quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Lully, Te Deum


                                Vincent Dumestre & Poème Harmonique


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nos 7 anos da morte de Mário Cesariny

TERÇA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2013


Mário Cesariny § 9/08/1923 -  26/11/2006


YOU ARE WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte    violar-nos    tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas    portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precípicio

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida    há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

in «A Única Real Tradição Viva — Antologia de Poesia Surrealista Portuguesa» (organização de Perfecto E. Cuadrado).



ALEGORIA DO MUNDO NA PASSAGEM DE ARNALDO DE VILLANOVA

Ouro trigo leão e prata e crina
te esperam sob o vaso menstrual
Separarás primeiro a água e a mina
porque a Água não é um mineral

No coágulo te espera areia fina
e sob a areia planta sideral
que ao manto do Rei Verde se combina
porque a Planta não é um vegetal

Ao homem cabe o Ouro de buscá-lo
E a sua cria       morta ou imortal
tirá-la-ás do ventre de cavalo
porque o Homem não é um animal

E se o espelho de cobre te fascina
se te aparece o Monstro do Umbral
que à ígnea terra o astro abismo ensina
e nas trevas afunda       o Bem e o Mal

Reduz expurga fende e ilumina
e com espada de fogo talha e inclina
porque o Fogo não é o seu sinal


Mário Cesariny, in «Uma Grande Razão — os poemas maiores», ed. Assírio & Alvim.

Lisboa em Pessoa

Exposição “Lisboa em Pessoa” aterra no Aeroporto de Lisboa


“Lisboa em Pessoa” é uma exposição que assinala o 125º aniversário de Fernando Pessoa, organizada pela Casa Fernando Pessoa/EGEAC, que faz referência aos lugares e aos escritos que relevaram da relação do poeta com a cidade. Trata-se de uma exposição bilingue que coincide com o III Congresso Internacional Fernando Pessoa, que terá lugar em Lisboa nos dias 28, 29 e 30 de Novembro. A partir de dia 27 de Novembro.
Às 12H, na área pública de chegadas – Abertura e visita guiada com Inês Pedrosa – Directora Casa Fernando Pessoa.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

126.º Aniversário de nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso

  Celebrou-se no dia 14 de Novembro, o 126.º aniversário do nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso, um dos principais pintores do nosso modernismo. Activo durante um período de aproximadamente 14 anos, a sua obra acabou por marcar a pintura portuguesa e europeia do século XX. Apesar de ter viajado pelo mundo e frequentado os ciclos parisienses, onde privou de perto com a vanguarda artística europeia, Amadeo jamais perdeu a sua matriz, ou esqueceu as suas raízes, conseguindo um perfeito equilíbrio entre a tradição e o modernismo.
Fecundadas pelas outrora milagrosas águas do Tâmega, as terras amarantinas foram berço de inúmeras personalidades ligadas à nossa pintura, música, literatura, poesia, fotografia e pensamento filosófico. António Cândido, Teixeira de Pascoaes, António Carneiro, Acácio Lino, Eduardo Teixeira Pinto, ou Agustina Bessa-Luís, são apenas algumas das figuras ilustrativas do génio criador português, que nasceram em terras de S. Gonçalo, numa região então pouco urbanizada e fortemente voltada para a terra e o seu trabalho.
Amadeo de Souza-Cardoso foi outra dessas personalidades naturais daquela região, tendo nascido em Manhufe, concelho de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Apesar de oriundo de um meio pequeno, a condição dos seus pais como reconhecidos produtores vinícolas permitiu-lhe estudar e alimentar a sua precoce vocação artística, inicialmente associada à caricatura. Uma arte que desenvolveu durante as estadias em Espinho, durante a época balnear, onde conheceu Manuel Laranjeira, com quem haveria de travar uma amizade bastante forte e duradoura.
  A sua formação artística levou-o até Lisboa em 1905, onde frequentou o curso preparatório de desenho na Real Academia de Belas-Artes. Um ano depois, no dia em que perfez 19 anos, o jovem Amadeo partiu para Paris, com intenção de estudar arquitectura na École des Beaux-Arts, iniciando assim uma das mais brilhantes e fascinantes carreiras artísticas da arte portuguesa do século XX.

