"As minhas Asas"
Eu tinha umas asas
brancas,
Asas que um
anjo me deu,
Que, em
me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
– Eram brancas, brancas,
brancas,
Como as do
anjo que mas deu:
Eu
inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da
terra.
Vinha para me
tentar;
Por seus
montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
– Veio a ambição, co'as
grandezas,
Vinham
para mas cortar
Davam-me poder e glória
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas
brancas,
Asas que um
anjo me deu,
Em me eu
cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as
estrelas,
E já
suspenso da terra,
Ia
voar para elas,
–
Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que
elas.
E as minhas asas
brancas,
Asas que um
anjo me deu,
Para a
terra me pesavam,
Já
não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra
hora
Foi aquela hora
de dores!
– Tudo
perdi nessa hora
Que
provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas
brancas,
Asas que um
anjo me deu
Pena a
pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.
(Almeida
Garrett - Flores sem Fruto)
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Por Daniel Proulx
LE RÔLE DE L’IMAGINATION DANS L’EXPÉRIENCE SPIRITUELLE D’IBN AL-ʿARABĪ ET DE JAKOB BÖHME
Henry Corbin a écrit qu’« un Maître Eckhart et un Jacob Boehme
eussent parfaitement compris Ibn ʿArabî, et
réciproquement.1 » Mais comment assurer ce dialogue et
cette compréhension réciproque pressentie par Henry Corbin? Cette recherche
porte essentiellement sur les conditions de possibilités de ce dialogue, puisque
la comparaison entre Ibn al-ʿArabī et Böhme n’est encore qu’à ses balbutiements.
En choisissant le prisme de l’imagination, le but est double :
pouvoir traiter de manière non réductrice les phénomènes spirituels en
parcourant et analysant la logique spécifique de l’imagination ; et, sous
l’égide de la hiérohistoire, explorer le rôle de l’imagination dans
la métaphysique et l’éthique d’Ibn al-ʿArabī et de Böhme. Il s’agit donc d’essayer de lire Ibn
al-ʿArabī et Böhme
comme ils lisaient eux-mêmes le Livre révélé de leur tradition respective.
Au final, il appert que le théophanisme caractéristique tant de la
métaphysique d’Ibn al- ʿArabī
que de celle de Böhme est une riche terre d’accueil de l’imagination
et de l’imaginal. Et que, si la comparaison strictu sensu entre Ibn al-ʿArabī et Böhme est
impossible, l’esprit comparatif et transdisciplinaire de cette recherche, ainsi
que la méthode phénoménologico-herméneutique, offrent de nouvelles avenues de
réappropriation pour l’ensemble des phénomènes spirituels.
PRÉLUDE
Pro captu lectoris habent sua fata libelli. D’emblée, le lecteur
consciencieux nourrit probablement une certaine suspicion par rapport à ce
qu’annonce le titre de cette recherche. Le lecteur se demandera peut-être
comment l’auteur considérera sérieusement deux auteurs aussi éloignés, et
comment traitera-t-il concrètement de l’imagination dans un phénomène aussi
mouvant que l’expérience spirituelle? Nous mettons en garde le lecteur
voulant entreprendre cette quête avec nous du fait qu’il devra s’impliquer
lui-même dans cette traversée et nous suggérons à celui qui ne veut
qu’objectivement ou historiquement s’informer sur le sujet d’arrêter sa lecture
dès à présent, car l’objectivité n’est pas le but visé de notre recherche. Cette
recherche est sous le signe de deux distiques de l’Errant chérubinique qui
s’énoncent comme suit : « L’âme est un cristal, la Déité est sa clarté; Le corps
en lequel tu vis est leur enveloppe à tous les deux. » Et
la conséquence métaphysique est que « Dieu ne vit pas sans moi. Je sais que Dieu
sans moi ne peut vivre un moment ; Si je m’abîme, Il rend l’esprit de
dénuement.»
