Entrevista a Manoel de Oliveira, o mais antigo realizador de cinema de todo o mundo, quando completa o seu 106º. Aniversário.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Jorge de Montemor - Flerida en cuja mano (Cancionero de Belém)
Jorge de Montemor (Montemor-o-Velho, Portugal 1520 - Piamonte? Italia, 1561)
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Cante alentejano já é Património Cultural e Imaterial da Humanidade
Ontem se tornou uma realidade a inscrição do Cante Alentejano como Património Cultural e Imaterial da Unesco.
Estamos todos de parabéns. Viva o Alentejo!
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Cante do Alentejo
Vidigueira - Um serão dedicado ao cante alentejano
O final de tarde de 26 de Novembro promete levar à Vidigueira sonoridades alentejanas. Isto na semana em que a UNESCO vota em Paris a elevação do Cante a Património da Humanidade. Aos grupos corais que prometem cantar noite dentro, vai juntar-se uma prova do vinho novo e um magusto.
| terça-feira, 25 de Novembro de 2014
No dia 26 de Novembro, o Comité Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) anuncia a decisão face à candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
No Alentejo aguarda-se a decisão com expectativa e no Mercado Municipal de Vidigueira vai ouvir-se, a partir das 18h00, a expressão musical alentejana que pode ser reconhecida pela UNESCO.
Na iniciativa «Vidigueira apoia o Cante Alentejano» vão actuar grupos corais e instrumentais do concelho, como o Grupo Coral «Os Vindimadores», Improvisos do Sul, Grupo Coral da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, Grupo de Cante Alentejano da Escola de Música da Câmara Municipal de Vidigueira, Grupo Musical «Sol do Guadiana» e Grupo Coral e Instrumental «Vilafradense».
O serão nesta vila do Baixo Alentejo vai ainda fazer-se com prova do vinho novo e um tradicional magusto.
No Alentejo aguarda-se a decisão com expectativa e no Mercado Municipal de Vidigueira vai ouvir-se, a partir das 18h00, a expressão musical alentejana que pode ser reconhecida pela UNESCO.
Na iniciativa «Vidigueira apoia o Cante Alentejano» vão actuar grupos corais e instrumentais do concelho, como o Grupo Coral «Os Vindimadores», Improvisos do Sul, Grupo Coral da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, Grupo de Cante Alentejano da Escola de Música da Câmara Municipal de Vidigueira, Grupo Musical «Sol do Guadiana» e Grupo Coral e Instrumental «Vilafradense».
O serão nesta vila do Baixo Alentejo vai ainda fazer-se com prova do vinho novo e um tradicional magusto.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
Evocação de António Telmo em Estremoz
António Telmo, filósofo, escritor e professor, figura cimeira da Cultura e da Filosofia Portuguesa foi evocado numa sessão que decorreu no passado dia 14 de Novembro, no Auditório da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel, em Estremoz. Tratou-se de uma iniciativa conjunta da Biblioteca Escolar Almeida Garrett e do Projecto António Telmo. Vida e Obra.
A sessão teve início a meio da manhã, perante um anfiteatro literalmente cheio, no qual se verificava não só a presença de alunos e professores da Escola, como também de familiares, amigos e alunos de António Telmo.
A abertura do evento coube a José Salema, Director da Escola, que foi aluno de António Telmo e justificou a iniciativa. Seguiu-se a intervenção de Cláudia Marçal, Directora da Biblioteca Escolar, a qual apresentou também os oradores, ambos estudiosos da obra de António Telmo e com trabalhos publicados no âmbito da Filosofia Portuguesa. Seguidamente, Pedro Martins fez a “Evocação de António Telmo” e Elísio Gala a apresentação do livro “Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo”, que a editora Licorne lançou no passado mês de Outubro, em estreita parceria com o Projecto António Telmo. Vida e Obra. O volume, com transcrição, organização, notas e comentários de João Ferreira, Pedro Martins e Rui Lopo, é prefaciado por António Cândido Franco e conta com a colaboração especial de Maria Antónia Vitorino, Amon Pinho Davi, António Cândido Franco, Armando Carmelo e Romana Valente Pinho.
