domingo, 29 de dezembro de 2013

Sonho


Athanasius Kircher, Mundus Subterraneus, 1699

(Anónimo)

Um óptimo 2014, 
com sonhos bons.



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Poema de Manuel Antônio Álvares de Azevedo dito por Paulo Autran

Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 12 de setembro de 1831  Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852) foi um escritor da segunda geração romântica (Ultra-Romântica, Byroniana ou Mal-do-século), contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.
Filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo, passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde, desde logo, ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental.
Durante o curso de Direito traduziu o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduziu Parisina, de Lord Byron; fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); fez parte da Sociedade Epicureia; e iniciou o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos.
Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos.
A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla) e Lira dos vinte anos
Suas principais influências são:Lord Byron, Goethe, François-René de Chateaubriand, mas principalmen-te Alfred de Musset.
Figura na antologia do cancioneiro nacional. Foi muito lido até as duas primeiras décadas do século XX, com constantes reedições de sua poesia e antologias. As últimas encenações de seu drama Macário foram em 1994 e 2001. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.

domingo, 22 de dezembro de 2013

FELIZ NATAL!

Desejo a todos um bom dia de Natal, de preferência com a família alargada à mesa, a celebrar a Consoada!






sábado, 21 de dezembro de 2013

No silêncio, Deus escuta-nos

No silêncio, Deus escuta-nos - Beata Teresa de Calcutá

Não conseguimos encontrar a Deus no barulho, na agitação. No silêncio, Deus escuta-nos; no silêncio, fala às nossas almas. No silêncio é-nos dado o privilégio de ouvir a sua voz:

Silêncio dos nossos olhos. Silêncio dos nossos ouvidos. Silêncio da nossa boca. Silêncio do nosso espírito. No silêncio do coração, Deus falará.

O silêncio do coração é necessário para escutar a Deus em todo o lado — na porta que se fecha, na pessoa que reclama a tua presença, nos pássaros que cantam, nas flores e nos animais. Se estivermos atentos ao silêncio, será fácil orar. Há tanta tagarelice, coisas repetidas, coisas escusadas naquilo que dizemos e escrevemos. A nossa vida de oração é afectada porque o nosso coração não está silencioso. Vou manter com mais cuidado o silêncio no meu coração, para que, no silêncio do meu coração, oiça as suas palavras de consolação e, a partir da plenitude do meu coração, possa consolar Jesus escondido no infortúnio dos pobres.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Vitorino Nemésio, Dois poemas de Natal

NATAL CHIQUE

Percorro o dia que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na minha pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.




NATAL DAS ILHAS
Natal das Ilhas. Aonde
O prato do trigo novo,
A camélia imaculada,
O gosto no pão do povo?
Olho, já não vejo nada.
Chamo, ninguém me responde.

Natal das Ilhas. Serão
Ilhas de gente sem telha,
Jesus nascido no chão
Sobre alguma colcha velha?

Burra de cigano às palhas,
Vaca com língua de pneu,
Presépio girando em calhas
Como o eléctrico, tu e eu.

Natal das Ilhas. Já brilha
Nas ondas do mar de inverno
O menino bem lembrado,
Que trouxe da sua ilha
O gosto do peixe eterno
Em perdão do seu passado.
      
Vitorino Nemésio, Sapateia Açoriana
      

domingo, 15 de dezembro de 2013

"Partiu de Madrugada" de Mafalda Arnauth

Mafalda Arnauth


A nova produção discográfica da cantora, saiu recentemente. 
O CD dá pelo nome de "Terra da Luz ".

Esta faixa é genial. Adoro-a.




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Faro/Farol de Fisterra

Faro de Fisterra









É, por causa dos seus naufrágios, conhecido como o Cabo da Morte. Em galego diz-se Fisterra, em castelhano Finisterre. Comarca e concelho [ver aqui]
No lugar, onde os romanos encontraram um altar de culto ao Sol,  a vista deslumbrante, eis o farol, e o caminho estreito até ele, incluindo o formigueiro de turistas. Nada que seja incomum. Mesmo até uma "pinchagem" da ETA numa das paredes parece estar devorada pela força natural da paisagem.



