lo que indica besos reiterados e innumerables a fin de que esta esposa pueda decir, como está dicho en Salmos 119, 131: Abro mi boca franca y hondo aspiro al espíritu en mí, de modo que no seamos más que uno. Es necesaria, pues, una cantidad de espíritu volátil a proporción de la esposa fija y que él dé más de un beso, a fin de que el cuerpo devenga uno con él y sea espiritualizado por esos besos que los unen. El fijo es pues esta esposa virgen que demanda el beso puro, que quiere recibir del volátil totalmente espiritual que el cielo le envía. Los dos son dos sustancias de una misma raíz, hermano y hermana, esposo y esposa, hijos de la misma naturaleza que los produce, agua cruda, agua cocida, que tienen su origen en el agua, ab aqua sunt omnia.”
 
Sin embargo esta unión no puede hacerse tan fácilmente, pues la esposa al principio no es pura sino que está mezclada con los elementos terrestres que la habían sepultado hasta aquél momento, por eso:
“… es necesario que sea lavada y purgada por medio de él (el esposo), y dispuesta a recibir este beso gracias a un estado que la convierta en libre de mácula, y que además esté vacía de cualquier apego, que esté separada de ellos, que se encuentre en una mortificación y aniquilamiento de sí misma, que por la sequedad y la privación de toda otra cosa adherida, sólo conserve su única y ardiente apetencia que pueda atraerle la restauración por la que suspira, para desalterarla con un agua muy espiritual y celeste... Pues este beso da el espíritu de vida, al espiritualizar la materia en la obra natural y al divinizar, por decirlo así, el alma en la obra espiritual de la salvación por la unión del alma con Dios por Jesucristo; al igual que el cuerpo elemental se convierte en celeste y espirituoso mediante el vehículo de la luz, este agente del Señor por medio del cual perfecciona toda clase de materia.”

 

Awoon D'bwashmaya - uma música para a alma

                                           Abwoon D'bashmaya - Pai Nosso em Aramaico

Teixeira de Pascoaes - Dois Poemas

Teixeira de Pascoaes nasceu no ano de 1877 e desde muito cedo manifestou um grande amor à Natureza.

Licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra e chegou a exercer o cargo de Juiz substituto na Comarca de Amarante.

No entanto, em 1913, abandona a carreira judicial e passa a residir no solar da família em São João do Gatão, perto de Amarante, dedicando-se à administração das propriedades, à escrita e à contemplação da Natureza e da "sua" amada Serra, a Serra do Marão.

Morreu em 1952, aos 75 anos de idade.

Viveu como eremita e amou a natureza quase de modo místico.

É um dos grandes poetas da língua portuguesa, a quem Mário Cesariny, seu amigo e organizador de uma antologia, julgou superior a Pessoa.

A sua obra é vasta e excelente, merecendo a atenção de todos nós.


A ALMA
A alma não é mais
Que transcendente imagem
De tudo quanto abrange
A luz do nosso olhar.
É o retrato perfeito
E fiel duma paisagem:
Tem uma serra ao fundo, e, depois dela, o mar.



UMA AVE E O POETA

I


Sobre aquele pinheiro aureolado
De inerte e vegetal melancolia,
Um passarinho alegre e alvoroçado,
Cantou, cantou durante todo o dia...

Estive a ouvi-lo mudo e extasiado...
Mas, por fim, perguntei-lhe: Que alegria,
Se fez em ti, ó corpo acostumado
À cruz das tuas asas de agonia?

Dize: que viste tu, no céu profundo?
Que foi que aconteceu sobre este mundo?
Grande coisa de certo adivinhaste...

Ou revelou-te a Luz o seu mistério?
E divina canção de amor etéreo,
Em procura do sol, alevantaste?


II

E a avezinha serena e confiada,
N´um olhar de ternura me envolveu;
E em sua doce voz iluminada
E tão cheia de graça, respondeu:

Meu canto é luz do sol em mim filtrada;
Vou a cantar... e canta a luz do céu.
E das aves da noite a voz cerrada,
É penumbra que n´elas se embebeu.


Sonho a perfeita e mística alegria!
Desejo ser apenas harmonia;
Canção de luz que todo o espaço inflama!

Ser a Esperança viva, a Eternidade;
Não ser a estrela e ser a claridade;
Ser apenas o Amor, não ser quem ama.