Amadeo de Souza-Cardoso

A internacionalização
  O seu primeiro contacto internacional dá-se com a chegada a Paris, onde se instalou em Montparnasse, juntamente com um outro jovem artista que o acompanhou desde Portugal – Francis Smith. De imediato Amadeo passou a frequentar ateliers de pintura, bem como exposições e locais de convívio entre artistas, desbloqueando e estimulando a sua crescente criatividade. Sentindo uma constante necessidade de descoberta e experimentação, este artista português começou a explorar outras formas de expressão para além da caricatura, destacando-se também na ilustração e, obviamente, na pintura.
 Colocando de parte qualquer intenção de estudar arquitectura, Amadeo abraça definitivamente a sua carreira artística em meados de 1908. O mesmo ano em que conhece em Paris Lucie Meynardi Pecetto, sua eterna companheira, com quem haveria de casar-se anos mais tarde na cidade do Porto. A partir de 1910, ano em que “Le Figaro” publicou o “Manifesto Futurista” de Marinetti, Amadeo começou a estabelecer ralações de grande amizade com alguns artistas como Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi e Alexander Archipenko. As suas exposições vão-se sucedendo, assim como as suas viagens, levando a que o nome de Amadeo de Souza-Cardoso fosse ficando cada vez mais conhecido entre os círculos artístico-culturais europeus.


                                     Amadeo e Lucie no atelier da Rue Ernest Cresson, n.º 20, em Paris (1913).


A recepção da sua obra
  Em 1911, foi inaugurada uma exposição de Amadeo e Modigliani, no próprio ateliê do artista português, situado nas imediações de Quai d’Orsay, iniciando-se um período bastante activo no que concerne a mostras do seu trabalho e respectivo reconhecimento junto dos críticos e do público internacional. Amadeo passou a expor em França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos da América e Portugal. Bastante apreciados, os seus quadros eram igualmente muito procurados pelos coleccionadores de arte, o que indicia bem o seu sucesso.
  Não obstante a vasta aclamação internacional, a sua obra foi repudiada pelo público português, valendo-lhe uma série de apupos e insultos nas exposições que realizou nas cidades do Porto e Lisboa, assim como uma agressão que o deixou incapacitado por algumas semanas. Durante esse período, animado pelo apoio recebido por personalidades como Teixeira de Pascoaes e Almada Negreiros, Amadeo continuou a criar a partir do isolamento do seu atelier, entre as montanhas de Manhufe.
Impossibilitado de regressar a Paris durante o período da I Guerra Mundial, Amadeo envolveu-se em alguns projectos editoriais com Almada Negreiros, intercalando os momentos de criação artística com os habituais passeios a cavalo e a caça.


A imortalidade conquistada
  Amadeo de Souza-Cardoso faleceu precocemente a 25 de Outubro de 1918, vítima da malfadada gripe espanhola, contando apenas 30 anos de idade. Mas essas três décadas de vida revelaram-se suficientes para deixar uma extensa obra e conquistar um lugar na História.
  Apesar de nunca ter pertencido oficialmente ao Orpheu, ficou para sempre associado àquele grupo e a nomes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor, Luís de Montalvão, Raul Leal, Armando Côrtes Rodrigues, ou António Ferro, em virtude da sua colaboração com um desenho feito para o terceiro número daquela revista, entretanto não publicado.
  Os seus trabalhos integravam na generalidade os motivos tradicionais nas diversas gramáticas modernistas perfilhadas por si, revelando uma originalidade sem precedentes na história da nossa pintura. O reconhecimento de Amadeo em Portugal, como em tantos outros casos, acabou por chegar tarde, já após o seu desaparecimento. Neste caso, deve-se ao SNI a sua entronização cultural, que tomou uma série de medidas destinadas a celebrar a obra deste importante artista nacional. Repondo-se assim a justiça, a sua marca nos panoramas culturais nacional e internacional acabaria por coroar a memória deste insigne artista português, tão admirado e respeitado hoje, aquém e além-fronteiras.

Amadeo - Canção popular — a Russa e o Figaro (1916)

                                                                        Amadeo de Souza Cardoso - Zinc (1917)



Amadeo, Caixa registadora (1917)

Amadeo de Souza Cardoso - Cozinha da Casa de Manhufe (1913)


Amadeo de Souza Cardoso - Obra sem título (1917)


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Uma exposição a não perder!