Nous prendrons à rebours les approches usuellement utilisées. Nous
proposons une « remontée vers l’origine » qui, lorsqu’elle s’achèvera, s’avérera
être le point que nous avions laissé en faisant le premier pas. Sans entrer dans
une logique circulaire, dans une logique fermée sur elle-même, dans un
subjectivisme, nous prendrons autant en considération les données sensibles,
qu’expérientielles de nos deux auteurs. Nous ordonnerons en constellation de
symboles leurs pensées laissées sur le papier. Ce qui nous intéresse avant tout,
c’est d’organiser et de rapprocher des matériaux pour qu’une autre lecture en
soit possible. Une lecture qui exhausse la portée de ce qu’énoncent
nos mystiques et qui puisse peut-être valider l’existence d’un ésotérisme
abrahamique. Par l’intériorisation de nos auteurs, nous procédons à un travail
similaire à celui qu’ils ont opéré à propos de leur livre révélé; c’est en ce
sens que notre travail n’est pas objectif et que nous ne prouverons rien.
Tout au long de ce texte, de nombreux voyages seront mentionnés.
La plupart ne relèvent pas du calendrier de l’histoire; ce sont des événements
de l’âme, des événements dont les témoins et les témoignages ne peuvent être
accrédités dans une cour de justice, mais dont la vérité et l’action s’expriment
dans le vécu de l’âme, dans la vie de l’esprit, dans la spiritualité, une
existence, dont la permanence transcende l’historicité, et ce faisant, fait
apparaître une histoire real6 signalée par le terme de
hiérohistoire.
Accompagné par l’ange de Henry Corbin, nous pensons que la vie
spirituelle n’est pas dans l’humain, que c’est l’humain qui est en elle et c’est pour cela que nous nous permettons d’être une matrice
s’imprégnant de son sujet. Ce travail s’annonce ainsi sous le signe d’une «herméneutique spirituelle» parce que la compréhension présentée de nos deux
théosophes est elle-même corollaire de notre capacité d’accueil. Notre maîtrise
a été envisagée comme une co-naissance, car elle n’est pas de son temps, mais «
son temps propre », en cherchant à actualiser le savoir humain. La progression
du savoir n’émane pas d’une création ex nihilo. La progression du savoir
consiste à intégrer ou intérioriser la complexité des relations entre l’humain
et sa réalité. En ce sens, nous ne clarifierons rien d’autre que notre propre
intériorisation.
E para ler fragmentos de Ibn Arabî, em inglês, seguir este link: http://philosophiaperennisetuniversalis.blogspot.pt/2012/10/journey-to-lord-of-power.html#more
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
Manuel Bandeira, Soneto Inglês n.º 2
MANUEL BANDEIRA
De um dos grandes poetas da nossa língua
SONETO INGLÊS Nº 2
Aceitar o castigo imerecido,
Não por fraqueza, mas por altivez.
No tormento mais fundo o teu gemido
Trocar num grito de ódio a quem o fez.
As delícias da carne e pensamento
Com que o instinto da espécie nos engana
Sobpor ao generoso sentimento
... De uma afeição mais simplesmente humana.
Não tremer de esperança nem de espanto.
Nada pedir nem desejar senão
A coragem de ser um novo santo
Sem fé num mundo além do mundo. E então
Morrer sem uma lágrima, que a vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
(Manuel Bandeira)
Aceitar o castigo imerecido,
Não por fraqueza, mas por altivez.
No tormento mais fundo o teu gemido
Trocar num grito de ódio a quem o fez.
As delícias da carne e pensamento
Com que o instinto da espécie nos engana
Sobpor ao generoso sentimento
... De uma afeição mais simplesmente humana.
Não tremer de esperança nem de espanto.
Nada pedir nem desejar senão
A coragem de ser um novo santo
Sem fé num mundo além do mundo. E então
Morrer sem uma lágrima, que a vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
(Manuel Bandeira)
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Celtic Nations & Gallaécia Gróvia
Uma viagem por algumas nações célticas:
Alba-Éire-Kallaikia (Galicia, northern Portugal and Asturias)-Breizh-Cymru-Kernow-Ellan Vannin
Northern Portugal / Gallaécia Gróvia
Alba-Éire-Kallaikia (Galicia, northern Portugal and Asturias)-Breizh-Cymru-Kernow-Ellan Vannin
Northern Portugal / Gallaécia Gróvia
Vinicius de Moraes
A hora íntima
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: - Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: - Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: - Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspeção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: - Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: - Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Livro: «Cronologia da Monarquia Portuguesa»
Família Real Portuguesa: LIVRO: CRONOLOGIA DA MONARQUIA PORTUGUESA
D. Duarte, pretendente ao trono de Portugal
D. Duarte, pretendente ao trono de Portugal
Thick as a brick
Os contos são tão velhos como Deus espera até que o homem,
os seres humanos, pela Sabedoria se torne de novo
mais velhos que o alfabeto. criança.
