quinta-feira, 28 de março de 2013

5ª.-feira Santa


Na Quinta-feira Santa, recordamos a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. Na celebração da Ceia do Senhor, o gesto do lava-pés nos convida à humildade e ao serviço e nos lembra do mandamento que Cristo nos deixou. Depois de lavar os pés de seus apóstolos. Ele proclama: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos ao outros assim como Eu vos amei” (Jo 13,34).

terça-feira, 26 de março de 2013

M a Z g a N i

»  Mazgani
Sharyhar Mazgani -
Grande músico e compositor
português de origem iraniana.
 
     »              Strong & Holy
 
 
»  Distant Gardens                        
                      (a new song)

O Grifo






Grifo - Com origem no Médio Oriente, onde frequentemente se esculpiam com corpo de leão, tinha um bico de águia e era dotado de asas. O seu nome, em grego, significa "recurvado", como alusão ao bico curvo de águia e às garras de leão. Na Grécia antiga, este ser foi também associado a Apolo Sauróctono e aparecia a seu lado, por vezes, em substituição do cisne. Fazia seu ninho perto de bolcacas (nome usado para o ninho do grifo conforme a mitologia grega) e punha ovos de ouro sobre ninhos também de ouro. Outros ovos são frequentemente descritos como sendo de ágata.
 A figura do grifo aparentemente surgiu no Oriente Médio onde babilónios, assírios e persas representaram a criatura em pinturas e esculturas. A sua ligação à Pérsia e a presença de parte do corpo de um animal relacionado com o Céu como a águia e de um outro estreitamente conotado com a terra como o leão fez com que se associasse tanto aos magos persas, símbolo da sabedoria das coisas terrenas e celestes, como ao sincretismo dos poderes terreno e sobrenatural num só governante. Com o advento do Cristianismo, este sincretismo passou a simbolizar a união das duas naturezas de Jesus Cristo na sua pessoa.
 Voltaire incluiu na sua novela, A Princesa da Babilónia, dois enormes grifos amigos de uma fénix, que transportaram a princesa na sua viagem. Na Grécia acreditava-se que viviam perto dos hiperbóreos e pertenciam a Zeus. Filóstrato, escritor grego, referiu, na Vida de Apolônio de Tiana (livro VI. I), que os grifos da Índia eram guardiões do ouro. John Milton, no Livro II do Paraíso Perdido escreveu sobre os Arimaspos que se tentavam apoderar do ouro dos grifos.



                                                                                «»
  
                                                                                »«
              



 Também foi referido na poesia persa de Rumi. Na Idade Média Sir John Mandville escreveu sobre estes animais fabulosos no capítulo XXI do seu célebre livro de viagens, o qual grande parte dele foi escrito pelo mesmo autor do Kama Sutra. Em tempos mais recentes, sua imagem passou a figurar em brasões pois aparentemente possui muitas virtudes e nenhum vício. Os grifos são inimigos mortais dos basiliscos.
 Como diversos animais fantásticos, incluindo centauros, sereias, a fénix, entre outros, o Grifo simboliza um signo zodiacal, devido ao senso de justiça apurado. O facto de valorizar as artes e a inteligência e o facto de dominar os céus e o ar, simboliza o signo de libra, a chamada balança.    

  Os grifos podem cruzar-se com éguas. A esse cruzamento damos o nome de hipogrifo, mas tais cruzamentos são, de forma, raros. Também são retratados em moedas, por exemplo, na lira italiana tem, entre outros desenhos, o de um grifo.
Os grifos são possíveis confusões de fósseis de Protoceratops, dinossauros ceratopsídeos que viviam na Mongólia.
        Os grifos eram seres guardiães, que se cria guardarem tanto a cratera de vinho do deus Dioniso como o tesouro de Apolo situado no país dos Hiperbóreos, na Cítia (apontando-se por vezes, como alternativas a esta localização, a Índia ou a Etiópia), objectivo das constantes investidas dos Arimaspes. Também no Norte da Índia surgiram lendas relativas à intervenção dos grifos na procura do ouro, criando obstáculos aos pesquisadores. Aparecem referências a estes seres em obras como o Prometeu Agrilhoado, de Ésquilo, na qual denomina os grifos de "cães de Zeus". Durante a Idade Média, o grifo marcou presença nos bestiários e nas suas transposições para a escultura da pedra, em igrejas e catedrais.


domingo, 24 de março de 2013

Et in Arcadia ego

                        
 Esta pintura  (1637) descreve três pastores e uma pastora a lerem a inscrição: Et in Arcadia Ego. Desta vez, o ambiente é tranquilo e "pastoral".