António Cândido Franco em nota sobre Teixeira de Pascoaes

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3926.pdf


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A perfect song

                                          Lou Reed, A Perfect Day

Keats e Goethe em torno da urna grega

por  Luís Rubira


    Goethe conclui a segunda parte de seu Viagem à Itália (Italienische Reise) observando que nenhum relato é capaz de dar conta das impressões que alguém pode experimentar ao empreender uma viagem. Chega a essa conclusão ao comparar os relatos de outros viajantes à Itália, que ele havia lido, e sua experiência particular nesse país; ao mesmo tempo em que se dá conta que suas tentativas de também descrever as impressões experimentadas em sua viagem resultam fragmentárias, parciais. Atribui essa inevitável parcialidade, a qual todos estão submetidos, ao fato de que “a personalidade, os propósitos, as circunstâncias, o favor e o desfavor prestados pelo acaso [...] varia de pessoa para pessoa”. Essa reflexão de Goethe não se limita à experiência na Itália e aos relatos de viagem. Na verdade o escritor alemão acredita que o contato com as fontes orais e escritas é necessário para formarmos o conhecimento, mas que não deve ficar reduzido a elas, sendo mais importante ainda o contato direto com as coisas mesmas.
    Esse elemento torna-se particularmente claro em pelo menos três momentos de sua Viagem. Ao chegar a Veneza em 28 de setembro de 1786, ele escreve: “Veneza já não é para mim uma mera palavra, um nome vazio a angustiar-me com tanta freqüência – a mim, o inimigo mortal das palavras ocas”. Referia-se, assim, aos muitos relatos sobre Veneza que havia lido, e por certo aos que ouvira de seu pai, o qual, tendo viajado pela Itália nove anos antes do filho nascer (ou seja, em 1740) não cansara ao longo da vida de “contar-nos sobre Veneza”. Aquele que tomara contato desde jovem com os relatos de seu pai e depois lera publicações sobre a cidade italiana escreve alguns meses depois em Roma:
    “Pode-se dizer o que se quiser em benefício das tradições orais e escritas, mas somente em pouquíssimos casos elas serão suficientes, uma vez que são incapazes de transmitir o verdadeiro caráter de seu objeto, e até mesmo nas coisas do espírito. Uma vez, porém, visto o objeto, então se poderá com prazer ler e ouvir a seu respeito, pois a isso juntar-se-á a impressão viva; somente aí é que se poderá refletir e julgar” (2 de janeiro de 1787).
Por fim, é após empreender sua viagem pela Sicília, lugar onde sentiu necessidade de reler Homero, que ele observa:
    “Agora que tenho presente em minha mente todas essas costas e promontórios, golfos e baías, ilhas e línguas de terra, rochedos e praias, colinas cobertas de arbustos, suaves pastagens, campos férteis, jardins adornados, árvores bem cuidadas, videiras pendentes, montanhas de nuvens, e planícies, escarpas e bancos rochosos sempre radiantes, com o mar a circundar tudo isso com tantas variações e tanta variedade – somente agora, pois, a Odisséia tornou-se para mim palavra viva” (Nápoles, 17 de maio de 1787).

    Essas três passagens de Viagem à Itália deixam ver, pois, a importância que Goethe atribui ao contato direto com as coisas. Além disso, em diversas passagens do livro torna-se evidente que ele acredita que a linguagem é insuficiente para dar conta daquilo que percebemos. Tanto é assim que, ao chegar na pequena cidade de Ariccia, entre Roma e Nápoles, e deter-se ante a entrada da propriedade de um príncipe, ele registra: “A praça diante da entrada é de uma beleza indescritível” (Velletri, 22 de fevereiro de 1787). Essa mesma incapacidade para descrever algo pode ser vista também no momento em que, junto com a duquesa Giovane e desde seu palácio, ele vê o Vesúvio derramando lava: “Tínhamos diante de nós um texto que milênios não bastariam para comentar” (Nápoles, 2 de junho de 1787). A deficiência da oralidade e da escrita para dar conta das percepções leva Goethe constantemente, durante a viagem, a tentar pintar, desenhar, a fim de registrar aquilo que tem diante dos olhos. Esse trabalho, todavia, torna-se árduo, na medida em que ele não domina também as técnicas para melhor fixar aquilo que percebe.

