quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Carlo Gesualdo



Carlo Gesualdo,  também chamado  Gesualdo da Venosa  (8 de Março  de 1566  –  8 de Setembro de 1613), Príncipe de Venosa, foi um compositor italiano da Renascença tardia, famoso pelos seus livros de madrigais.




Plange quasi virgo





                                  Death for five voices

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Livros raros

EPISODIO DO GIGANTE ADAMASTOR 
        
    



JOSÉ BENOLIEL
Lisboa, 1898
Imprensa Nacional
1.ª edição
24,9 cm x 16,4 cm
52 págs.
subtítulo: Lusiadas, canto V, est. XXXVII-LXX – Estudo Critico
exemplar estimado, com restauro recente no bordo superior da capa e na lombada; miolo limpo, por abrir
22,00 eur (IVA e portes incluídos)

Breve, mas muito interessante, ensaio. Assim (diz-nos, a certo passo, Benoliel):
«[...] A tres fontes diversas foi Camões beber a ideia prima do episodio de Adamastor: á Biblia, á mythologia grega, e principalmente a um conto arabe, que, entre os da collecção das Mil e uma noites, é chamado o “Conto do Pescador”. [...]» E a importância de uma tal asserção reside no facto de Camões, em pleno terreiro da cruzada contra o infiel, ser, pois, influenciado pela cultura do inimigo da sua época.

                    

 Os Lusiadas, poema epico de [...]



LUIS DE CAMÕES
[Dom Joze Maria de Souza-Botelho, morgado de Matteus]

Paris, 1819
Na Officina Typographica de Firmino Didot
s.i. («Nova edição correcta, e dada á luz, conforme á de 1817, in-4.º»)
23,2 cm x 14 cm
8 págs. + CX págs. + 2 págs. + 420 págs. + 1 folha em extra-texto (gravura)
encadernação da época em marmoreado verde-água, gasta, não aparado
exemplar estimado; miolo limpo, com ocasionais picos de oxidação
PEÇA DE COLECÇÃO
950,00 eur (IVA e portes incluídos)

Para Inocêncio Francisco da Silva (Diccionario Bibliographico Portuguez, tomo V, n.º 55, Imprensa Nacional, Lisboa, 1860) esta edição é «Preferivel, no que diz respeito á correcção do texto, á edição de 4.º gr. [...]. Foi dirigida por Timotheo Verdier, e o Morgado deu, para ser n’ella incorporado, o seu ultimo trabalho, resultado da confrontação das duas edições de 1572, a segunda das quaes só pôde examinar quando estava já impressa a grande edição de 4.º.»                    


O Manuscrito de «O Guardador de Rebanhos» de Alberto Caeiro




FERNANDO PESSOA
apresent. e texto crítico de Ivo Castro

Lisboa, 1986
Publicações Dom Quixote
1.ª edição facsimilada
30,4 cm x 21,4 cm
180 págs.
encadernação editorial em sintético com sobrecapa impressa a cor
exemplar em bom estado de conservação; miolo irrepreensível
assinatura de posse do crítico literário José Palla e Carmo na primeira folha-de-guarda
55,00 eur (IVA e portes já incluídos)

Do prefácio de Ivo Castro:
«[...] só resta uma forma de até ele chegar: lê-lo. Ler o que escreveu. Mas ler o que efectivamenteescreveu. [...]
Por isso, só faz bem suspender por um tempo o crédito às edições e visitar a sua fonte: os manuscritos de Pessoa, os seus dactiloscritos e os poucos textos que ele próprio fez editar, sabendo muito bem o que queria. Pessoa encontra-se entre os seus papéis: vai sendo hora de aí o procurar. [...]»

pedidos para Lisboa, Portugal:
telemóvel: 919 746 089

domingo, 26 de janeiro de 2014

Sobre o riso - breve afloramento

 Sean Connery em The Name of the Rose (1986).


«(...) Era a maior biblioteca da cristandade - disse Guilherme. 
- Agora - acrescentou - o Anticristo está verdadeiramente próximo, porque nenhuma sapiência lhe fará mais de barreira. Por outro lado vimos o seu vulto esta noite.

