domingo, 3 de março de 2013

Fernando Pessoa (1888-1932)

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
por Alberto Caeiro
Escrito em 4-3-1914.


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas ...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas                       
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.


 
A morte é a curva da estrada
 
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).- 142.

Escrito em 23-5-1932

                                                                                 F. Pessoa por Almada Negreiros


A morte é a curva da estrada,         
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
 

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