Um antigo lugar do dinheiro, um Banco, é agora o santuário de um dos mais importantes conjuntos de pintura portuguesa do século XVI. Não fosse a arte uma forma superior de riqueza! Descodificando, as instalações sadinas do antigo Banco de Portugal acolhem, desde 15 de Setembro, data de nascimento do poeta Bocage, uma nova galeria municipal recheada com alguns dos Tesouros do Museu de Setúbal/Convento de Jesus.
As deslumbrantes pinturas do retábulo quinhentista (*), produzido entre 1519 e 1530, foram dispostas em dois planos (ver foto) numa montagem aproximada ao que seria a sua colocação original em três alturas na capela-mor da Igreja de Jesus de Setúbal. Ocupam o espaço mais nobre e amplo das instalações do antigo Banco, agora galeria municipal, com acesso a partir da avenida Luisa Todi. A sua contemplação é obrigatória nesta visita, quase nos deixando sem fôlego!
Tesouros do Museu de Setubal
Podemos ainda revisitar, em dependências laterais, alguns exemplares das coleções do (encerrado) Museu de Setúbal. Da pintura dos séculos XV a XX à escultura, representadas por autores com referência à cidade do Sado como João Vaz, Francisco Augusto Flamengo, Fernando Santos, Le Mattre de Carvalho, Álvaro Perdigão, Pedro Carlos dos Reis, Carlos Dutra. Passando por diversos exemplares de ourivesaria sacra. Ocasião quase única para rever algumas das obras à guarda do Museu de Setúbal.

Permita-se-me ainda destacar a breve mostra de várias intervenções arqueológicas efectuadas pelos serviços municipais, quer no próprio Convento de Jesus, quer noutros espaços, como frente à antiga Igreja de Nossa Senhora da Anunciada (actuais instalações da CARITAS Setúbal) ou no antigo Recolhimento da Soledade. Uma mostra que muito esclarece sobre aspectos menos conhecidos da história local de Setúbal.
Desde o encerramento do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, nos anos noventa do século passado, que as pinturas do retábulo quinhentista se encontravam instaladas numa edificação anexa ao antigo balneário Doutor Paula Borba, próxima do convento. O acesso do público não era o melhor, tal como as crescentes dificuldades em assegurar as condições ambientais adequadas à conservação de tão valiosas obras.
É pois uma mudança de localização que se saúda vivamente. Ficando-se a aguardar que o Museu de Setúbal reabra as suas portas ao público aquando da prevista recuperação do Convento de Jesus – uma das mais aguardadas e merecidas obras de que Setúbal carece e para que se divisa uma luz ao fundo do túnel.
Com a abertura da nova Galeria Municipal – no agora em recuperação edifício do antigo Banco, um exemplar da arquitectura financeira de estilo Arte Nova – e as renovações do Mercado do Livramento, do antigo quartel do RI 11 (actual Escola de Hotelaria e Turismo), do Fórum Municipal Luísa Todi e do antigo Recolhimento de Nossa Senhora da Soledade (séc. XVIII, actual Casa da Baía) a principal avenida de Setúbal passa a dispor de um importante conjunto de equipamentos de usufruto público.
Exposição Tesouros do Museu de Setúbal, na Galeria Municipal do antigo Banco de Portugal, à avenida Luísa Todi. Uma visita imperdível!
________________
* “O antigo Retábulo da Igreja, composto por catorze tábuas (pinturas a óleo sobre madeira de carvalho, de grandes dimensões) da Escola Portuguesa é considerado um dos mais notáveis conjuntos da arte do Renascimento em Portugal. Foi encomendado pela rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel, tendo sido executado provavelmente, entre 1519 e 1530, pela oficina de Lisboa de Jorge Afonso onde trabalharam, por exemplo, Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e Gaspar Vaz. O Retábulo tem representadas três histórias ou séries, no sentido iconográfico: Cenas da Paixão de Cristo, na parte superior do conjunto, «Verónica»«Crucificação»,«Deposição»«Ressurreição»; com o «Calvário» ao centro (tábua de maiores dimensões); por baixo, a série representativa da Infância de Jesus ou das Alegrias da Virgem, «Presépio»«Adoração dos Magos»«Apresentação do Menino no Templo», tendo como painel central a «Assunção» (tábua de dimensões semelhantes das do«Calvário»); por fim, formando como que uma predela, a série dos Santos Franciscanos, «Estigmatização de S. Francisco»«Mártires de Marrocos»«Aparição do Anjo a Santa Clara, Santa Inês e Santa Coleta» e a tríade «S. Boaventura»«Santo António» e «S. Bernardino de Siena».” In Centro Nacional de Cultura

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Fernando Pessoa, poema »Nevoeiro«,


Fernando Pessoa, in Mensagem

Momento com Cecília Meireles

Momento com Cecília Meireles 


Alguns Poemas e um pouco de Mozart



Cecília Meireles (Rio de Janeiro, 1901-Rio de Janeiro, 1964)


   Cecília Meireles foi uma poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Cecília conviveu desde muito cedo com a morte, sendo a única sobrevivente dos quatro filhos de Carlos Alberto de Carvalho Meireles e de Matilde Benevides Meireles. O pai viria a morrer, tinha Cecília três meses, e ainda não tinha completado três anos de idade quando perdeu a mãe. A partir de então ficaria a cargo da avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma senhora açoriana da ilha de São Miguel. 