                                               Os Pastores da Arcádia de Nicolas Poussin (1637)



  O poeta Jacopo Sannazaro, nascido em 1458 em Nápoles, e autor do trabalho pastoral "Arcadia"  é considerado por muitos críticos de arte como a fonte  na qual Nicolas Poussin encontrou sua inspiração para a sua segunda pintura dos Pastores da Arcádia.
No seu poema épico "Arcadia", ele escreve acerca de um túmulo construído por Meliseu para sua amada Filla.
  Esta secção do poema é uma reminiscência do lamento de Fílis,  que tinha casado com Demofonte após seu retorno da guerra de Tróia. Quando ele deixoulis para ajudar seu pai, sua irmã deu-lhe um caixão com o sacramento da Reia. O túmulo era apenas para ser aberto se ele fosse incapaz de voltar. Reia é a mãe dos deuses e mais tarde foi fortemente associada com Cibele (deusa mãe) e com Gaia (Terra Deusa). Na Arcádia, ela está ligada a vários rios, onde tomava banho, depois de dar à luz a Zeus.
   Seus principais centros de culto eram em Arcádia e Creta. Seu nome significa fluxo e facilidade; ela representa o fluxo eterno do tempo e sua (re)generação. (O tempo era medido em eras, o ciclo acontecia quando a cada 2150 anos o sol "morria" e, em seguida, subia uma vez mais numa nova constelação.)
  Próximo à nascente do rio Alfeu existe um templo dedicado a Reia.
  Na canção 12 dos pastores da "Arcádia" de Sannazaro, uma história se conta de dois pastores, Barcinio e Summonzio, que lamentam a história trágica de seu amigo Meliseu, o qual lamenta a perda de sua amada Filla, que morreu nas proximidades. Summonzio diz que Meliseu tinha gravado seu nome em pedras incontáveis ​​na mata e, finalmente, constrói uma tumba para sua amada.
Barcinio recita de memória um verso:
 «Eu vou fazer o teu túmulo famoso e renomado entre o povo rústico.
  Pastores virão das colinas da Toscana e Ligúria adorar este canto do mundo apenas porque tu moraste aqui uma vez.
  E eles deverão ler no belo monumento quadrado a inscrição que arrepia meu coração em todas as horas, que me faz sufocar de tanta tristeza em meu peito »
 «Ela que sempre se mostrou tão arrogante e ríspida para Meliseo agora está enterrada, mansa e humilde, nesta pedra fria».
  A personagem do poema, Sincero, deixou Nápoles para alimentar em Arcádia sua intensa dor de um amor decepcionado, apenas para ser assombrado pelos contos melancólicos dos pastores. Depois de ter tido um pesadelo, voltou por meio de um túnel para Nápoles (túmulo de Virgílio)? ao descobrir que sua amada havia morrido.
 Na vida real, isso tinha acontecido com Sannazaro quando voltou para Nápoles para emendar um rompimento com sua amada, apenas para descobrir que durante a sua ausência ela tinha morrido.
Et in Arcadia Ego: Mesmo na Arcádia eu existo.


                                                          Guercino, Et in arcadia ego
  A leitura da inscrição em todas as três pinturas dos pastores e os efeitos que tem sobre eles, implica que algo de grande magnitude ocorreu. Na pintura da obra de Guercino e na primeira obra de Poussin sobre o assunto, os pastores parecem "ansiosos e melancólicos".
No outro mais recente trabalho de Poussin o clima mudou, passado é o ar de contemplação melancólica. Em essência, os pastores "caíram" do Paraíso, algo comparável ao comer da maçã por Eva no Éden.
 O pecado original causado por seu frívolo desprezo da ordem de Deus, consolida o papel de segundo lugar da mulher nas sociedades judaico-cristãs-islâmicas.