A particularidade é, naquele local, terminar verdadeiramente o caminho de Santiago. Antes da viagem de Colombo supunha-se que ali terminava o Mundo. Depois os Portugueses deram novos mundos ao Mundo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Fotos raras

Van Gogh aos 13 anos


Torre de Belém, Lisboa, 1920

Pintando a Torre Eiffel, 1932

Barack Obama e seu avô



Expedição militar no Pólo Norte

domingo, 8 de dezembro de 2013

Banda do Casaco, uma banda a retomar

A Banda do Casaco foi um projecto musical concebido em 1973. Lugar único de liberdade e experimentação musical onde partindo de um universo pop, de influências da música tradicional portuguesa, da sátira e do humor se criou um mundo novo,em que a crítica social não foi descurada.


Do album "Contos da Barbearia", EMI, 1978 (na impossibilidade de colocar as canções directamente, aqui ficam alguns links para as mesmas no youtube).


Na cadeira do barbeiro                   http://youtu.be/CBzyFWOg6gA

A noite passada em caminha          http://youtu.be/uL36qbRmk0s

O diabo da velha                             http://youtu.be/3enOgeEgdxQ

O enterro do tostão                         http://youtu.be/XxXgHUvxlsg

Malfamagrifada                               http://youtu.be/xKHsyfBMXkg

Zás! Pás! (O Casório do Trolha)      http://youtu.be/_v8FxL3C6yU

Godofredo cheio de medo              http://youtu.be/3y1j3pZBwZk 
    


  

8 de Dezembro, Imaculada Conceição

8 de Dezembro, Dia da Imaculada Conceição, Rainha de Portugal



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Dürer e Wittgenstein


Albrecht Dürer, Retrato de homem com 95 anos - 1521
Gosto de pensar que este velho de 95 anos desenhado por Albrecht Dürer (1471-1528) em 1521 pensa no futuro, mais que na vida vivida. Do que viveu terá aprendido o que mais tarde lapidarmente Wittgenstein escreveu:
6.373.       O mundo é independente da minha vontade.
6.374.        Ainda que tudo o que desejamos acontecesse, isto seria apenas, por assim dizer uma graça dada pelo destino, uma vez que não existe uma conexão lógica entre a vontade e o mundo que a garantisse, e a suposta conexão física também não a poderíamos por sua vez desejar.
5.1361.     Não podemos inferir os acontecimentos futuros dos acontecimentos presentes.
A crença no nexo causal é a superstição.
5.1362.     O livre arbítrio consiste no facto de as acções futuras não poderem ser conhecidas no presente. Só poderíamos conhecê-las se a causalidade fosse uma necessidade interior, como a da inferência lógica. — A conexão entre o saber e o que se sabe é a conexão da necessidade lógica.
Ludwig Wittgenstein (1889-1951) in Tratado Lógico-Filosófico com tradução de M. S. Lourenço

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A.M. Pires Cabral




A. M. Pires Cabral
da sequência «Ao contrário de Juan de Yepes»
in COMO SE BOSCH TIVESSE ENLOUQUECIDO,
João Azevedo Editor, Mirandela, 2003

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Restauração de Portugal no dia 1 de Dezembro de 1640

A Restauração foi um movimento histórico que levou Portugal à independência no 1 de Dezembro de 1640.
A morte de D. Sebastião (1557-1578) em Alcácer-Quibir, apesar da sucessão do Cardeal D. Henrique I (1578-1580), deu origem a uma crise dinástica. Nas Cortes de Tomar de 1580, Filipe II de Espanha é aclamado rei de Portugal (Filipe I de Portugal).
Filipe I e os seus sucessores, Filipe II e Filipe III, não respeitaram o que tinha ficado combinado nas Cortes de Tomar.
Os impostos aumentavam; a população empobrecia; os burgueses ficavam afectados nos seus interesses comerciais; a nobreza estava preocupada com a perda dos seus postos e rendimentos; o império português era ameaçado por Ingleses e Holandeses e os reis filipinos nada faziam.
Durante sessenta anos Portugal sofreu o domínio filipino. No dia 1 de Dezembro de 1640, os Portugueses restauraram a sua independência e D. João IV foi aclamado rei de Portugal.
Assim se iniciou a 4.ª Dinastia, a Dinastia de Bragança ou Brigantina.

Hino da Restauração (1640)

Portugueses celebremos
O dia da Redenção
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

A Fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.

P'rá frente! P'rá frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.

Ávante! Ávante!
É voz que soará triunfal
Vá ávante mocidade de Portugal!
Vá ávante mocidade de Portugal!