Rabindranath Tagore
os seres humanos, pela Sabedoria se torne de novo
mais velhos que o alfabeto. criança.
Rabindranath Tagore
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
sábado, 19 de janeiro de 2013
Rumi
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.
Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
Não durmas,
senta com teus pares
A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.
Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.
Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
- Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
- Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!
Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.
Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?
Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.
Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.
Teu amor me tirou de mim.
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti.
De ti, preciso de ti.
Não posso dormir quando estou contigo
por causa de teu amor.
Não posso dormir quando estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!
Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende.
A fé da religião do Amor é diferente.
A embriaguez do vinho do Amor é diferente.
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.
- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?
Salar Aghili - Poem of the Atoms
Monsanto - Portugal
Mágica Monsanto
Adufeiras de Monsanto
Música tradicional das Adufeiras de Monsanto
Adufeiras de Monsanto
Música tradicional das Adufeiras de Monsanto
Ronda Dos Quatro Caminhos - Cravo Roxo (tradicional)
com adufeiras de Monsanto e coros alentejanos
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Sons e imagens do espaço gravados pela NASA
Tal qual como acreditava Pitágoras:
A música das esferas existe!
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Dois Poemas de António Osório
CAMÕES
Lia-me Camões meu Pai.
... A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.
O CANTO DO CISNE
Nunca o ouvi.
Que seja inextinguível.
Ou então silencioso
por pudor e tremendo
de raiva.
E que dure o bastante
para que nada fique por cantar.
[in A Luz Fraterna - Poesia Reunida, Assírio & Alvim, 2009]Ver mais
Lia-me Camões meu Pai.
... A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.
O CANTO DO CISNE
Nunca o ouvi.
Que seja inextinguível.
Ou então silencioso
por pudor e tremendo
de raiva.
E que dure o bastante
para que nada fique por cantar.
[in A Luz Fraterna - Poesia Reunida, Assírio & Alvim, 2009]Ver mais
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
R. M. Rilke - Soneto
Orfeu
Monumento, nenhum. Deixai somente a rosa
florir, em sua glória, alguma vez por ano.
Porque assim é Orfeu. Sua metamorfose
nesta ou naquela forma. Em vão é que tentamos
outros nomes lhe dar. Ao menos aprendamos
que é sempre Orfeu quem canta. Ele vai, ele volta.
Não nos basta saber que afinal de ano a ano
um dia passa, ou dois, numa taça de rosas?
... Mesmo que sofra a sós a angústia de deixar-nos,
terá de se banir para que o entendamos?
Enquanto no aqui sua palavra paira,
ei-lo já longe, aonde o não acompanhais.
Entre as grades da lira, as mãos estão libertas,
e mesmo quando parte apenas obedece.
Rainer Maria Rilke
(de “Os Sonetos a Orfeu”)
Tradução de Vasco Graça Moura
Alentejo - 1
TERRA COM SOMBRA
Se no princípio do Universo esteve – como creio
– a aliança entre o Pensamento e Palavra, só pela Palavra e pelo Pensamento
cresceremos no confronto e na aceitação do mistério que nos transcende e nos
rodeia. Só com a ajuda da sabedoria nascida do Verbo (encarnado há cerca de dois
mil anos) poderemos reconciliar-nos com o Mundo, com o Outro e, sobretudo,
connosco – neste tempo tão complexo, de sociedade em crise, à procura de um novo
paradigma civilizacional. Não interessa se a Sabedoria nos chega por palavras,
por imagens, por sons, por movimentos ou pela contemplação do “jardim do
mundo”. Vale a pena tão só aceitar, entender e praticar com humildade os
seus atributos: “há nela um espírito inteligente e santo, / único, múltiplo e
subtil, / ágil, penetrante e puro, / límpido, invulnerável, amigo do bem e
perspicaz, / livre, benéfico e amigo dos homens, / estável, firme e sereno, /
que tudo pode e tudo vê, / que penetra todos os espíritos, / os inteligentes, os
puros e os mais subtis” (Sabedoria, 8: 22 – 23).