                                                                 
- O vulto de quem? - perguntei, aturdido.

- Jorge, quero eu dizer. Naquele rosto devastado pelo ódio contra a filosofia vi primeira vez o retrato do Anticristo, que não vem da tribo de Judas, como pretendem os seus anunciadores, nem de um país longínquo. O Anticristo pode nascer da própria piedade, do excessivo amor de Deus ou da verdade, como o herege nasce do santo e o endemoninhado do vidente. Teme, Adso, os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, que de costume fazem morrer muitíssimos com eles, frequentemente antes deles, por vezes em seu lugar. Jorge cumpriu uma obra diabólica porque amava de modo tão lúbrico a sua verdade que ousava tudo com a condição de destruir a mentira. Jorge temia o segundo livro de Aristóteles porque ele ensinava talvez a deformar deveras o rosto de toda a verdade, a fim de que não nos tornássemos escravos dos nossos fantasmas. Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é aprender a libertar-nos da paixão insana pela verdade...».

Umberto Eco («O Nome da Rosa»).



«O próprio divide-se em quatro acepções. (...) A quarta é quando se verifica o concurso simultâneo de todas as referidas condições - predicar-se de uma só espécie, a toda a espécie, e sempre, como relativamente a homem se predica a faculdade do riso. De facto, mesmo que ele não se ria sempre, o homem é, no mínimo, capaz de rir, não por estar sempre a rir, mas porque naturalmente é capaz de rir; é um predicado que faz sempre parte da sua natureza, tanto como do cavalo faz parte a capacidade de relinchar...».

Porfírio («Isagoge. Introdução às Categorias de Aristóteles»).



«Eis o primeiro ponto para o qual chamaremos a atenção: não existe cómico fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia; mas nunca será risível. Poderemos rir-nos dum animal mas somente porque surpreendemos nele uma atitude de homem ou uma expressão humana. Poderemos rir-nos dum chapéu, mas do que a gente se ri não é do bocado de feltro ou de palha, mas da forma que os homens lhe deram, do capricho humano que o modelou. Como se explica que um facto tão importante na sua simplicidade, não tenha chamado há mais tempo a atenção dos filósofos? Alguns definiram o homem como «um animal que sabe rir». Bem o poderiam ter definido também como um animal que faz rir, porque se o mesmo acontece com qualquer outro animal ou objecto inanimado é por semelhança com o homem, pelo sinal com que o homem o marca ou pelo uso que o homem dele faz.

Notemos agora, como um sintoma não menos digno de atenção, a insensibilidade que, normalmente, acompanha o riso. Dir-se-ia que o cómico não pode produzir a sua vibração senão caindo numa superfície de alma bastante uniforme, bastante calma. A indiferença é o seu meio natural. O riso não tem maior inimigo do que a emoção. Não quero dizer que não possamos rir duma pessoa que, por exemplo, nos inspira piedade ou mesmo afeição: simplesmente, nessa altura, precisamos de esquecer por instantes essa afeição, fazer calar essa piedade. Uma sociedade de puras inteligências talvez não chorasse, mas rir provavelmente ainda riria; ao passo que almas sempre igualmente sensíveis, continuamente integradas no ritmo uníssono da vida, onde todos os acontecimentos se prolongassem em ressonância sentimental, não conheceriam nem compreenderiam o riso. Procurai, por momentos, interessar-vos por tudo que se diz e que se faz, agi em imaginação com aqueles que agem, senti com aqueles que sentem, dai enfim o máximo de expansão ao vosso poder de simpatia; como se obedecessem a uma batuta mágica logo vereis ganhar peso os objectos mais leves e uma coloração severa passar sobre todas as coisas. Despersonalizai-vos agora e presenciai a vida como espectador indiferente: quantos dramas passarão a comédia! Basta taparmos os ouvidos ao som da música numa sala onde se dança para que os dançarinos nos pareçam logo ridículos. Quantas acções humanas resistiriam a uma prova deste género? Não as veríamos nós passar, de repente, do grave ao divertido se as isolássemos da música do sentimento que as acompanha? O cómico exige, pois, finalmente para produzir todo o seu efeito, qualquer coisa como uma anestesia momentânea do coração. Dirige-se à inteligência pura».
                                                                                               