Este vídeo representa a evolução das bandeiras que Portugal já teve, da primeira à actual



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Lully, Te Deum


                                Vincent Dumestre & Poème Harmonique


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nos 7 anos da morte de Mário Cesariny

TERÇA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2013


Mário Cesariny § 9/08/1923 -  26/11/2006


YOU ARE WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte    violar-nos    tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas    portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precípicio

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida    há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

in «A Única Real Tradição Viva — Antologia de Poesia Surrealista Portuguesa» (organização de Perfecto E. Cuadrado).



ALEGORIA DO MUNDO NA PASSAGEM DE ARNALDO DE VILLANOVA

Ouro trigo leão e prata e crina
te esperam sob o vaso menstrual
Separarás primeiro a água e a mina
porque a Água não é um mineral

No coágulo te espera areia fina
e sob a areia planta sideral
que ao manto do Rei Verde se combina
porque a Planta não é um vegetal

Ao homem cabe o Ouro de buscá-lo
E a sua cria       morta ou imortal
tirá-la-ás do ventre de cavalo
porque o Homem não é um animal

E se o espelho de cobre te fascina
se te aparece o Monstro do Umbral
que à ígnea terra o astro abismo ensina
e nas trevas afunda       o Bem e o Mal

Reduz expurga fende e ilumina
e com espada de fogo talha e inclina
porque o Fogo não é o seu sinal


Mário Cesariny, in «Uma Grande Razão — os poemas maiores», ed. Assírio & Alvim.

Lisboa em Pessoa

Exposição “Lisboa em Pessoa” aterra no Aeroporto de Lisboa


“Lisboa em Pessoa” é uma exposição que assinala o 125º aniversário de Fernando Pessoa, organizada pela Casa Fernando Pessoa/EGEAC, que faz referência aos lugares e aos escritos que relevaram da relação do poeta com a cidade. Trata-se de uma exposição bilingue que coincide com o III Congresso Internacional Fernando Pessoa, que terá lugar em Lisboa nos dias 28, 29 e 30 de Novembro. A partir de dia 27 de Novembro.
Às 12H, na área pública de chegadas – Abertura e visita guiada com Inês Pedrosa – Directora Casa Fernando Pessoa.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

126.º Aniversário de nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso

  Celebrou-se no dia 14 de Novembro, o 126.º aniversário do nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso, um dos principais pintores do nosso modernismo. Activo durante um período de aproximadamente 14 anos, a sua obra acabou por marcar a pintura portuguesa e europeia do século XX. Apesar de ter viajado pelo mundo e frequentado os ciclos parisienses, onde privou de perto com a vanguarda artística europeia, Amadeo jamais perdeu a sua matriz, ou esqueceu as suas raízes, conseguindo um perfeito equilíbrio entre a tradição e o modernismo.
Fecundadas pelas outrora milagrosas águas do Tâmega, as terras amarantinas foram berço de inúmeras personalidades ligadas à nossa pintura, música, literatura, poesia, fotografia e pensamento filosófico. António Cândido, Teixeira de Pascoaes, António Carneiro, Acácio Lino, Eduardo Teixeira Pinto, ou Agustina Bessa-Luís, são apenas algumas das figuras ilustrativas do génio criador português, que nasceram em terras de S. Gonçalo, numa região então pouco urbanizada e fortemente voltada para a terra e o seu trabalho.
Amadeo de Souza-Cardoso foi outra dessas personalidades naturais daquela região, tendo nascido em Manhufe, concelho de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Apesar de oriundo de um meio pequeno, a condição dos seus pais como reconhecidos produtores vinícolas permitiu-lhe estudar e alimentar a sua precoce vocação artística, inicialmente associada à caricatura. Uma arte que desenvolveu durante as estadias em Espinho, durante a época balnear, onde conheceu Manuel Laranjeira, com quem haveria de travar uma amizade bastante forte e duradoura.
  A sua formação artística levou-o até Lisboa em 1905, onde frequentou o curso preparatório de desenho na Real Academia de Belas-Artes. Um ano depois, no dia em que perfez 19 anos, o jovem Amadeo partiu para Paris, com intenção de estudar arquitectura na École des Beaux-Arts, iniciando assim uma das mais brilhantes e fascinantes carreiras artísticas da arte portuguesa do século XX.