     Cecília escreveria mais tarde: "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno. (...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade. (...)




Cecília Meireles, por Arpad Szènes


     Em 1939 Cecília Meireles perde o marido, o artista plástico português Fernando Correia Dias. Mais uma vez a morte marca a sua vida, e esse sentimento de transitoriedade de que a poetisa fala, reflete-se nos poemas que escreve, como em “Motivo”.


 Eu canto porque o instante existe/e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,/não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias/no vento.

Se desmorono ou se edifico,/se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico/ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo./tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.

in Viagem (1939)


     A musicalidade deste poema transporta-nos à poesia da música de Mozart. Proponho então que ouçamos, deste compositor, o sublime II Andamento – Andante - do Concerto nº 21, para piano e orquestra.






O Barco Desaparecido, Souza Pinto (Açores, 1856-Bretanha, 1939)


   No poema “Mar Absoluto”, Cecília Meireles expressa as suas raízes açorianas, certamente cultivadas pela avó micaelense que a criou. 


Mar Absoluto
(excerto)

Foi desde sempre o mar,/e multidões passadas me empurravam,
como o barco esquecido.
Agora recordo que falavam/da revolta dos ventos,
de linhos , de cordas, de ferros,/de sereias dadas à costa.
E o rosto dos meus avós estava caído/pelos mares do Oriente, com seus corais e pérolas,/e pelos mares do Norte, duros de gelo.
Então, é comigo que falam,/sou eu que devo ir.
Porque não há ninguém,/tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.
E tenho de procurar meus tios remotos afogados.
Tenho de levar-lhes rezas,/campos convertidos em velas,
barcas sobrenaturais/com peixes mensageiros/e cantos náuticos.
(…)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Nascimento de D. Manuel II a 15 de Novembro

Em 15 de Novembro de 1889 nasceu aquele que foi o último Rei de Portugal Dom Manuel II, filho do Rei Dom Carlos e da Rainha Dona Amélia, sendo baptizado pelo cardeal-patriarca D. José Neto, em 18 de Dezembro de 1889.

Dom Manuel II tinha um especial gosto pelas artes, historia, música e literatura, como o herdeiro directo ao trono seria o seu irmão mais velho Dom Luís Filipe, Dom Manuel II gostaria de ter tido uma carreira ao serviço da marinha o que não veio a acontecer devido ao assassinato do seu pai e seu irmão.

Com o funeral do Rei Dom Carlos e do Príncipe Dom Luís Filipe, assassinados em 1 de Fevereiro de 1908, Dom Manuel II torna-se o 35º Rei de Portugal, aos 18 anos de idade. Durante o seu curto reinado nunca chegou a casar-se e a 4 Outubro de 1910 foi feito um golpe militar. Dom Manuel II foi exilado em Gibraltar a 7 de Outubro do mesmo ano e mais tarde foi para Londres.


Em 4 de Setembro de 1913, Dom Manuel II casou com Dona Augusta Vitoria pelo civil e mais tarde pelo religioso, cerimónia essa que foi presidida pelo antigo cardeal-patriarca de Lisboa D. José Neto, exilado em Sevilha.

A 2 de Julho de 1932, Dom Manuel II, morreu em Londres devido a doença prolongada.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cantiga de amigo de D. Dinis e Eanes Solaz




"Durante muito tempo esta notável cantiga de amigo de Pedro Eanes Solaz não encontrou uma explicação cabal, dada a estranheza do seu duplo refrão. Mas desde o momento em que esse refrão foi identificado como uma frase árabe significando «e a noite roda», o seu sentido clarificou-se. Mantendo o perfeito e extraordinário lirismo das cantigas de amigo, Pedro Eanes Solaz aludiria aqui, ao mesmo tempo, aos amores proibidos entre uma donzela e um muçulmano (uma soldadeira bailarina com um músico árabe, dos que frequentavam as cortes peninsulares, seria imaginável). Esta hipótese, que actualmente prevalece, parece-me, aliás, confirmada por aquele demo que surge na última estrofe, parecendo baralhar todo o universo lírico anterior."
Graça Videira Lopes

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A beleza do deserto











Encerramento do Ano da Fé

As relíquias do Apostolo São Pedro serão expostas ao público pela primeira vez no encerramento do Ano da Fé.

