Salam! Neste Sábado, deixo-vos este belíssimo
conto da sabedoria sufi. Uma parábola sobre a busca das criaturas pela união com
a essência Divina:
Um grupo de pássaros desejava encontrar a
seu rei; então pediram à poupa sábia (um pássaro com crista em forma de abano)
que lhes ajudasse em sua busca. A poupa lhes disse que o rei que estão
procurando se chama Simurgh
(que significa em persa “Trinta Pássaros”) e que vive escondido na montanha de
Qaf, porém é uma viagem muito difícil e perigosa. Os pássaros imploram à poupa
que os guie. A poupa aceita e começa a ensinar a cada pássaro de acordo com seu
nível e temperamento. Ela lhes diz que para alcançar o alto da montanha,
necessitam atravessar cinco vales e dois desertos; quando tiverem passado o
segundo deserto, entrarão no palácio do rei.
Os de vontade débil, temerosos da viagem,
começam a dar desculpas. O louro, que é egocêntrico e egoísta, diz que em lugar
de ir em busca do rei, buscará o Santo Gral. O pavão real, a ave legendária do
paraíso, exclama que tem sonhado que voltará ao céu e que vai esperar
pacientemente esse dia. A pata, se lamenta porque sua vida depende de estar
próxima da água e morreria se separasse dela. A garça tem uma desculpa similar;
não lhe é possível viajar longe do mar, porque seu amor pela água é tão grande
que, embora permaneça sentada durante anos à sua margem, não tem ousado beber
nem uma gota, se não o mar acabaria sem água. A coruja declara que prefere ficar
e buscar as ruínas com a esperança de encontrar um tesouro algum dia. O rouxinol
diz que não necessita viajar, porque está enamorado da rosa e este amor é
suficiente para ele. Possui os segredos do amor que nem outra criatura tem; e
com uma voz maravilhosa canta ao amor:
- Conheço os segredos do amor. Toda noite
derramo meu canto de amor. A música mística da flauta se inspira em meu lamento,
e sou eu quem faz desabrochar a rosa e comover os corações dos namorados. Ensino
mistérios com minhas tristes notas, e quem me ouve se perde em êxtase. Ninguém
conhece os meus segredos, unicamente a rosa. Tenho me esquecido de mim mesmo e
só penso na rosa. Alcançar a Simurgh está acima de mim! O amor da rosa é
suficiente para o rouxinol!
A poupa que escutou pacientemente responde
ao rouxinol:
- Tu estás preocupado com a forma exterior
das coisas, pelos prazeres de uma forma sedutora. O amor da rosa tem lançado
espinhos no teu coração. Não importa quão grande seja a beleza da rosa, se
desvanecerá em poucos dias; e o amor a algo tão passageiro só pode causar
repulsa ao perfeito. Se a rosa te sorri é só para encher-te de dor, porque ela
ri de ti a cada primavera. Abandona a rosa e seu quente
calor.
"O que quer dizer Attar com esta simples
conversação? Nós humanos temos o desejo de buscar a perfeição, mas muitas vezes
tendemos a parar o processo tão logo detectamos o mais ligeiro sinal de
progresso. Isto é especialmente certo nos aspirantes ao caminho espiritual:
muitos buscadores estão encantados com as primeiras etapas do despertar e o
confundem com a completa iluminação. Attar nos adverte de tais perigos: não
devemos confundir o amor do imaginário com o amor do Real. Por esta razão, o
rouxinol tem que abandonar seu enganoso apego pela rosa para buscar ao eterno
Amado.”
A Linguagem dos Pássaros, miniatura do séc. XVI |
A poupa deleita os pássaros com maravilhosas histórias daqueles que têm feito a perigosa viagem.
Depois de ter ouvido as histórias da poupa,
os pássaros estão inspirados para começar sua viagem até o primeiro
vale.
Entretanto, logo começam a ter problemas, e
se dão conta de que o caminho vai ser mais difícil do que haviam imaginado.
Alguns voltam a por desculpas. Um afirma que a poupa não é suficientemente sábia
para conduzi-los. Outro se queixa que satanás o tem possuído e lhe está pondo
as coisas difíceis. E outro expressa seu desejo de ter dinheiro e a comodidade
de uma vida de luxo.