Bergson (O Riso. Ensaio sobre o significado do cómico»)









                                                    

                                               Bergson

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

As Musas Cegas VII de Herberto Helder

Herberto Helder

AS MUSAS CEGAS VII

Bate-me à porta, em mim, primeiro devagar.
Sempre devagar, desde o começo, mas ressoando depois,
ressoando violentamente pelos corredores
e paredes e pátios desta própria casa
que eu sou. Que eu serei até não sei quando.
É uma doce pancada à porta, alguma coisa
que desfaz e refaz um homem. Uma pancada
breve, breve -
e eu estremeço como um archote. Eu diria
que cantam, depois de baterem, que a noite
se move um pouco para a frente, para a eternidade.
Eu diria que sangra um ponto secreto
do meu corpo, e a noite estala imperceptivelmente
ou se queima como uma face. Escuta:
que a noite vagarosamente se queima
como a minha face. 

Essa criança tem boca, há tantas finas raízes
que sobem do meu sangue. Um novo instrumento,
uma taça situou-se na terra, e há tantas
finas raízes que sobem do meu sangue. E uma candeia,
uma flor, uma pequena lira,
podem erguer-se de um rio de sangue, sobre o mundo -
um novo instrumento rodeado de campânulas
inclinadas, por ligeiras pedras húmidas,
pelos animais que movem no seu calmo halo de fogo
as grandes cabeças sonhadoras. 

Essa criança dorme sobre os meus lagos de treva.
Pensei algumas palavras para oferecer-lhe. Esqueço-me
tantas vezes dos mistérios dessa porta.
Porque então é muito estreita com os seus espelhos
detrás, com o vestíbulo frio.
Mas é tão belo uma criança ainda enevoada,
uma criança que ascende com uma
grande música
desta rede de ossos, deste espinho de sexo,
da confusa pungência, escuta: da pungente
confusão
de um homem restrito com a sua vida tão lenta. 

Essa criança é uma coisa que está nos meus dedos;
às vezes debruço-me sobre as cisternas, e as vertigens,
e as virilhas em chama.
É a minha vida. Mas essa criança
é tão brusca, tão brusca, ela destrói e aumenta
o meu coração.
No outono eu olhava as águas lentas,
ou as pistas deixadas na neve
de fevereiro, ou a cor feroz,
ou a arcada do céu com um silêncio completo.
Misturava-se o vinho dentro de mim, misturava-se
a ciência da minha carne
atónita. Escuta: cada vez a minha vida
é mais hermética.
Essa criança tem os pés na minha boca
dolorosa. 

Se ela um dia adormecer com cerejas junto à respiração
pequena, e sonhar
estes imensos arcos que os séculos vão colocando
sob os astros - e se de tudo
a sua cabeça estremecer como numa loucura,
com altos picos em volta, com enormes faróis
acendendo e apagando - escuta: se essa criança
imaginar, e todas as cordas se juntarem tensamente
para que ela invente o seu próprio rio
sem nome -
será ainda que do meu sangue se erguem finas
raízes, e o tenebroso tumulto das minhas sombras
está no fundo, no fundo da sua ingénua vida,
da sua terrível vida sem remédio.
Se ela morrer, escuta, será que a minha boca
diz lá em baixo
essas majestosas e violentas palavras
dos poemas. 

Essa criança que aperta as veias que iluminam
a minha garganta. Ela dorme. Escuta:
a sua vida estala como uma brasa, a sua vida
deslumbrante estala e aumenta.
Se um dia os archotes incendiarem essa boca,
e as faúlhas cercarem
o silêncio tremendo dessa pequena boca, escuta: 

a minha boca, lá em baixo, está coberta de fogo.


                                            
                                                Luís Lucas diz

Um artigo do Pe. Gonçalo Portocarrero

Um assunto muito polémico. Eis uma perspectiva.

"Um direito desumano" - Pe. Gonçalo Portocarrero

Se se entende que duas pessoas do mesmo sexo podem ser dois bons 'pais' ou  'mães', 
porque não permitir que três ou mais indivíduos do mesmo sexo possam adoptar?!