Amadeo de Souza-Cardoso

A internacionalização
  O seu primeiro contacto internacional dá-se com a chegada a Paris, onde se instalou em Montparnasse, juntamente com um outro jovem artista que o acompanhou desde Portugal – Francis Smith. De imediato Amadeo passou a frequentar ateliers de pintura, bem como exposições e locais de convívio entre artistas, desbloqueando e estimulando a sua crescente criatividade. Sentindo uma constante necessidade de descoberta e experimentação, este artista português começou a explorar outras formas de expressão para além da caricatura, destacando-se também na ilustração e, obviamente, na pintura.
 Colocando de parte qualquer intenção de estudar arquitectura, Amadeo abraça definitivamente a sua carreira artística em meados de 1908. O mesmo ano em que conhece em Paris Lucie Meynardi Pecetto, sua eterna companheira, com quem haveria de casar-se anos mais tarde na cidade do Porto. A partir de 1910, ano em que “Le Figaro” publicou o “Manifesto Futurista” de Marinetti, Amadeo começou a estabelecer ralações de grande amizade com alguns artistas como Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi e Alexander Archipenko. As suas exposições vão-se sucedendo, assim como as suas viagens, levando a que o nome de Amadeo de Souza-Cardoso fosse ficando cada vez mais conhecido entre os círculos artístico-culturais europeus.


                                     Amadeo e Lucie no atelier da Rue Ernest Cresson, n.º 20, em Paris (1913).


A recepção da sua obra
  Em 1911, foi inaugurada uma exposição de Amadeo e Modigliani, no próprio ateliê do artista português, situado nas imediações de Quai d’Orsay, iniciando-se um período bastante activo no que concerne a mostras do seu trabalho e respectivo reconhecimento junto dos críticos e do público internacional. Amadeo passou a expor em França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos da América e Portugal. Bastante apreciados, os seus quadros eram igualmente muito procurados pelos coleccionadores de arte, o que indicia bem o seu sucesso.
  Não obstante a vasta aclamação internacional, a sua obra foi repudiada pelo público português, valendo-lhe uma série de apupos e insultos nas exposições que realizou nas cidades do Porto e Lisboa, assim como uma agressão que o deixou incapacitado por algumas semanas. Durante esse período, animado pelo apoio recebido por personalidades como Teixeira de Pascoaes e Almada Negreiros, Amadeo continuou a criar a partir do isolamento do seu atelier, entre as montanhas de Manhufe.
Impossibilitado de regressar a Paris durante o período da I Guerra Mundial, Amadeo envolveu-se em alguns projectos editoriais com Almada Negreiros, intercalando os momentos de criação artística com os habituais passeios a cavalo e a caça.


A imortalidade conquistada
  Amadeo de Souza-Cardoso faleceu precocemente a 25 de Outubro de 1918, vítima da malfadada gripe espanhola, contando apenas 30 anos de idade. Mas essas três décadas de vida revelaram-se suficientes para deixar uma extensa obra e conquistar um lugar na História.
  Apesar de nunca ter pertencido oficialmente ao Orpheu, ficou para sempre associado àquele grupo e a nomes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor, Luís de Montalvão, Raul Leal, Armando Côrtes Rodrigues, ou António Ferro, em virtude da sua colaboração com um desenho feito para o terceiro número daquela revista, entretanto não publicado.
  Os seus trabalhos integravam na generalidade os motivos tradicionais nas diversas gramáticas modernistas perfilhadas por si, revelando uma originalidade sem precedentes na história da nossa pintura. O reconhecimento de Amadeo em Portugal, como em tantos outros casos, acabou por chegar tarde, já após o seu desaparecimento. Neste caso, deve-se ao SNI a sua entronização cultural, que tomou uma série de medidas destinadas a celebrar a obra deste importante artista nacional. Repondo-se assim a justiça, a sua marca nos panoramas culturais nacional e internacional acabaria por coroar a memória deste insigne artista português, tão admirado e respeitado hoje, aquém e além-fronteiras.

Amadeo - Canção popular — a Russa e o Figaro (1916)

                                                                        Amadeo de Souza Cardoso - Zinc (1917)



Amadeo, Caixa registadora (1917)

Amadeo de Souza Cardoso - Cozinha da Casa de Manhufe (1913)


Amadeo de Souza Cardoso - Obra sem título (1917)


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Uma exposição a não perder!