  Na segunda pintura de Poussin dos Pastores da Arcádia, a leitura da inscrição é recebida com grande interesse, quase como um presente. ... ...”Sangue do Eden “....
  A mensagem central da pintura é que homens e mulheres estão ombro a ombro no mundo como iguais, capazes de experimentar o amor, a alegria, a angústia, a morte e o ódio; livres para perseguir a busca do conhecimento ........ humanidade consciente da sua própria mortalidade e responsável de seu próprio destino.
  O dom maldito de conhecimento no Éden; parece bem-vindo na Arcadia.




  Para explorar as ideias que estão ligadas ao tema "Rennes le Chateau e os Pastores da Arcádia", ver:


Uma foto do Norte de Portugal


Palácio de Mateus

 
 

sábado, 23 de março de 2013

Andrei Tarkovski - Um pequeno tributo

Andrei Tarkovski


   A. Tarkovski,  Andrei Rublev - Scene 4 - The Passion (see in youtube)                                               

                                               
Andrei Rublev (Andrei Tarkovsky, 1966) might be considered the Mount Everest of spiritual film. It is intimidating, imposing, remote, yet sooner or later every cinephile with an interest in exploring the furthest reaches of faith and art will mount an inevitable expedition. For those who persevere, the film yields an extraordinary perspective on the world below.
The director’s quasi-autobiographical film conveys the near impossibility and apparent futility of the artist’s task in the face of suffering and upheaval. Overwhelmed by and even implicated in the horrific violence of Tartar invasions and ongoing bloody clashes between warring Russian princes – the protracted birth pains of modern Russia – the nation’s greatest artist struggles with the legitimacy of his work, questioning whether art-making could possibly server the glory of God in such circumstances.
Andrei Tarkovsky was himself a Christian, and it is easy to read the film as the testimony (protest?) of an artist believer under the repressive Soviet regime of the early 1960s. Its subtitle suggests his personal identification with the travails of the great Russian iconographer, and may explain why the film was shown only briefly in Moscow in 1966 before being shelved for three years. A single covert out-of-competition screening at the Cannes Festival introduced this austere, obscure masterpiece to the world, and its mystique grew until bemused London audiences were finally able to view a 140 minute cut in 1973. They assumed that this elliptical pageant, moving almost at random through a quarter century of medieval Russian history in a series of barely connected scenarios of brutal violence and obscure theologizing, interrupted by sudden and unannounced fantasy sequences, must have been rendered unintelligible by Soviet censors.
Such challenges did not originate with the bureaucrats. Far more complete versions screened in the ensuing three and a half decades, each successive release only adding to the film’s narrative and thematic challenges. Tarkovsky’s subsequent films all confirm the artist’s lack of interest in conventional narrative and his unwillingness to diminish the mysterious complexities of the images he places on screen. Indeed it might be said that his central preoccupation is Mystery, that he fiercely resists any steps toward simplification or clarity that might diminish his ability to evoke that quality on film. In his aesthetic manifesto Sculpting In Time, Tarkovsky himself writes that his masterpiece “strikes me as disjointed and incoherent”: he calls it “a complete mystery, the riddle of my life.”
It was only during my second viewing that I started even to appreciate this daunting, opaque film. It took a third time through (with two friends who had never met, each of whom counted this their uncontested favorite film) to begin actually to like it. But it was only after working my way through the film scene-by-scene, followed a fifth complete viewing, that the power of Andrei Rublev truly took hold of me, and I came to share my friends’ enthusiasm. I can’t understand why the film didn’t speak to me when first I encountered it, it lives so close to the central concerns of my life. In all its mystery and concreteness, Tarkovsky’s masterpiece has become essential to my faith, speaking as no other film does to my understanding of the place of my art in the world, and in the kingdom of God. And in no way that I can express in words, it reassures and strengthens my resolve to face the inevitability of suffering that comes to every human life.