No dia 17 de Maio de 2013, a Assembleia da República aprovou, na generalidade, 
a lei da co-adopção pelo parceiro do progenitor, em uniões de pessoas do mesmo sexo.

É por um imperativo de não-discriminação que se defende que também às uniões, 
ditas homossexuais, se reconheça o que já é permitido aos casais, ou seja, à união 
de um homem e uma mulher. Contudo, a justiça não obriga a tratar todos por igual, 
mas a dar a cada qual o que lhe é devido. A justiça fiscal discrimina os cidadãos 
em função dos seus rendimentos; se o não fizesse, seria profundamente injusta. 
Uma autarquia, uma sociedade anónima e uma associação de columbófilos podem 
ter personalidade jurídica, mas é razoável que a lei não lhes permita o casamento, 
nem a adopção de menores. É uma discriminação em relação às pessoas singulares? 
Sem dúvida, mas é legítima, como justa é a interdição da adopção para uniões não
 equiparáveis à família natural, que é a união de um homem e uma mulher.

Os defensores do pretenso direito à adopção esquecem que não há, nem pode haver, 
um direito a ter filhos, naturais ou adoptivos. Não o têm os casais naturais 
– quanto muito, uma mera expectativa – nem as uniões de pessoas do mesmo 
sexo e, se aqueles podem adoptar e estes não devem faze-lo, é porque o Estado 
deve facultar ao menor órfão, ou filho de pais ausentes ou incapacitados, um pai 
e uma mãe, ou seja, uma família natural. Só na impossibilidade de adopção, 
dever-se-ia entregar a criança sem pais a uma instituição social que, como
 a união de duas pessoas do mesmo sexo, também não é, em sentido próprio,
 uma família.

Um homem singular pode ser um bom pai, como uma única mulher pode ser 
uma boa mãe e, por isso, é razoável que um só indivíduo possa adoptar. 
Mas dois homens ou duas mulheres, não só não são melhores pais ou mães 
– na realidade, só um deles poderá ser, verdadeiramente, pai ou mãe – como, 
em caso algum, podem ser pai e mãe, o que só poderá ocorrer se forem, 
respectivamente, homem e mulher.

Por outro lado, se se entende que duas pessoas do mesmo sexo podem ser dois 
bons «pais» ou «mães», por que não permitir que três ou mais indivíduos
 do mesmo sexo, possam adoptar?! Afinal de contas, a exigência da 
heterossexualidade do casal é tão natural quanto a sua composição dual: 
se duas pessoas, do mesmo sexo, podem ser casal e família, porque não 
três, quatro ou cinco?! A obrigação legal de o casal serem só dois não 
será também preconceituosa?!

De facto é e, nisto, os defensores da co-adopção têm toda a razão. É um precon-
ceito, como preconceituosa é também a essência heterossexual do casal. É um 
preconceito porque é uma realidade anterior a qualquer racionalização do amor, 
da família ou da geração: a natureza heterossexual da união fecunda não 
decorre de nenhuma ideologia, cultura ou religião, mas é uma realidade originária
e natural e, apenas neste sentido, é um pré-conceito. É uma realidade aliás 
universal, porque 97% das uniões estáveis são constituídas, em todo o mundo,
 por pessoas de diferente sexo e 100% dos casais naturalmente fecundos são 
heterossexuais. É por isto que o casamento é matrimónio: a união que faz
 da mulher mãe, ou mater, em latim, porque, quando se exclui a geração, 
não há verdadeiro casamento, nem família.

A nova lei foi saudada como um avanço civilizacional. Mas, se assim é, por 
que razão os deputados a aprovaram, na generalidade, de forma tão apressada e
 sigilosa? Se são cientes da sua transcendência, não seria lógico que exigissem
 uma maioria qualificada, como se requer para as reformas constitucionais? 
Será que temem o veredicto popular? Será que sabem que a grande maioria 
das pessoas não concorda com a nova lei?

