G. K. Chesterton: «Nós na verdade não queremos uma religião que esteja certa quando nós estamos certos. O que queremos é uma religião que esteja certa quando nós estamos errados.» -- The Catholic Church and Conversion
Depois que a corporal necessidade Se satisfaz do mantimento nobre, E na harmonia e doce suavidade Viram os altos feitos que descobre, Tethys, de graça ornada e gravidade, Para que com mais alta glória dobre As festas deste alegre e claro dia, Para o felice Gama assim dizia:
- «Faz-te mercê, Barão, a Sapiência Suprema de cos olhos corporais Veres o que não pode a vã ciência Dos errados e míseros mortais. Segue-me firme e forte, com prudência, Por este monte espesso, tu cos mais.» - Assim lhe diz, e o guia por um mato Árduo, difícil, duro a humano trato.
Não andam muito, que no erguido cume Se acharam, onde um campo se esmaltava De esmeraldas, rubis, tais que presume A vista que divino chão pisava. Aqui um globo vêem no ar, que o lume Claríssimo por ele penetrava, De modo que o seu centro está evidente, Como a superfície, claramente.
Qual a matéria seja não se enxerga, Mas enxerga-se bem que está composto De vários orbes, que a divina verga Compôs, e um centro a todos só tem posto, Volvendo, ora se abaixe, ora se erga, Nunca se ergue ou se abaixa, e um mesmo rosto Por toda a parte tem, e em toda a parte Começa e acaba, enfim, por divina arte.
Uniforme, perfeito, em si sustido, Qual enfim o Arquétipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido De espanto e de desejo, ali ficou. Diz-lhe a deusa: o transunto, reduzido Em pequeno volume, aqui te dou Do mundo aos olhos teus, para que vejas Por onde vás e irás e o que desejas.
Vês aqui a grande máquina do mundo, Etérea e elemental, que fabricada Assim foi do saber alto e profundo, Que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em redor este rotundo Globo e sua superfície tão limada, É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende, Que a tanto o engenho humano não se estende.