No final da sessão foi descerrado na Biblioteca da Escola, um retrato de António Telmo, que ficará a assinalar a sua passagem por aquele estabelecimento de ensino, então Escola Industrial e Comercial de Estremoz, em meados dos anos 60, imediatamente antes de partir para o Brasil, onde se juntou a Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva, na Universidade de Brasília.
Na Biblioteca da Escola está patente ao público uma exposição bibliográfica de António Telmo.
A abertura do evento coube a José Salema, Director da Escola, que foi aluno de António Telmo e justificou a iniciativa. Seguiu-se a intervenção de Cláudia Marçal, Directora da Biblioteca Escolar, a qual apresentou também os oradores, ambos estudiosos da obra de António Telmo e com trabalhos publicados no âmbito da Filosofia Portuguesa. Seguidamente, Pedro Martins fez a “Evocação de António Telmo” e Elísio Gala a apresentação do livro “Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo”, que a editora Licorne lançou no passado mês de Outubro, em estreita parceria com o Projecto António Telmo. Vida e Obra. O volume, com transcrição, organização, notas e comentários de João Ferreira, Pedro Martins e Rui Lopo, é prefaciado por António Cândido Franco e conta com a colaboração especial de Maria Antónia Vitorino, Amon Pinho Davi, António Cândido Franco, Armando Carmelo e Romana Valente Pinho.
No final da sessão foi descerrado na Biblioteca da Escola, um retrato de António Telmo, que ficará a assinalar a sua passagem por aquele estabelecimento de ensino, então Escola Industrial e Comercial de Estremoz, em meados dos anos 60, imediatamente antes de partir para o Brasil, onde se juntou a Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva, na Universidade de Brasília.
Na Biblioteca da Escola está patente ao público uma exposição bibliográfica de António Telmo.
Hernâni Matos
Da esquerda para a direita: Elísio Gala, José Salema, Pedro Martins e Cáudia Marçal.
Um aspecto da assistência.
Exposição bibliográfica de António Telmo na Biblioteca da Escola.
José Salema (Director da Escola) e Maria Antónia Vitorino (viúva do homenageado) no acto de
descerramento do retrato.
Pedro Martins autografando o livro "Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo".
Da esquerda para a direita: Elísio Gala, José Salema, Pedro Martins e Cáudia Marçal.
Um aspecto da assistência.
Pedro Martins no uso da palavra.
A intervenção de Elísio Gala. Exposição bibliográfica de António Telmo na Biblioteca da Escola.
José Salema (Director da Escola) e Maria Antónia Vitorino (viúva do homenageado) no acto de
descerramento do retrato.
Pedro Martins autografando o livro "Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo".
domingo, 2 de novembro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
De Profundis
O ano é 1900 .Um indigente percorre as ruas da Cidade Luz, o sonho de todos…Paris .O semblante alegre dos transeuntes contrasta com a tristeza desse homem em farrapos. Ele esta sujo e maltrapilho, mas suas feições guardam uma estranha nobreza.Um viciado em absinto, a bebida dos artistas.O efeito alucinógino da bebida talvez mascare a dor e o sofrimento que lhe passam pela alma. Mas ele sabe que a máscara é só para si. Aos olhos de quem passa ele é apenas um bêbado.
Um bêbado com um passado. No presente , apenas um ex-presidiário que sonha voltar aos dias de glamour. Não consegue.
Com os trocados que possui, suas noites são passadas em pensões e hospedagens de uma noite.
E foi assim, que numa dessas noites, num hotel barato, o bêbado conhecido como Sebastian Melmoth morre. Não chegou a ver o Natal. Era 30 de Novembro.
Essa seria apenas mais uma história de mais um bêbado, de mais um homem com um nome qualquer.
Mas não é . Na época esse homem carregava o escândalo consigo .Atrás dos andrajos de Sebastian estava Oscar Wilde .
Condenado a dois anos de trabalhos forçados por sua conduta libidinosa ,o escritor que foi abandonado por sua mulher Constanze Lloyd foi proibido de qualquer contato com os filhos.
A paixão pelo jovem Lord Alfred Douglas foi sua ruína.