Verdade seja dita que há também palavras que
nos salvam ou que, pelo menos, nos consolam. Lembro, por exemplo, quanto me
pacificou, há uns anos, a dedicatória inscrita por José António Falcão numa das
suas mais belas obras (A a Z – Arte Sacra da Diocese de Beja, 2006):
“Este livro é dedicado a todos os que, saindo do Alentejo, não o
abandonaram”. Alentejano exilado por vontade alheia, na co-movente Península
da Arrábida, tão simples frase teve a capacidade de cauterizar feridas ainda
recentes de alguém que continuava a martelar a letra de um velho fado:
“Abalei do Alentejo, / olhei para trás chorando. / Alentejo da minh’ alma, /
tão longe me vais ficando”.
Já tive oportunidade de manifestar a minha
integral admiração pelo trabalho desenvolvido no Baixo Alentejo pelo
Departamento do Património Histórico-Artístico da Diocese de Beja. Não vale a
pena repetir razões, tantas elas são. É contudo, importante, sublinhar o seu
exemplo clarividente, em áreas só aparentemente separadas da preservação e
divulgação dos bens artísticos da Igreja Católica. Bastará recordarmos a sua
abertura ao Outro e ao mundo poliédrico da Cultura contemporânea, a
revitalização dos Caminhos de Sant’ Iago no sul de Portugal ou o Festival
“Terras sem Sombra”, neste momento a decorrer na sua oitava edição. Mesmo
no “exílio”, penso que todos os alentejanos se sentirão serenamente
felizes ao verem a sua terra como palco de um evento musical com ecos espalhados
pelo mundo fora.
É belo o seu nome, “Terras Sem Sombra”.
E ainda mais belo ao revelar, aos ouvidos de quem o saiba entender, a essência
da espiritualidade do Alentejo – proposta ao Mundo. Para compreendermos esta
“terra sem sombra”, tão minguada de gentes, é preciso meditar os dois
primeiros versos da quadra que deu origem ao título: “O Alentejo não tem
sombra, / senão a que vem do Céu.” Não tem sombra material. É quase um
deserto (aquele deserto que tanto aproximou os homens de Deus, no confronto com
o interior e o exterior do seu ser). Tem apenas a sombra “que vem do Céu”
(como diriam os místicos islâmicos heterodoxos). Ou seja, o Alentejo possui a
terra inteira dentro de si, porque toda a criação, aos olhos do crente, é uma
“sombra de Deus”, uma manifestação da realidade divina. Abdicou – e
transformou-se em rei de si próprio (como diria Fernando Pessoa por Ricardo
Reis).
Sem sombra divina, não teria alma. Por isso me
permito afirmar que a música do espírito apresentada pelo Festival “Terras
sem Sombra” revela, na ausência de matéria, uma outra sombra que é, no
fundo, um símbolo da Vida, daquela que transcende a existência. Tem pois José
António Falcão toda a autoridade para espicaçar os ouvintes do festival com um
texto claro e perturbador na sua análise e nas suas propostas. Interpretando a
espiritualidade alentejana como proposta e exemplo, afirma no programa do
evento:
“Se o ‘tempo dos guerreiros’ e o ‘tempo dos
agricultores’ souberam reconhecer até que ponto a benevolência apaziguada e a
violência extrema se podem cruzar na natureza, o ‘tempo dos mercadores’
entregá-la-ia a uma pilhagem sem precedentes, exacerbada pela industrialização ,
que conduz o planeta até à fronteiras do descalabro. […] Depois do caçador, do
lavrador, do metalurgista, do comerciante, emerge cada vez com maior nitidez a
imagem do cuidador de um jardim que, como arquétipo, se projecta sobre os quatro
pilares da sustentabilidade: ambiente, economia, sociedade, cultura. […] Este
jardineiro […] vislumbrado [por Charles Péguy] não será, afinal, o mesmo que
apareceu a Maria Madalena, junto ao túmulo, após a Ressurreição
[…]?”
Ameaçado e em grande perigo, o planeta só
salvará se os homens de boa vontade souberem interpretar “a sombra que vem do
Céu” e cuidarem do “jardim do mundo” em paz e harmonia. É, para isso,
necessário, acolhermos o mistério da Vida e percebermos que esse acolhimento só
acontecerá se abrirmos no nosso interior o espaço necessário, entrevendo – como
refere J. A. Falcão – “a essência criadora do nada”, tão próxima quando
vivemos a boa, a bela e a verdadeira terra do nosso Alentejo.