A criação do sino, como conquista da auto-realização e signo do aprendiz que finaliza o seu aprendizado

sexta-feira, 22 de março de 2013

Um poema de Eduardo Aroso

 
Mosteiro dos Jerónimos  

(36 anos depois da 1ª edição de «História Secreta de Portugal»,
de António Telmo)


No sepulcro fundo
Esquecido do tempo,
Sopra a memória
Suave do vento.
A Hora é sempre
Nossa e viva.
A viagem que lavra
Do Alto é vista.
A pedra resiste
Desperta,
Vigilância extática
Alerta.
Se o profano
Grita,
O arcano
Rectifica.
 
Março de 2013
Eduardo Aroso

quinta-feira, 21 de março de 2013

Natália Correia no dia Mundial da Poesia e da Floresta

No dia Mundial da Poesia, hoje, 21 de Março, este poema de Natália Correia sobre Inês de Castro, aquela de quem Camões disse: "...mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha...".


Até ao fim do Mundo                                              
                                                                                                             
Era pedra e sobre essa pedra
Ergueu-se o templo do amor atroz.                          
Ele de fogo, ela a cordeira
Toda cordura chamando o algoz.

Sangram as tubas: Inês é morta!
Em meigo mito transmuta-a o pranto
Do ermo amante que erra sozinho
No seu deserto de diamante.

Nem ar sangrento buscam seus olhos
Do corpo amado desfeitas pérolas;                     
E como fera coro os ossos                 Natália Correia
Da formosura que ao alto o espera


E em desatino da paixão lusa,
Perdida a alma que em Inês tinha,
O fim do mundo ficou esperando
Aos pés da morta, sua rainha.

Joan of Arc by Mr.L. Cohen

                                           » Sing by Jennifer Warnes & Leonard Cohen,
                                         celebrando a mulher de que passou o 6º. centenário
                                         do nascimento em 6 de Janeiro de 2012.

                                                  
Luis Dufaur

  Em 6 de janeiro de 2012 comemorou-se o sexto centenário do nascimento de Santa Joana d’Arc na hoje quase esquecida aldeia de Domrémy-la-Pucelle em 1412, na França.
  Pastorinha chamada por Deus para realizar um feito sem igual no Novo Testamento, ela restaurou a França, país então sem esperança, arruinado pelo caos político-religioso e ocupado em larga medida pelos ingleses. Reinstalou no trono o rei legitimo e levou à vitória seus desanimados exércitos.
  Considerada como profetisa do Novo Testamento, a santa gravou o nome de Jesus na bandeira com que conduzia as tropas ao combate. Dois séculos e meio depois, o Sagrado Coração viria pedir a Luis XIV, rei da França, mediante aparição à vidente Santa Margarida Maria Alacoque, que gravasse sua imagem nas bandeiras reais.
  Aprisionada por ocasião de uma escaramuça, Santa Joana d’Arc foi julgada por um tribunal iníquo que a condenou a ser queimada como bruxa na cidade de Rouen, em 1431. Hoje, porém, a história da santa, canonizada em 1920, faz vibrar o mundo.
  Muitos eclesiásticos e inúmeros de seus devotos estão certos de que sua missão não terminou. Pelo contrário, que a santa vai continuá-la em nossos dias, comandando do Céu a restauração da Igreja e da sociedade temporal. Ideia que explica a incrível retomada de interesse pela Donzela de Domrémy.

terça-feira, 19 de março de 2013

19 de Março - Dia do Pai e de S. José

O Sonho de José
                                                                                          Evangelho segundo S. Mateus 1,18-24.
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.
José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.
Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»
Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta:
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco.
Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa.
 