***
    É nos Epigramas venezianos, escritos após a viagem à Itália, que ele dirá de forma inequívoca: “Tentei muitas coisas: desenhei, gravei em cobre, / Pintei a óleo, moldei também várias coisas em barro, / Mas sem constância, e não aprendi nem fiz nada”. E complementa, lamentando: “Um só talento levei até quase à mestria: / Escrever alemão! E assim estrago, poeta infeliz, / No pior material agora a vida e a arte”. Sem dúvida, o Goethe dos Epigramas acredita que as artes plásticas possuem superioridade sobre a escrita. Tendo, todavia, o talento para a poesia, ao iniciar seus epigramas em Veneza no ano de 1790, é justamente para objetos nos quais as artes plásticas se fazem presentes que o poeta se voltará:
 
Sarcófagos e urnas com vida adornou o pagão:
Faunos vão dançando em volta, co’as Bacantes em coro
Fazem variada roda; o bochechudo caprípede
Expele com força o som rouco do corno estridente.
Címbalos, tambores ressoam: vemos e ouvimos o
[mármore.
Adejantes pássaros, que bem sabe ao bico esse fruto!
Nenhum ruído vos ’spanta, inda menos espanta o
[Amor
Que só no vário tumulto sente bem a alegria do
[archote.
Assim, vence a abundância a morte, e a cinza lá dentro
Parece no calmo recinto ainda alegrar-se da vida.
Possa tarde assim envolver do poeta o sarcófago
Este rolo, ricamente adornado de vidapor ele! 

    O primeiro epigrama volta-se, assim, para os motivos esculpidos em mármore – esse material que Goethe considerava como singular. Curiosamente, 28 anos depois o poeta inglês John Keats também irá tematizar a urna em sua poesia e já logo na primeira estrofe reconhecerá a superioridade da plástica sobre a escrita. Se ambos poetas acreditam nesse aspecto, podemos nos perguntar, como o faz Júlio Cortázar ao abordar a “Ode a uma urna grega” de Keats: “Que fascinação especial existe em descrever algo que já é uma descrição?”, cabendo também a pergunta: que outras semelhanças e diferenças há entre o primeiro epigrama veneziano de Goethe e a “Ode a uma urna grega” de Keats? Comecemos pela última questão.
Nem o poeta alemão nem o inglês conheceram a Grécia. Durante a viagem pela Itália, Goethe recebeu um convite para ir até o solo grego, mas preferiu não se desviar da rota que havia anos planejara. Keats, que aos 23 anos viajou a pé pela Escócia durante 42 dias, o mais próximo que esteve da Grécia foi em solo romano: chegou em Roma, todavia, bastante doente e após quatro meses faleceu, aos 25 anos. Ambos, no entanto, tiveram contato com a literatura e a arte gregas. Na própria Itália Goethe, ao encontrar “a cópia romana de uma estátua grega da escola de Fídias (século V-IV a.C.)”, observa: “No palácio Giustiniani encontra-se uma Minerva detentora de toda a minha admiração. [...] Leiam o que diz Winckelmann sobre o elevado estilo dos gregos”. É também durante sua viagem, como já observamos, que ele relê Homero. Keats, por sua vez, também tomou contato com a obra de Homero, e com mármores gregos ornados com deuses e homens adquiridos pela Inglaterra em 1816. Assim, talvez a leitura que ambos poetas fizeram de Homero tenha influenciado a tomar a urna e seus motivos como motivo de um poema. Na Ilíada, por exemplo, Homero se detém não sobre a urna, mas sobre os motivos do escudo de Aquiles:
 
As noivas saíam de suas habitações e eram acompanhadas pela cidade à luz de tochas acesas, ouviam-se repetidos cantos de himeneus, jovens dançarinas formavam círculos, dentro dos quais soavam flautas e cítaras.
Donzelas e mancebos, pensando em coisas ternas, carregavam o doce fruto em cestos de vime; um rapaz tangia suavemente a harmoniosa cítara e entoava com tênue voz um formoso lamento e todos os acompanhavam cantando, emitindo vozes de alegria”.
 
    Se Homero se interessava por motivos que estão em objetos de pequeno porte como um escudo, Goethe e Keats ao abordarem os frisos da urna também se interessam pelo trabalho que a arte grega sulcou em pequenos objetos. Goethe, ademais, já na viagem pela Itália valorizava pedaços de tigela onde apareciam figuras talhadas, bem como por vasos pintados. Em seu primeiro epigrama veneziano o que a urna de Goethe traz é um coro satírico, dionisíaco, um tema bastante presente na arte grega (“Faunos vão dançando em volta, co’as Bacantes em coro”). Segundo Nietzsche, os gregos consideravam o Sátiro (chamado de Fauno pelos romanos) como “a expressão de suas mais altas e mais fortes emoções, enquanto exaltado entusiasta que a proximidade do deus extasia [...] enquanto anunciador da sabedoria que sai do seio mais profundo da natureza”. Assim, a presença do “Bochechudo caprípede” enquanto tema presente no mármore do sarcófago ou da urna (objetos que serviam para o depósito dos restos mortuários) leva Goethe a interpretar que aquilo que ali está tematizado é a exaltação e celebração da vida. O motivo dionisíaco parece estar presente também no poema “Ode a uma urna grega” de Keats. Todavia, o poeta inglês colocará seu foco não propriamente na celebração da vida e sim no “instante eterno”, ou seja, na detenção do vir-a-ser por parte da arte.