Para não carregarem a sombra da difamação , mulher e filhos mudaram de nomes e foram viver na Suíça .Não eram mais a família Wilde. Respondiam pelo sobrenome Holland .
Nos anos de prisão , enquanto sua saúde debilitava, escreveu a “ Balada do Cárcere de Reading” que o mundo conheceu como “ De Profundis”. Na verdade, uma carta de amor endereçada a Lord Alfred .
Num dos trechos da carta Oscar Wilde escreve:
” Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara.” (Behind joy and laughter there may be a temperament, coarse, hard and callous. But behind sorrow there is always sorrow. Pain, unlike pleasure, wears no mask).
De Profundis é uma longa carta de oitenta páginas, escritas uma por dia .Ao preencher uma página , esta lhe era tirada e lhe davam uma nova em branco.
É surpreendente a maneira como deu uma continuidade lógica a esse sentimento.
O sofrimento de que fala deu-lhe uma nova visão da beleza e da arte .O escritor que pretendeu esconder num quadro a face realista da vida, preferindo o gozo à dor, sentia-se agora responsável pela ruína de sua vida.
Ele inicia a carta com essa confissão :
“É preciso que eu diga a mim mesmo que fui o único responsável pela minha ruína e que ninguém , seja ele grande ou pequeno,pode ser arruinado excepto pelas próprias mãos.Estou pronto a afirmá-lo. Tento fazê-lo ,embora eles possam não concordar comigo nesse momento.
Essa impiedosa acusação eu a faço sem piedade contra mim mesmo.Terrível foi,sem dúvida, o que o mundo fêz comigo,mais terrível ainda foi o que fiz contra mim mesmo.”
Ainda assim , defendeu até a morte a idéia de que o amor perfeito residia no afecto entre pessoas do mesmo sexo.
Seus filhos cresceram sem saber a verdade e só adolescentes tomaram conhecimento dos factos.Foram ensinados desde crianças a assinarem seus novos nomes sem jamais deixarem escapar suas verdadeiras identidades.O filho mais velho Cyril descobriu a verdade mas não quis contar ao irmão mais novo.Sua mãe insistia que o pai havia morrido e que sua obra literária não era importante.
Cyril Holland , o filho mais velho morreu em combate durante a primeira guerra mundial.
Mas, a mudança de nomes não isentou a família de tragédias.Em 1898 , a mãe Constanze sofre uma queda e vem a falecer.Os meninos ficam órfãos e acabam separados. Cyril é levado para o Mónaco e Vivian segue para a Inglaterra.
Em 1900 Vivian tinha 14 anos, e foi comunicado da morte de um pai que julgava morto há muito tempo.Sem a mãe, os garotos não eram bem vistos pela família , pois apesar de inocentes carregavam uma herança que lhes era imposta por uma sociedade que em muito vivia de aparências .
Morto Cyril, Vivian soube superar todos esses traumas. Formou-se, trabalhou como tradutor, editor e fêz o que ninguém tinha coragem:Resgatou a memória, a imagem e o génio literário do pai, traduzindo seus trabalhos e editando-os em vários idiomas.
Vivian dedicou-se a escrever sua história e com isso alçou a imagem e o valor de Oscar Wilde ao lugar que merece.O livro intitula-se “Filho de Oscar Wilde”. O filho de Vivian, neto de Oscar Wilde também se tornou um escritor, mas jamais voltaram a usar o sobrenome Wilde.
Merlin Holland é escritor e editor e pesquisou a vida do avô durante trinta anos.A ele devemos a verdadeira história e a divulgação dos processos que arruinaram a vida de Oscar Wilde.
Ele nos deixou a crítica de uma sociedade hipócrita, a ironia, o sarcasmo , a vaidade humana, vícios e virtudes num único volume. Mas, deixou-nos sobretudo pensamentos profundos e verdadeiros, que à sua época poucas pessoas teriam coragem de confessar :
“Não existem boas influências. Todas as influencias são imorais, imorais de um ponto de vista científico. Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O individuo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o actor de um papel que não foi escrito para ele. O objectivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmo. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são duas coisas que nos governam. E todavia, acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expressão e cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos tudo o que de podre poluiu humanidade. “
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Entrevista a Agustina Bessa-Luís
“Esta é a minha história que a memória abreviou...”, escreve Agustina Bessa-Luís na sua autobiografia. Uma história em que são protagonistas um pai jogador que vivia entre a presa e o predador, uma mãe que repetia provérbios, uma figura inverosímil de quem herdou o espírito aventureiro, o avô Lourenço.
