sexta-feira, 5 de abril de 2013

José Tolentino Mendonça - de » A Estrada Branca«



A ESTRADA BRANCA

Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate

O PASSO DO ANJO
Pelas escarpas, nos atalhos de areia e erva
em matas sombrias onde as faias se renovam
os animais já não vigiam
já ninguém os persegue
a chuva desenha círculos perfeitos
nos poços dos aldeões
como nos charcos
o restolhar de prata da folhagem
previne do passo do anjo, na escuridão

LILASES


Quando por fim a cifra infinita                
que dois mundos combinam
esplender inteiramente seus motivos

a cada um caberá olhar                        
na lâmina de ouro
um nome inefável

o que buscámos sem um gesto
o que dissemos sem uma palavra

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