    A urna que Keats elege em seu poema nunca foi encontrada e provavelmente foi fruto da imaginação do poeta. Apesar disso ela mantém muitos pontos em comum com a urna do epigrama de Goethe. Um exemplo diz respeito à referência aos instrumentos musicais. Todavia, enquanto Goethe se limita a uma descrição onde a percepção dos sentidos prevalece (“Címbalos, tambores ressoam: vemos e ouvimos o mármore”), Keats deixa de lado os sentidos (“As melodias são doces, mas aquelas não ouvidas / São mais doces; desta maneira, vós, suaves flautas, soai; / Não ao ouvido sensorial, mas, ternamente, / Toquem as melodias espirituais do não-som”). Da mesma forma ambos poetas tematizam o amor, mas enquanto Goethe se arrisca a uma descrição que está ligada ao universo sensorial e ao mundo efetivo (“o Amor (…) só no vário tumulto sente bem a alegria do archote”), Keats parece querer fixar no poema uma imobilidade do vir-a-ser (“amor! / Eternamente cálido e para sempre a ser gozado, / Continuamente palpitante e sempre jovial; / Todos eles suspirando a intensa paixão humana”).

John Keats, Ode a uma Urna Grega

John Keats



 

                                ODE A UMA URNA GREGA                                

Tradução: Augusto de Campos
I

Inviolada noiva de quietude e paz,
                                 Filha do tempo lento e da muda harmonia,                                
Silvestre historiadora que em silêncio dás
Uma lição floral mais doce que a poesia:
Que lenda flor-franjada envolve tua imagem
De homens ou divindades, para sempre errantes.
Na Arcádia a percorrer o vale extenso e ermo?
Que deuses ou mortais? Que virgens vacilantes?
Que louca fuga? Que perseguição sem termo?
Que flautas ou tambores? Que êxtase selvagem?
II

A música seduz. Mas ainda é mais cara
Se não se ouve. Dai-nos, flautas, vosso tom;
Não para o ouvido. Dai-nos a canção mais rara,
O supremo saber da música sem som:
Jovem cantor, não há como parar a dança,
A flor não murcha, a árvore não se desnuda;
Amante afoito, se o teu beijo não alcança
A amada meta, não sou eu quem te lamente:
Se não chegas ao fim, ela também não muda,
É sempre jovem e a amarás eternamente.
III

Ah! folhagem feliz que nunca perde a cor
Das folhas e não teme a fuga da estação;
Ah! feliz melodista, pródigo cantor
Capaz de renovar para sempre a canção;
Ah! amor feliz! Mais que feliz! Feliz amante!
Para sempre a querer fruir, em pleno hausto,
Para sempre a estuar de vida palpitante,
Acima da paixão humana e sua lida
Que deixa o coração desconsolado e exausto,
A fronte incendiada e língua ressequida.
IV

Quem são esses chegando para o sacrifício?
Para que verde altar o sacerdote impele
A rês a caminhar para o solene ofício,
De grinalda vestida a cetinosa pele?
Que aldeia à beira-mar ou junto da nascente
Ou no alto da colina foi despovoar
Nesta manhã de sol a piedosa gente?
Ah, pobre aldeia, só silêncio agora existe
Em tuas ruas, e ninguém virá contar
Por que razão estás abandonada e triste.
V

Ática forma! Altivo porte! em tua trama
Homens de mármore e mulheres emolduras
Como galhos de floresta e palmilhada grama:
Tu, forma silenciosa, a mente nos torturas
Tal como a eternidade: Fria Pastoral!
Quando a idade apagar toda a atual grandeza,
Tu ficarás, em meio às dores dos demais,
Amiga, a redizer o dístico imortal:
"A beleza é a verdade, a verdade a beleza"
— É tudo o que há para saber, e nada mais.