Um antigo lugar do dinheiro, um Banco, é agora o santuário de um dos mais importantes conjuntos de pintura portuguesa do século XVI. Não fosse a arte uma forma superior de riqueza! Descodificando, as instalações sadinas do antigo Banco de Portugal acolhem, desde 15 de Setembro, data de nascimento do poeta Bocage, uma nova galeria municipal recheada com alguns dos Tesouros do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.
As deslumbrantes pinturas do retábulo quinhentista (*), produzido entre 1519 e 1530, foram dispostas em dois planos (ver foto) numa montagem aproximada ao que seria a sua colocação original em três alturas na capela-mor da Igreja de Jesus de Setúbal. Ocupam o espaço mais nobre e amplo das instalações do antigo Banco, agora galeria municipal, com acesso a partir da avenida Luisa Todi. A sua contemplação é obrigatória nesta visita, quase nos deixando sem fôlego!
Tesouros do Museu de Setubal
Podemos ainda revisitar, em dependências laterais, alguns exemplares das coleções do (encerrado) Museu de Setúbal. Da pintura dos séculos XV a XX à escultura, representadas por autores com referência à cidade do Sado como João Vaz, Francisco Augusto Flamengo, Fernando Santos, Le Mattre de Carvalho, Álvaro Perdigão, Pedro Carlos dos Reis, Carlos Dutra. Passando por diversos exemplares de ourivesaria sacra. Ocasião quase única para rever algumas das obras à guarda do Museu de Setúbal.

Permita-se-me ainda destacar a breve mostra de várias intervenções arqueológicas efectuadas pelos serviços municipais, quer no próprio Convento de Jesus, quer noutros espaços, como frente à antiga Igreja de Nossa Senhora da Anunciada (actuais instalações da CARITAS Setúbal) ou no antigo Recolhimento da Soledade. Uma mostra que muito esclarece sobre aspectos menos conhecidos da história local de Setúbal.
Desde o encerramento do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, nos anos noventa do século passado, que as pinturas do retábulo quinhentista se encontravam instaladas numa edificação anexa ao antigo balneário Doutor Paula Borba, próxima do convento. O acesso do público não era o melhor, tal como as crescentes dificuldades em assegurar as condições ambientais adequadas à conservação de tão valiosas obras.
É pois uma mudança de localização que se saúda vivamente. Ficando-se a aguardar que o Museu de Setúbal reabra as suas portas ao público aquando da prevista recuperação do Convento de Jesus – uma das mais aguardadas e merecidas obras de que Setúbal carece e para que se divisa uma luz ao fundo do túnel.
Com a abertura da nova Galeria Municipal – no agora em recuperação edifício do antigo Banco, um exemplar da arquitectura financeira de estilo Arte Nova – e as renovações do Mercado do Livramento, do antigo quartel do RI 11 (actual Escola de Hotelaria e Turismo), do Fórum Municipal Luísa Todi e do antigo Recolhimento de Nossa Senhora da Soledade (séc. XVIII, actual Casa da Baía) a principal avenida de Setúbal passa a dispor de um importante conjunto de equipamentos de usufruto público.
Exposição Tesouros do Museu de Setúbal, na Galeria Municipal do antigo Banco de Portugal, à avenida Luísa Todi. Uma visita imperdível!
________________
* “O antigo Retábulo da Igreja, composto por catorze tábuas (pinturas a óleo sobre madeira de carvalho, de grandes dimensões) da Escola Portuguesa é considerado um dos mais notáveis conjuntos da arte do Renascimento em Portugal. Foi encomendado pela rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel, tendo sido executado provavelmente, entre 1519 e 1530, pela oficina de Lisboa de Jorge Afonso onde trabalharam, por exemplo, Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e Gaspar Vaz. O Retábulo tem representadas três histórias ou séries, no sentido iconográfico: Cenas da Paixão de Cristo, na parte superior do conjunto, «Verónica»«Crucificação»,«Deposição»«Ressurreição»; com o «Calvário» ao centro (tábua de maiores dimensões); por baixo, a série representativa da Infância de Jesus ou das Alegrias da Virgem, «Presépio»«Adoração dos Magos»«Apresentação do Menino no Templo», tendo como painel central a «Assunção» (tábua de dimensões semelhantes das do«Calvário»); por fim, formando como que uma predela, a série dos Santos Franciscanos, «Estigmatização de S. Francisco»«Mártires de Marrocos»«Aparição do Anjo a Santa Clara, Santa Inês e Santa Coleta» e a tríade «S. Boaventura»«Santo António» e «S. Bernardino de Siena».” In Centro Nacional de Cultura