 Comentário ao Evangelho do dia feito por
Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja
Hino para a Natividade
 
«José, filho de David, não temas»
José beijava
O Filho do Pai celeste
Como recém-nascido,
E servia-O como seu Deus.
Comprazia-se n’Ele
Como na própria bondade;
E reverenciava-O,
A Ele que era o justo por excelência (Mt 1,19).
Grande foi a sua perplexidade!
«Donde me foi dado,
Sendo Tu o Filho do Altíssimo,
Ter em Ti um filho?
Irritei-me com a Tua mãe,
E pensei em rejeitá-la.
Não sabia
Que Ela trazia no seio um grande tesouro,
Que, na minha pobreza,
Me tornava subitamente rico.
«O rei David
Surgiu entre os meus antepassados
E cingiu a coroa.
Como é grande o despojamento
A que cheguei!
Em vez de rei sou operário;
Mas adveio-me uma coroa
Pois no meu coração repousa
O Senhor de todas as coroas».
 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Lêdo Ivo




O poeta Lêdo Ivo morreu este ano, pelo Natal (1924-2012). Dele, ficaram-me no ouvido estes versos absolutos:

« O Sol fulgura no centro da minha noite.
Ao meio-dia, caminho sob as estrelas ».

domingo, 17 de março de 2013

De Eugénio de Andrade

                                                                          
                                                                    
Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.
                                                                                         

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
                             
                                                               
 
Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.
                                                                                                 
O sorriso
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
 
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha
                                           

Ermida das Siglas - Castro Daire


sábado, 16 de março de 2013

Sufi

Tu não vês, ó jovem, a ave na gaiola que canta quando se lembra da sua pátria? É assim que alivia o coração que sofreu Enquanto o corpo e a alma tremem em simultâneo. Passa-se o mesmo, entendes, com a alma dos apaixonados Transportados pela sua paixão na direcção da Beleza celeste. Poderiam ser pacientes, quando ardem de desejo? Como pedir paciência ao que entreviu esta Realidade?

sexta-feira, 15 de março de 2013

Do Livro de Job

»Job:19:25-26
 
King James Version (KJV)
25 For I know that my redeemer liveth, and that he shall stand at the latter day upon the earth:

26 And though after my skin worms destroy this body, yet in my flesh shall I see God

quinta-feira, 14 de março de 2013

Luís de Camões

 Camões


Na fonte está Leonor

Na fonte está Leanor
lavando a talha e chorando,
às amigas perguntando:
vistes lá o meu amor?

VOLTAS

Posto o pensamento nele,
porque a tudo o Amor a obriga,
cantava, mas a cantiga
eram suspiros por ele.
Nisto estava Leanor
o seu desejo enganando,
às amigas perguntando:
vistes lá o meu amor?

O rosto sobre üa mão,
os olhos no chão pregados,

que, do chorar já cansados,
algum descanso lhe dão.
Desta sorte Leanor
suspende de quando em quando
sua dor; e, em si tornando,
mais pesada sente a dor.

Não deita dos olhos água,
que não quer que a dor se abrande
Amor, porque em mágoa grande
seca as lágrimas a mágoa.
Depois que de seu amor
soube, novas perguntando,
d'emproviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!





Cantiga


Descalça vai para a fonte
Leonor, pela verdura;
vai formosa e não segura.


Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai formosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
cabelos de ouro o trançado,
fita de cor de encarnado…
tão linda que o mundo espanta!
chove nela graça tanta
que dá graça à formosura;
vai formosa, e não segura.



Habemus Papam

Francisco
 
     

Eleição do papa faz história e surpreende a todos


14/03/2013
                                Monica Yanakiew
                                                                Correspondente da Agência Brasil/EBC
 