Shaykh Hassan - Dyck mestre sufi

Durante os seus estudos de música clássica em Berlim (1966-1971) Shaykh Hassan Dyck descobriu o seu interesse pela música tradicional indiana. Tendo encontrado um emprego como professor de música europeia na Índia, estudou com Ustad Vilayat Khan e deu concertos com a Orquestra Sinfónica de Delhi.

O seu interesse na espiritualidade e na música levou-o também a viajar pelo mundo árabe durante muitos anos, estabelecendo-se por um longo período de tempo em Damasco. Os resultados dessas experiências espirituais e musicais são composições de música étnica que ecoam a maneira própria de cada buscador espiritual.

Os seus concertos são, muitas vezes, acompanhados por um grupo de dervixes rodopiantes.
Peter Hassan Dyck também é um excelente cantor de contos Sufis, que convida o ouvinte para uma viajem no mundo mágico das histórias tradicionais do misticismo Sufi.


A música flui do coração do mestre Sufi para despertar o desejo do Amor Divino. As histórias sufis são anedotas e episódios muito simples e, às vezes, aparentemente contraditórias. Elas contêm uma profunda sabedoria espiritual, que conduz o ouvinte para o reconhecimento das suas necessidades básicas. Uma boa dose de humor do mestre Sufi também é, muitas vezes, a chave para o desenvolvimento espiritual dos participantes ao encontro.

Durante os seus encontros, Shaykh Hassan Dyck oferece contos de tradição Sufi do Médio Oriente, intercaladas com momentos de música tocada ao vivo. O ritmo das histórias, simples e profundas, o sentido de humor de Shaykh Hassan e a sua música são os ingredientes ideais para encontrar o "tom certo".


terça-feira, 27 de novembro de 2012

http://www.libriantichionline.com/divagazioni/nazim_hikmet_alla_vita 


soneto de Dante


Um soneto que traduzi de Dante 

 
Tanto gentile

 
Tão gentil e honesta, tão sem par

é minha dama quando outrém saúda,

que cada língua logo se torna muda

e os olhos não se atrevem de a mirar.

Ela se vai, ouvindo-se louvar,

benignamente, de humildade vestida,

que se parece a uma coisa vinda

do céu à terra um milagre mostrar.

Tão afável se mostra a quem a mira

Que os olhos ao coração levam dulçor –

entendê-lo não pode quem o não prove:

e parece que dos seus lábios se move

um tão suave sopro cheio de amor

que segredando à alma, diz: Suspira!

 
                                                                 In Vita Nuova

 

 

 




 
 


 

 

what's on your mind

Madrugada

domingo, 25 de novembro de 2012

2 poemas de Vitorino Nemésio


Correspondência ao Mar

Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar;

De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.

Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.

Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,

E desenrolo:
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de polo a polo.

Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim -
Que onde ele acaba, o coração começa.

Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.

Começa pelo peito das baías
Ao rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.

E, de assim começar, é abstracto e imenso:
Frio como a evidência ponderada,
Quente como uma lágrima num lenço.

Coração começado pelos peixes,
É o golfo de todo o esquecimento
Na mínima lembrança que me deixas,

E a Rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração , lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.






Tubo de Ensaio

Árvores do Canadá, uma por uma,
A caminho de Otawa, de autocarro,
Propõem seus galhos hibernais ainda
À minha angústia já primaveril.
Com tão pouca matéria a fotossíntese,
Que oxigénio de amor espero eu delas,
Com que carbono as poderei amar?
Porque, enfim, eu morrendo dou-me aos bosques,
A tal selva de Dante é a dor da espécie,
E o mezzo dei camin aqui passar.
Só é estranho que fracos pensamentos
Eu verta nestes tubos de ensaiar:
Eu, que, por causa de Escherichia Coli,
Quase não sei (como se diz?) — meiar...
A Poesia é um louco laboratório,
E eu dispo a bata para não chorar.

Poesias de Vitorino Nemésio, por Maria Madalena Gonçalves, Lisboa: Comunicação, 1983: p. 83-84, 97, 174, 184

Beneath the Rose

                                               Micah P. Hinson------

Estou agora a chegar aqui.
Não tenho um plano preconcebido do que este caderno irá ser.
Privilegiarei os poemas, a música, os textos.
Será o que será.
Um lugar onde o verbo possa soprar
(spiritus ubi vult spirat),
onde a música tenha lugar.
É um caderno de vozes, múltiplas, autónomas.
A minha incluída.

A.S.