sexta-feira, 12 de abril de 2013

Boécio - da Consolação da Filosofia


 Boécio


Através deste texto de Boécio perpassa o sentimento da Natureza como máquina perfeita, e o respeito que lhe devemos.

BOÉCIO
480 – 524 dC

.
Quando ferve o astro de Câncer,
oprimido pelos raios de Febo,
então aquele que confiou
larga sementeira a estéreis sulcos,
enganado pela fé em Ceres,
que se dirija às árvores dos carvalhos.
Nunca vás ao bosque purúreo
para colher violetas,
quando a planície se eriça estridente
com tempestuosos Aquilões,
nem, se te apetecer comer uvas,
procures com mão ávida
deitar mão às videiras na Primavera;
é antes no Outono
que Baco apresenta os seus frutos.
Deus distribui as estações
dando a cada uma as suas funções próprias
e não permite que sejam confundidas
as alternâncias que Ele próprio determinou.
Mas aquilo que por caminho desenfreado
abandona a ordem definida
não pode ter feliz resultado.
.
In: Consolação da Filosofia,
Metro 6, pág 39
Fundação Calouste Gulbenkian, 2011
Tradução de Luís M. G. Cerqueira

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