Buenos Aires – A eleição do novo papa fez história e surpreendeu a todos, especialmente aos argentinos. O arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, foi favorito no conclave de 2005, que acabou elegendo o alemão Joseph Ratzinger. Ninguém achava que, oito anos depois, Bergoglio substituiria Ratzinger, que renunciou em meio a denúncias de corrupção e pedofilia na Igreja. Bergoglio é o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano que vai comandar 1,2 bilhão de católicos.
Apesar de Bergoglio ser um dos cotados, desta vez ninguém arriscou. Pesava, acima de tudo, a idade: ele era oito anos mais velho que em 2005, quando o Vaticano optou por um papa que acabou renunciando ao cargo, alegando a idade avançada. Mal o Vaticano anunciou o nome dele, em latim, os argentinos foram à Catedral de Buenos Aires, no centro da capital.
Algumas pessoas choravam sem parar. Outras dançavam com a bandeira argentina, ou rezavam, levantando os rosários. “Sinto tanto orgulho que não sei como me expressar”, disse a contadora Ana Maria Lopez. Ela foi à catedral de Buenos Aires assim que ouviu o nome de Bergoglio na televisão. O arcebispo de Buenos Aires, que se tornou papa, é conhecido por muitos – em bairros ricos e nas favelas, em igrejas e sinagogas.
“Ele vivia do jeito que pregava: andava de autocarro e de metro. Já me cruzei com ele na favela Villa 31, onde moro, mais de uma vez. Não dava muita bola porque não pensava que ia tornar-se papa ”, disse à Agência Brasil o eletricista Barnabas Lopez. “A escolha do nome é simbólica”, lembrou Ana Maria Gonzalez. “Francisco é o santo dos pobres, que denunciou a opulência do Vaticano e foi perseguido por causa disso. Espero que o novo papa Francisco faça uma limpeza na Igreja.
Bergoglio tem fiéis na comunidade cristã (92% dos argentinos são católicos) e na comunidade judaica (a maior da América Latina). No ano passado, participou de uma cerimônia interreligiosa em uma sinagoga, comemorando o Natal e a Hanukkah (festa judaica, também conhecida como Festival das Luzes). Estavam presentes também representantes de religiões afro-americanas, como a umbanda.
 Na Argentina, as opiniões estão divididas. Pesam sobre Bergoglio denúncias de envolvimento no sequestro de dois padres jesuítas, durante a ditadura argentina (1976-1983). Ele teria retirado a protecção eclesiástica. Bergoglio nunca se manifestou sobre o tema até recentemente, quando negou qualquer participação.
  A presidente Cristina Kirchner enviou carta ao novo papa, felicitando-o pela eleição. Num seu discurso, ela pediu que ele interfira para convencer as grandes potências a usar a negociação como meio para resolver as diferenças políticas. Cristina Kirchner disse também que irá à posse do novo papa.

terça-feira, 12 de março de 2013

Jelaluddin Rumi


                                                                                                 
ASSIM                                
                                           

Se alguém lhe perguntar como se desvela
a mais perfeita sensação do gozo,
eleve os olhos e diga
Assim.
E quando alguém mencionar
a graça do céu noturno,
suba no telhado, dance, e diga
Assim?
Se alguém quiser saber o que é
o espírito, ou a essência de Deus,
incline a fronte em sua direção,
mantenha o rosto colado
assim.
E quando alguém evocar a velha poesia
das nuvens que, aos poucos, encobrem a lua,
afrouxe pouco a pouco os nós da túnica.
Assim?
Se alguém quiser saber como Jesus
levantou os mortos das tumbas,
não tente explicar o milagre.
Beije seus lábios.
Assim. Assim.
E quando alguém perguntar
o que é morrer por amor,
faça um sinal
aqui.
Se alguém quiser saber quão alto é,
hesite, e meça com seus dedos
os espaços entre as rugas da sua testa.
Deste tamanho.
A alma às vezes larga o corpo,
e então retorna. Se alguém não acreditar,
volte para a minha morada.
Assim.
Quando os amantes sussurram,
estão contando a nossa
história
Assim.
Eu sou um céu onde espíritos vivem.
Mergulhe neste azul profundo
onde a brisa espalha segredos
Assim.
Quando alguém perguntar
o que há-de se fazer,
acenda a vela em suas mãos.
Assim.
Como o perfume de José
chegou a Jacó?
Shhhhhhh!
E como retornou
o suspiro de Jacó?
Shhhhhhh!
A brisa suave limpa os olhos.
Assim.
Quando Shams retornar de Tabriz,
seu rosto há-de mostrar-se atrás da porta,
e nos surpreenderá.
Assim.

(traduzido por Jaumir Valença da Silveira)

Micah P. Hinson

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domingo, 10 de março de 2013

Pedro Mexia sobre o poeta Daniel Faria

 Daniel Faria: uma obra singular na poesia portuguesa contemporânea.

