«Sampaio Bruno fazia de cada artigo uma lição. Ao sábio que merecia ensinar no Curso Superior de Letras, ao lado de Teófilo Braga e de Adolfo Coelho, coube a missão, talvez mais alta, de propagar o messianismo por intermédio dos jornais da cidade do Porto.»
Álvaro Ribeiro em Sampaio (Bruno).
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2015 será um ano de evocação e celebração da memória do filósofo portuense
Sampaio Bruno, considerado por Álvaro Ribeiro como o pai da Filosofia Portuguesa. Falecido em Novembro de 1915, assinala-se este ano o centenário da sua exaltação, esperando-se por isso que esta efeméride sirva de mote para a recuperação de uma das personalidades mais fascinantes e complexas da cultura portuguesa na viragem do século XIX para o século XX.
Portuense ilustre, Sampaio Bruno começou por destacar-se na imprensa da sua época, bem como pelas funções que desempenhou como director da Biblioteca Pública Municipal do Porto tendo, juntamente com Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Basílio Teles, entre outros intelectuais, animado a vida cultural nacional de finais do século XIX e inícios do século XX. Autor de obras seminais como Brasil Mental, A Ideia de Deus ou O Encoberto, foi uma das principais referências para personalidades como Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Teixeira Rego, Fernando Pessoa, entre inúmeros outros. Não obstante todas as marcas deixadas pela sua produção intelectual, bem como pela presença vívida que impunha à sociedade da sua época, a figura de Sampaio Bruno acabou por precipitar-se, tal como a sua obra, no frio esquecimento da vasta maioria dos portugueses. Uma realidade trágica que, inevitavelmente, acabou por afectar a própria percepção de todo o século XX português.
Republicano, mas patriota, passou pelo exílio em França após o seu envolvimento na tentativa não lograda de implantação da República ocorrida na cidade do Porto a 31 de Janeiro de 1891. Abandonando gradualmente o racionalismo opressor e estrangeirado de que padecia a sociedade portuguesa, embarcou na construção de uma corrente de pensamento de inspiração mística e esotérica, situada nos antípodas da primeira fase da sua produção intelectual. Tal como Basílio Teles e outros republicanos de feição patriótica e não jacobinos, acabou por afastar-se das hostes republicanas que cedo percebeu incorrerem num pérfido antagonismo face à tradição portuguesa. Foi sobretudo durante esse período compreendido entre o seu exílio e a saída do Partido Republicano Português que, Sampaio Bruno, como tão bem descreveu Pedro Sinde em Sete Sábios Portugueses, se terá tornado ainda mais «secreto, aliás, deliberadamente secreto» e «propositadamente obscuro».
De forma a homenagear a vida e obra de tão cativante e enigmática personalidade, o Ateneu Comercial do Porto – instituição histórica indissociável da vida cultural da cidade Invicta e da qual Sampaio Bruno foi sócio –, irá promover um ciclo de tertúlias ambientadas no vasto universo brunino. Com uma periodicidade mensal, estes encontros iniciam-se já no próximo Sábado, dia 31 de Janeiro, pelas 17:00, com uma intervenção de Paulo Samuel a propósito do papel de Sampaio Bruno no 31 de Janeiro de 1891. Estas sessões prolongar-se-ão até ao próximo mês de Novembro, contando com as participações de Pedro Sinde, Henrique Manuel Pereira, Joaquim Domingues, Paulo Borges, José Marques, Edward Luiz Ayres d’Abreu, Renato Epifânio, Carlos Aurélio e Rodrigo Sobral Cunha.
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