Ruy Ventura
domingo, 13 de janeiro de 2013
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
David Bowie, the master
David Bowie o Camaleão completou na terça-feira, dia 8 de Janeiro, 66 anos .
Falar de David Bowie é falar de um génio, e deveria ser quase como falar de um Deus.
De facto, a música de Bowie deve, sem dúvida, ser considerada genial, dado a sua incontornável contribuição artística e inovadora, produzida única e exclusivamente pela sua mente brilhante e criativa.
A extinta revista britânica Melody Maker, nomeou " Ziggy Stardust ", como o melhor disco dos anos 70, e ele com certeza figura na maior parte das listas dos melhores álbuns da história.
Toda a lenda criada em torno de "Ziggy Stardust" é justa.
Neste álbum , Bowie utilizou toda a sua apurada imaginação e senso estético para criar o personagem do rock star alienígena , que vinha do espaço para salvar a Terra.
O disco reúne algumas das composições mais famosas de Bowie como “Starman”, Sufragette City” e a homônima “Ziggy Stardust”, e se tornou um verdadeiro marco do chamado glam rock. Pouco tempo depois, Bowie assassinaria seu personagem em pleno palco. Era o fim de uma verdadeira febre que tomou de assalto a Inglaterra e, posteriormente, o mundo.
Enganou-se quem profetizou que a morte de "Ziggy Stardust" era o fim de Bowie.
O camaleão estava vivo, e ainda tinha muito para dar à musica no futuro ...
David Bowie , fotografado por Helmut Newton.
Falar de David Bowie é falar de um génio, e deveria ser quase como falar de um Deus.
De facto, a música de Bowie deve, sem dúvida, ser considerada genial, dado a sua incontornável contribuição artística e inovadora, produzida única e exclusivamente pela sua mente brilhante e criativa.
A extinta revista britânica Melody Maker, nomeou " Ziggy Stardust ", como o melhor disco dos anos 70, e ele com certeza figura na maior parte das listas dos melhores álbuns da história.
Toda a lenda criada em torno de "Ziggy Stardust" é justa.
Neste álbum , Bowie utilizou toda a sua apurada imaginação e senso estético para criar o personagem do rock star alienígena , que vinha do espaço para salvar a Terra.
O disco reúne algumas das composições mais famosas de Bowie como “Starman”, Sufragette City” e a homônima “Ziggy Stardust”, e se tornou um verdadeiro marco do chamado glam rock. Pouco tempo depois, Bowie assassinaria seu personagem em pleno palco. Era o fim de uma verdadeira febre que tomou de assalto a Inglaterra e, posteriormente, o mundo.
Enganou-se quem profetizou que a morte de "Ziggy Stardust" era o fim de Bowie.
O camaleão estava vivo, e ainda tinha muito para dar à musica no futuro ...
David Bowie , fotografado por Helmut Newton.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
«Senhora do Almurtão» (Beira - popular)
Teresa Salgueiro - "Senhora do Almurtão"
Senhora do Almortão (Popular)
de Rodrigo Emílio
Alerta
Noite para a Morte
(Insónia sem rumo)
- Só os meus olhos dormem
Eu não durmo
Minnesänger
Poeta-trovador,
- cantava-lhes d`amor,
quando ia vê-las...
Tinha uma voz de tenor e o condão de adormecê-las...
(Era uma espécie de extintor
d`estrelas...)
Quadras à solta, como 5 velas d’anos em louvor doTiaguinho e do principe seu
irmão
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Selo de Salomão
Por sua vez, a sabedoria popular diz
que o Rei Salomão colocou o seu selo nesta planta quando reconheceu o seu
grande valor medicinal e protetor. Muitas culturas atribuem características
quase mágicas a esta planta. Efetivamente, o selo-de-salomão foi utilizado
durante centenas de anos como planta medicinal com uma grande diversidade de
aplicações, tais como contusões, diabetes, ferimentos, hemorroidas,
inflamações, nevralgia, cardiotónico, diurético ou sedativo.
Os antigos romanos, no primeiro dia
de Maio, queimavam olíbano (incenso) e selo-de-salomão e penduravam
grinaldas de flores diante dos seus altares em honra aos espíritos guardiães
que olhavam e protegiam as suas famílias e as suas casas.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
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