Finalmente, a poupa decide que a única
forma para que os pássaros compreendam, é descrever-lhes os sete vales e
desertos da viajem. O primeiro é o Vale da Busca. Aqui se busca a Verdade com
inquietude, diz a poupa. Com constância, se busca um significado maior ao
propósito da vida. Só um buscador com dedicação pode atravessar a salvo o
primeiro vale e ir ao segundo, o Vale do Amor. Aqui se sente um desejo ilimitado
de ver ao Rei Amado. Um fogo abrasador começa a crescer no coração e se faz
devastador. O lugar é mais perigoso que o primeiro vale, porque há obstáculos no
caminho para por a prova o amor. Entretanto esse mesmo amor impulsiona ao
buscador sair do vale e ir até uma terra mais alta: o terceiro vale, o Vale do
Conhecimento. Uma vez que se entra nesta terra, o coração se ilumina com a
verdade. Se adquire aqui o conhecimento interior do Amado. Deste lugar o
viajante continua a viagem ao Vale do Desapego, onde perde seus desejos de
possessões mundanas. Não existe ataduras com o mundo material para o viajante
que atravessa esse vale; liberado dos desejos agora o aspirante é completamente
independente.
Cada novo lugar que o buscador encontra é
mais perigoso que o anterior e deve ser explorado passo à passo, porque cada um
contém suas próprias provas e dificuldades. Assim, cada encontro com uma terra
diferente é uma experiência nova.
O quinto vale é o Vale da Unidade. O
viajante experimenta nele que todos os seres são unos em essência, que toda
variedade de ideias, experiências e criaturas da vida têm realmente uma só
fonte.
O viajante chega ao Deserto do Medo. Então
se esquece da existência de si mesmo e de todos os demais. Vê a luz, não com os
olhos da mente, sim com os olhos do coração. A porta do divino tesouro, o
segredo dos segredos, se abre. Nesta terra, o intelecto já não funciona. Aqui se
pergunta ao viajante quem é e o que és, responde: “Não sei nada.”
Finalmente chega ao Deserto do Aniquilamento
e da Morte. Neste ponto, o aspirante entende finalmente como uma gota se funde
no oceano da unidade com o Amado. Tem encontrado o destino da viagem para
encontrar ao rei.
Depois de ouvir a descrição da poupa sobre o
que os espera, os pássaros se animam tanto que imediatamente continuam sua
viagem.
No caminho alguns morrem pelo calor e se
jogam no mar. Outros se cansam e não podem continuar; um grupo é caçado por
animais selvagens e outros mais se distraem tanto pelo atractivo das terras que
atravessam, que se perdem e ficam para trás. Só trinta alcançam seu destino: a
montanha de Qaf.
No palácio real, o guarda da entrada trata
cruelmente os trinta pássaros. Mas os pássaros, que têm passado o pior, são
tolerantes e não se permitem sentir-se molestados por sua dureza. Finalmente, o
servidor pessoal do rei sai e conduz os pássaros ao salão real. Ao entrar, os
pássaros olham tudo assustados. Não sabem o que ocorre, porque no lugar de ver a
Simurgh, “Trinta Pássaros”, tudo o que vêm é... Trinta Pássaros.
Finalmente compreendem que, olhando-se a si
mesmos, têm encontrado ao rei, e que em sua busca do rei, se têm encontrado a si
mesmos.
Os que atravessam as sete cidades do amor se
purificam. Quando chegam ao palácio real, encontram ao rei que se revela a seus
corações.
Autor: Fariduddin Attar, séc. XII
(extraído do livro: História de la Tierra de los Sufíes)
Fonte: Poesia Sufi / Chá-deLima da Pérsia
Olá David, obrigada por repassar esta postagem e seguir o meu blog!
ResponderEliminarSaudações do Brasil!
Janaina Elias
azizamiran.blogspot.com.br
Saudações, Janaina Elias (muito, muito atrasadas, me desculpe).
ResponderEliminarSigo o seu blog com o prazer da descoberta.
David