A informação foi avançada por D.Rino Fisichella, hoje no L'Osservatore Romano. Porém não se sabe ao certo em que dia nem como ocorrerá essa veneração às reliquias do primeiro Papa.

O Ano da Fé, convocado pelo Papa Bento XVI há um ano, será encerrado no dia 24 de Novembro com uma Missa celebrada pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Rodrigo Emílio, 5 quadras à solta

RODRIGO EMÍLIO (Rodrigo Emílio nasceu em Lisboa a 18 de Fevereiro de 1944, - Lisboa, 28 de Março de 2004 ), poeta tão esquecido na vida e na morte, e de tão largo merecimento, que merece ser repetidamente recordado.


5 Quadras à solta, como 5 velas d’anos em louvor do Tiaguinho
e do principe seu irmão 

Há dois postigos que trago
sempre no peito comigo:
por um, espreita o Tiago;
por outro, espreita o Rodrigo.

De cada vez que os abro,
fica-me parvo o umbigo,
ao ver: de um lado, o Tiago;
do outro lado, o Rodrigo.

Comem uvas, bago a bago;
papam figos, figo a figo...
Não perde um bago, o Tiago,
Não perde um figo, o Rodrigo.

(Se o bago te fôr amargo,
põe-no de lado, Tiago!
Larga o bago! Evita o perigo!
Troca por figos o bago;
depenica com o Rodrigo.
... E, sem causares grande estrago
chama um figo a cada figo!

Por este andar, não acabo
e ainda apanho um castigo
do Rodrigo ou do Tiago
ou até, do Pai Rodrigo...
...e, então, é que é o diabo...!
Estou feito ao bife comigo!...

Sendo assim, já não vos chago
mais por hoje, com o que digo.

Parabéns, para o Tiago!
... E oito chôchos, p’ró Rodrigo.

Há dois postigos que trago
sempre no peito comigo:
ligo um – sai-me o Tiago;
do outro – sai-me o Rodrigo.

(Nunca por nunca os apago
dos olhos de avô e amigo!...)

Estoril, aos 8 de Dezembro de 2003

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poemas da China antiga

O Parque dos Veados 

Solitários vazios montes, ninguém à vista 
Ecos somente de vozes humanas. 
Um sol tardio entra no bosque fundo 
Brilha de novo o musgo verde. 


(Wang Wei, in Uma Antologia de Poesia Chinesa. Trad.: Gil de Carvalho)


******* 



[Ao Cantar do Galo] 

Vai nascer a aurora, a leste, brilham ainda as estrelas
Os galos de Runan trepam os muros e cantam.
Calaram-se as canções, a clepsidra vazia, mas a festa continua
A lua se oculta, poucas estrelas já, nasce no céu a manhã.
Rodam nas mil portas chaves em forma de peixe
Pegas e corvos voam dos muros do palácio e da cidade. 


(Anónimo, in Uma Antologia de Poesia Chinesa. Trad.: Gil de Carvalho) 


                                                           detalhe da pintura 'Céus de Outono Sobre as Montanhas' de Guo Xi





quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Glenn Gould plays Bach - Concerto BWV 974


Glenn Gould

S. Nuno de Santa Maria, Dom Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável: evocação por Bento XVI


A Igreja assinala a 6 de novembro a memória do Santo Condestável, que «embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus», como realçou Bento XVI.

Recordamos a evocação de S. Nuno de Santa Maria redigida pelo Vaticano aquando da canonização, seguida de excertos da homilia da missa em que foi declarado santo, presidida pelo atual papa emérito.



«Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de junho de 1360, muito provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos das famílias nobres do seu tempo.

Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois cavaleiro. Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.


Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de outubro de 1383 sem ter deixado filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de agosto de 1385), a qual acaba por determinar à resolução do conflito.
Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.

Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabou por se desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria. 









Impelido pelo Amor, abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido.



O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria — a sua terna Padroeira que sempre venerou —, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.
Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de Páscoa, 1 de abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.

Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas, consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de dezembro de 1918 com o decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.

As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.

O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respetivas investigações, o Santo Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de fevereiro de 2009 determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de abril de 2009.»

Na homilia da missa em que Nuno de Santa Maria foi canonizado, celebrada na Praça de S. Pedro, Vaticano, a 26 de abril de 2009, o papa Bento XVI evocou o Salmo 4: «Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo».

«Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus –abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado namilitia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo», sublinhou.

O atual papa emérito salientou a «intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino»: «Embora fosse um ótimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à ação suprema que vem de Deus».

«São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à ação de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir».

«Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de caráter militar e bélico, é possível atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus», afirmou Bento XVI.