 
   Licenciou-se em Teologia e em Estudos Portugueses e ingressou no mosteiro beneditino de Singeverga, em Roriz, onde morreu precocemente, aos 28 anos. Em vida, publicou cinco livros de poemas, incluindo, dois fortíssimos, ambos editados pela Fundação Manuel Leão: "Explicação das Árvores e de Outros Animais" e "Homens Que São como Lugares Mal Situados". Postumamente, a mesma fundação publicou "Dos Líquidos". E Vera Vouga, que se ocupou do espólio, organizou a obra completa, incluindo inéditos (Quasi, 2003), volume agora reeditado. As três coletâneas iniciais valem como textos de aprendizagem, e talvez fosse escusado recuperá-las, mas os restantes títulos são absolutamente singulares e resgatam uma poesia "inefável", entendida como vivência íntima, não biográfica nem confessional, como mundo interior, metafísico, verbal. Uma poesia que desafia a paráfrase e a contemporaneidade e que torna "religioso" o espaço poético.
"Explicação das Árvores e de Outros Animais" (1998) organiza-se em torno de «explicações», mesmo quando explica algo que é «inexplicável». Essas explicações são como que provérbios, no sentido bíblico do termo, e não faltam personagens ancestrais, de Jacob e a sua escada para o céu a Lot que vira as costas à destruição. A «explicação» não é um processo racional, é um labirinto do qual se tem de encontrar uma saída (e também a mitologia grega é convocada, com homens angustiados, como Teseu e Sísifo). Nada daquilo que o poeta procura é uma evidência, e são várias as alusões à solidão do catre, à aflição e ao pavor de quem espera não se sabe o quê:
«Não tinha nada donde vim. Aqui não encontrei
O que tive e a cadeira não serve o meu repouso.
Ainda não há lugar no mundo onde possa sossegar de tu não seres
O vazio que persiste à minha beira.»
 
   O   «conforto» da fé mais se parece com um perigo.
Mas onde cresce o perigo cresce também aquilo que salva, como escreveu outro poeta.
Os poemas não escondem uma certa desolação, com a imagem recorrente da pedra, coisa inerte, com os pressentimentos de morte, ou com versos como estes:
                                                                                                 
«O precipício não tem futuro ou desalento
Mas um carreiro que atravessa as giestas e o trevo
Um carreiro que chega ao seu destino
Como a lenha podada ao fogo
A madrugada aos olhos do mocho.
O desamparo não tem as mãos juntas
Mas o peito dividido.»

   As imagens da natureza são indícios:
 
«Depois das queimadas as chuvas
Fazem as plantas vir à tona
Labaredas vegetais e vulcânicas
Verdes como o fogo
Rapidamente descem em crateras concisas/
E seiva
E derramam o perfume como lava.»
 
   O poeta tenta encontrar várias designações para esse mundo inexplicável, algumas metafísicas, como «o aberto», outras mais psicológicas, como uma «nova infância»; a verdade é que no termo de um caminho acidentado, assustador, literalmente dantesco, os textos encontram «uma luz parada no meio da voragem». E assim se chega a um texto chamado “Explicação do Homem”:
 
«Não me verga a velhice nem o peso do crânio
Mas os olhos cansados na dor de te não ver.
O chão tornou-se a última paisagem.
No mais longínquo da terra te levantas
E vejo erguer-se a poeira dos teus pés.»
 
