segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

R. M. Rilke - Soneto



Orfeu





















Monumento, nenhum. Deixai somente a rosa
florir, em sua glória, alguma vez por ano.
Porque assim é Orfeu. Sua metamorfose
nesta ou naquela forma. Em vão é que tentamos

outros nomes lhe dar. Ao menos aprendamos
que é sempre Orfeu quem canta. Ele vai, ele volta.
Não nos basta saber que afinal de ano a ano
um dia passa, ou dois, numa taça de rosas?

... Mesmo que sofra a sós a angústia de deixar-nos,
terá de se banir para que o entendamos?
Enquanto no aqui sua palavra paira,

ei-lo já longe, aonde o não acompanhais.
Entre as grades da lira, as mãos estão libertas,
e mesmo quando parte apenas obedece.

Rainer Maria Rilke
(de “Os Sonetos a Orfeu”)

Tradução de Vasco Graça Moura

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