Os gregos diziam que Eros tinha duas setas diferentes, uma de chumbo e outra de ouro. A pessoa atingida pela primeira sofria a paixão, a pessoa atingida pela segunda era o objecto da paixão. Eram duas formas de a paixão ser vivida. O que há de mais enigmático na natureza humana parte daí.” E qual é a paixão de Agustina? “Começa por ser eu própria. Não posso viver sem essa paixão, que não tem outra significação senão a aliança profunda com a vida humana.” Agustina, a enigmática, diz coisas que iluminam o coração da vida. Isto que acabaram de ler, disse-o perante uma plateia, em Serralves, em 2003. Disse-o como quem escreve páginas de um romance, revelando uma vontade indómita, cosida com a raiz da existência. Escritora amada, Agustina Bessa-Luís pertence à categoria dos que transformam a sua idiossincrasia num elemento reconhecível por todos (mesmo pelos que não a leram ou conhecem de perto). Como é o mundo agustiniano? É sem catalogação possível, pasmoso, livre. Esta semana, Agustina faz 92 anos. Este ano, passam 60 anos sobre a edição d’ A Sibila. Nos dias 14 e 15, discute-se na Gulbenkian a Ética e a Política na sua obra, no primeiro congresso internacional dedicado à autora organizado pelo Círculo Literário Agustina Bessa-Luís (www.clabl.pt). A obra continua a ser reeditada (Os Incuráveis é a peça mais recente).
A conversa com a filha, Mónica Baldaque, permite saber de uma mulher e de uma escritora. Que são uma, como se verá. Agustina está retirada desde 2006. Deixou de escrever. Como olharia para a maneira como olhamos para ela? Rindo-se. Seguramente.
Como é que vamos apresentar Agustina? A genial?, a sem medo?, a perversa?, a barroca (assim lhe chamava Óscar Lopes)? Estes são alguns dos epítetos mais comuns.
Todos lhe servem. O que é para além disso talvez não tenha definição. Verdadeiramente, aquilo que ela é está no riso.
No riso?
É uma das características fundamentais da minha mãe, da vida dela e do estar dela com os outros. O riso não tem que ver com a troça. Tem que ver com um segredo, com o mistério, com o estar numa outra dimensão. Há um provérbio judaico que diz: “O homem pensa, Deus ri.” Acho que aí a minha mãe está perto de Deus. O riso dela é como se fosse o riso de Deus.
O riso de quem tudo vê? E que compreende, engloba a totalidade do que vê.
Sim, sim. E de quem sente uma harmonia em relação a tudo.
Nas coisas triviais, o que é que a fazia rir?
Num plano mais imediato, fazia-a rir o absurdo. Situações absurdas. A resposta de um taxista, um comentário de uma pessoa na rua. A par do riso, vinha a nota, o explorar a situação na escrita.
Num plano mais imediato, fazia-a rir o absurdo. Situações absurdas. A resposta de um taxista, um comentário de uma pessoa na rua. A par do riso, vinha a nota, o explorar a situação na escrita.
Ocorre-lhe uma situação absurda de que tenha tirado prazer e riso?
Era tão constante... A minha mãe tinha uma modista de quem gostava muito e onde ia frequentes vezes. Essa modista, que era uma mulher muito Porto, de classe média, tinha um neto com um atraso ligeiro. Muito mentiroso. Uma vez, a avó estava muito preocupada porque ele nunca mais aparecia. A certa altura aparece com ar tranquilo. A avó, aflita: “Onde é que estiveste?” Ele explica, virado para a minha mãe: “Aconteceu-me uma coisa muito estranha. Vinha para cá e vinha um senhor na minha direcção. De repente, o nó da gravata dele começou a desfazer-se. A gravata escorregou por ele abaixo e enfiou-se num bueiro. Fiquei a olhar para o senhor, o senhor a olhar para mim. Estávamos sozinhos na rua — o que era absurdo, porque era a Rua de Cedofeita — e tentámos tirar a gravata do bueiro. Não conseguíamos, e começou a vir gente que estava às janelas. Perdemos este tempo todo e não conseguimos tirar a gravata, avó.”