Uma grande vitória para os direitos humanos? Que uma criança tenha, legal-
mente, dois «pais» ou duas «mães» é tudo menos humano, porque o que é 
próprio da natureza humana é ser-se filho de um só pai e de uma só mãe. 
É desumano que o filho, privado do seu pai, ou da sua mãe, veja esse 
seu ascendente substituído pelo parceiro do outro progenitor. A nova lei,
 portanto, não consagra nenhum novo direito humano, mas talvez, por
 desgraça, o primeiro pseudo-direito desumano. 

in ionline

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

»Romance Sonâmbulo«

 De Federico Garcia Lorca



(A Gloria Giner e a
Fernando de los Rios)


Verde que te quero verde.                                  
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.

Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.

Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.


Tradução de Eugénio de Andrade



sábado, 18 de janeiro de 2014

As premonições de Natália Correia

Natália Correia jovem


"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".


"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, o Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."

Natália Correia
Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993

Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Les Fin Amoureuses

1.
                                       

                                  Wa habibi, Adieu Paure Carnavau


2. 
                                             
             Festival Fora do Lugar 2012 - Idanha-a-Nova,
             Portugal, La belle jardinière


domingo, 12 de janeiro de 2014

País de Gales celebra o centenário de Dylan Thomas

Dylan Thomas será o mote de um festival que durará todo o ano de 2014 e decorrerá nas várias cidades que guardam memórias do escritor


O País de Gales prepara-se para assinalar o centenário do nascimento do poeta, ficcionista e dramaturgo galês Dylan Thomas (1914-1953) com um festival que durará o ano todo e que decorrerá nas várias cidades que guardam memórias do escritor, de Swansea, onde nasceu, a Laugharne, onde morou no final da vida, numa casa — a Boathouse — entretanto transformada em museu. O programa de actividades, da responsabilidade do governo autónomo do País de Gales e da secção galesa do British Council, deverá ainda incluir diversas iniciativas no estrangeiro, desde logo nos Estados Unidos (Dylan Thomas passou várias temporadas no país e morreu em Nova Iorque), mas também na Austrália, na Índia ou na Argentina. O objectivo é divulgar ainda mais a obra de Thomas, mas também trazer turistas ao País de Gales. O chefe do governo autónomo do País de Gales, Carwyn Jones, admirador assumido do poeta, disse ao jornal The Guardian esperar que “muitos visitantes se sintam encorajados” a visitar a região e a “descobrir a fonte de inspiração por trás do legado” que Thomas deixou. Várias figuras públicas aceitaram já ser “embaixadores” destas comemorações, do actor americano Martin Sheen à poetisa escocesa Carol Ann Duffy.
O programa consagra também a reconciliação do País de Gales com um poeta que nem sempre foi muito apreciado pelos seus conterrâneos, quer pelo facto de escrever em inglês, quer pela sua reputação de alcoólico e desordeiro. Para mote das celebrações, foi escolhida uma expressão que Dylan Thomas usa no drama radiofónico Under Milk Wood — Starless and Bible Black —, e da qual já a banda King Crimson se tinha apropriado nos anos 70 para dar título a um dos seus álbuns. Grande poeta de linhagem romântica, mas difícil de enquadrar em qualquer um dos movimentos neo-românticos do seu tempo, surrealismo incluído, Dylan Thomas é um dos nomes centrais da poesia inglesa do século XX, a par de Auden e Eliot. O seu poema mais célebre é provavelmente o que abre com o verso “Do not go gentle into that good night”, que António Lobo Antunes traduziu livremente no título do seu romance Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura



sábado, 11 de janeiro de 2014

Odilon Redon

Odilon Redon (1840-1916)
Bertrand-Jean Redon conhecido como Odilon Redon (Bordéus, 20 de Abril de 1840 — Paris, 6 de Julho de 1916) foi um pintor e artista gráfico francês, considerado o mais importante dos pintores do simbolismo, por ser o único que soube criar uma linguagem plástica particular e original
Redon foi um dos membros mais destacados do movimento simbolista, cujas bases teóricas foram definidas pelos manifestos do poeta Mallarmé e pela estética romântica. Diferente da obra de seus colegas, a sua chegou aos limites da sugestão e da abstração, e pode-se dizer que, tanto formal quanto conceptualmente, chegou, de modo visionário, perto da futura vanguarda surrealista.

Pégaso

Parsifal
Cabeça laureada
                                                                                       
Ofélia entre flores
Barca mística