  Em "Homens Que São como Lugares Mal Situados" (1998), os versos tornam-se mais longos, há anáforas, preces, ladainhas, catálogos; as imagens, insólitas e memoráveis, têm um toque "herbertiano". Daniel Faria reivindica uma certa capacidade cristã de compreender «o humano» enquanto categoria, sobretudo na sua infelicidade. E escreve sobre homens que são como lugares mal situados, como casas saqueadas, como caminhos barricados, como esconderijos de contrabandistas, como danos irreparáveis, como sítios desviados, como projetos de casas. Esses homens (e mulheres) usam as personagens bíblicas como exemplos, patriarcas como Abraão, profetas como Elias, amigos como David e Jónatas, mães improváveis como Sara ou Raquel, ressuscitados como Lázaro, quase ressuscitado como Jonas, a mulher adúltera perdoada, o filho pródigo recompensado, e até Zaqueu, que subiu a uma árvore para ver Jesus.
  Mais do que uma poesia "católica", esta é uma poesia "bíblica", porque encontra nas Escrituras todos os «lugares» do humano, todas as tribulações e redenções. Umas vezes, o poeta recria narrativas apocalípticas, em linguagem narrativa e hermética, outras recorre a lamentações confiadas, ao jeito do Eclesiastes:
 
«Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade
(..) Antes que digas não tenho mais prazer
Antes que a noite seja noite e não vejas mais o sol nem as estrelas nem os filhos
Antes que voltem as nuvens depois da chuva como a viuvez (...)
Antes que a tua única herança seja a lembrança
Antes que o fio de prata se rompa e a roldana rebente no poço
Antes de tudo isto
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês.»
 
   Faria descreve-se como um cego que fala do que vê, daquilo que vê num «pensamento» atuante, que transforma, que se transforma. É um «pensamento» que o poeta descreve como uma mecânica violenta, a qual há de ter um motor algures:
 
«Mas tu existes.
Os dias somam ruína à ruína
E o a vir multiplicará
A miséria. 
Apodreço não adubando a terra
E cada dia somado a cada hora
Não completa o tempo.
Sei que existes e multiplicarás
A tua falta.
Somarei a tua ausência à minha escuta
E tu redobrarás a minha vida.»
 
   É uma alegria sofrida, uma certeza magoada, uma plenitude frágil.
O extenso "Dos Líquidos" (2000) assume uma componente mais monacal, mais "mística", com diversas referências a São João da Cruz. Os «líquidos» são o sangue, a água, as lágrimas, ou o coração, a tempestade, as visões, experiências comuns vividas como sinais, como milagres. Faria faz dos textos «meditações» ou «solilóquios», e o imaginário judaico-cristão fornece o vocabulário de «cedros», «candeias» e «sarças». Certos passos soam como comentários bíblicos, e até indicam os livros em que se inspiram, mas nunca são simples variantes dos episódios originais, é o caminho das personagens bíblicas refeito mentalmente, de modo que é o sujeito do poema quem caminha para a terra prometida, quem desmultiplica pães e peixes, quem desenha palavras no pó da terra, quem sobrevive a dilúvios e é atravessado por exércitos. Quando o poeta escreve que ninguém lhe ensinou aquilo, «fui eu que descobri», quer dizer que a experiência poética pode vir da Bíblia mas que a experiência humana é dele. O "grande código" bíblico é uma linguagem poética e metafísica adequada a uma peregrinação humana, aliás mais dorida do que eufórica:
 
«É verdade que estou muito triste/
Na terra (já me indicaram a estrada/
Com luz pública). Estou sentado nos degraus/
Como alguém que parou de subir.»
 
  O Deus de Daniel Faria tanto é velho-testamentário, terrível, como o Deus dos Evangelhos, um Deus que acompanha: «Desataste-nos do pó desfivelando as sandálias/ Tu caminhas sobre os nossos pensamentos.»
  A poesia de Daniel Faria pertence ao seu tempo, porque supõe um vazio ou uma ausência. Mas é também "inatual", e por isso marcante, porque descobre um sentido, um sentido que religa. Faria acreditava que no princípio era o verbo, uma convicção tão religiosa quanto poética: 
 
«É ele que conserva o mecanismo dos pássaros
É ele que move os moleiros quando param os moinhos
É ele que puxa a corda dos bois e a linha
Do céu que assinala os limites dos montes
 
Ele é que eleva o corpo dos santos, é ele
Que amestra o pólen para o mel, ele decide
A medida da flor na farinha
Ele deixa-nos tocar a orla dos seus mantos.»

Pedro Mexia
In Expresso (Atual), 28.7.2012
29.07.12