Era tão constante... A minha mãe tinha uma modista de quem gostava muito e onde ia frequentes vezes. Essa modista, que era uma mulher muito Porto, de classe média, tinha um neto com um atraso ligeiro. Muito mentiroso. Uma vez, a avó estava muito preocupada porque ele nunca mais aparecia. A certa altura aparece com ar tranquilo. A avó, aflita: “Onde é que estiveste?” Ele explica, virado para a minha mãe: “Aconteceu-me uma coisa muito estranha. Vinha para cá e vinha um senhor na minha direcção. De repente, o nó da gravata dele começou a desfazer-se. A gravata escorregou por ele abaixo e enfiou-se num bueiro. Fiquei a olhar para o senhor, o senhor a olhar para mim. Estávamos sozinhos na rua — o que era absurdo, porque era a Rua de Cedofeita — e tentámos tirar a gravata do bueiro. Não conseguíamos, e começou a vir gente que estava às janelas. Perdemos este tempo todo e não conseguimos tirar a gravata, avó.”
Foi um delírio.
A minha mãe divertiu-se imenso com esta história. Gostava imenso de ir à modista para que esta lhe contasse histórias do neto.
A minha mãe divertiu-se imenso com esta história. Gostava imenso de ir à modista para que esta lhe contasse histórias do neto.
Portanto, o que contradiz a pompa, o que escangalha o composto, a vitalidade das pessoas comuns, a sua imaginação sem rumo — tudo isto a prendia.
Sim. No inconsciente, [o rapaz] achou que a minha mãe seria a interlocutora ideal para uma história absurda como aquela. Acho que chegou a escrevê-la.
Sim. No inconsciente, [o rapaz] achou que a minha mãe seria a interlocutora ideal para uma história absurda como aquela. Acho que chegou a escrevê-la.
Voltemos às definições iniciais: a sem medo. N’O Livro de Agustina, escreve: “Aos três anos, em Espinho, eu saí do hotel, sozinha, com um vestido de voile azul-claro e um ar de grande aventura. Tenho ainda essa aspiração de caminhar sem rumo, dizem que é um fio de epilepsia. Talvez seja. Talvez a liberdade seja um sintoma epiléptico.”
A relação com o medo... A mãe herdou isso, como eu herdei, e os meus filhos herdaram, da família. A sensação de ter medo — dos outros, de alguma coisa, de uma situação — foi coisa que nunca existiu. Estava completamente banida.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Assine aqui a petição contra o Acordo Ortográfico
Translate
Blogs
- Chá-de-Lima da Pérsia
- MundoPessoa
- Revista Cultura entre Culturas
- Arquivo de R. Sutanna
- Silêncio dos Livros
- Fernando Sobral
- tribus
- Plog
- Miguel Bruno
- Eterna Sefarad
- M.J.Marmelo
- Myriam de Carvalho
- Ruy Ventura
- ipsilon
- As leituras do corvo
- bibliotecariodebabel
- davírgula
- portal de Agostinho da Silva
- univers
- Casa Agostinho da Silva
- PortuGalicia
- Averno
- O cheiro dos livros
- rui pires cabral
- desert
- Víciodapoesia
- Atemporal de E. Faria
- palavra
- Nova_casaportuguesa
- helenamaro
- Rev.agulha
- gabrielarcanjo
- Réliance
- clube de leitores
- rodrigoemilio
- audiolivres
- PNL
- clepsidra
- ancor
- alvor-silves
- meianoite...
- livros.com
- arvore
- Lisboa Desaparecida
- Clubedeleitores
- Assírio & Alvim
- palasica
- baptista
- painéis
- Arqueofundão
- arts
- &etc
- Itinerum
- do porto ...
- vozdapoesia
- arrabaldes
- inc
- phil
Seguidores |