Vida de São João de Deus, santo português
by MurilloCRONOLOGIA:
1495 Nasce S. João de Deus (João Cidade) em Montemor-o-Novo – Évora.
1503
Deixa a sua casa e fixa-se em Oropesa (Espanha).
1520 Morre o seu Pai num convento em Lisboa.
1523
Combate no Exército de Carlos V, na reconquista aos franceses de Fuenterrabia, nos Pirineus.
1524
Regressa a Oropesa.
1532
Novamente soldado. Agora em Viena contra os turcos.
1533 Regressa a Montemor-o-Novo. Segue para Sevilha.
1535
Dirige-se a Ceuta (portuguesa); trabalha na fortificação da cidade e ajuda uma família em extrema necessidade.
1538 Volta a Espanha e vende livros em Gibraltar. Transfere-se depois para Granada onde abre uma pequena livraria.
1539
Em 20 de Janeiro, durante o sermão da festa de S. Sebastião passa por uma crise de conversão que o leva ao hospital, dado como louco.
1539
No Outono funda um hospital na Rua Lucena.
1546 Recebe os primeiros discípulos: Antão Martin e Pedro Velasco
1547
Transfere o seu hospital para um edifício maior, antigo convento, na Encosta de Los Gomeles.
1548 Vai a Valladolid à corte pedir auxílio ao Príncipe Filipe (II).
1549 Salva os doentes do Hospital Real incendiado.
1550 A 8 de Março morre na Casa dos Pisas, em Granada.
João nasceu na cidade de Montemor-o-Novo (Évora, Portugal), em 1495. Com oito anos de idade, juntamente com um clérigo que pernoitou em sua casa, foi para a Espanha e fixou-se em Oropesa (Toledo) ao serviço da família de Francisco Cid Maioral, que se dedicava à criação de gado. Acompanhado por essa família decorreu quase a metade da sua vida. João foi pastor durante quase vinte anos. Todos apreciavam o seu trabalho. Durante esse tempo foi amadurecendo o verdadeiro sentido da sua vida, passando pelas vicissitudes próprias da adolescência e juventude. Por duas vezes saiu de Oropesa e ambas para integrar contingentes militares. Em 1523 deslocou-se até à fronteira com a França, em Fuenterrabía. Nesta experiência, porém, não se saiu muito bem e chegou a estar condenado a morte. Regressou a Oropesa, vencido. Em 1532 seguiu para Viena (Áustria) para combater os Turcos. E já não voltaria mais a Oropesa. Ao regressar de Viena, de barco, entrou na Espanha pela Galiza, visitou o santuário de S. Tiago de Compostela e dirigiu-se à sua terra natal, Montemor-o-Novo, onde teve notícia da morte dos pais e não encontrou quase ninguém conhecido. Sentiu então, fortemente o chamado a seguir Jesus Cristo, dedicando-se aos pobres e aos doentes. Convidado a ficar, preferiu seguir de novo para Espanha, sem rumo definido, mas inquieto. Ficou alguns meses em Sevilha, depois Ceuta e Gibraltar, finalmente, Granada, onde se estabeleceu como livreiro.
Vendia livros de cavalaria, mas também de conteúdo e caráter religioso, pelos quais cobrava mais barato. Em 1537, escutando um sermão de S. João de Ávila no eremitério dos Mártires, sentiu-se profundamente tocado… saiu do eremitério aos gritos, dizendo-se grande pecador, atirando-se no chão e, destruiu a sua livraria… Escolheu como guia espiritual S. João de Ávila. Foi em peregrinação ao Santuário da Virgem de Guadalupe, onde aproveitou para aprender algumas técnicas para cuidados básicos de saúde na escola de medicina dos monges e no regresso, passou por Baeza, onde permaneceu com o seu Mestre durante algum tempo. Depois voltou novamente para Granada, onde iniciou a sua atividade de ajuda aos pobres, doentes e necessitados, fundando um hospital bem diferente dos existentes. Começou do nada. Na cidade, todos pensavam que se tratava de uma nova forma de loucura. Mas, aos poucos compreenderam a sua verdadeira sensatez.
Trabalhava, pedia esmolas, recolhia os pobres, dedicava-se a eles… De início, sozinho; depois, progressivamente, foram unindo-se a ele outras pessoas, voluntários, benfeitores e os primeiros discípulos. Era muito original a maneira como pedia esmola, utilizando a expressão: “Irmãos fazei o bem a vós mesmos, ajudando aos pobres”. Foi pioneiro na história da humanidade ao separar os doentes por patologia e ao dar um leito para cada paciente. Foi um profeta da caridade.
Aos 43 anos vivia na cidade de Granada, tocado por Deus e pela situação de abandono e marginalização que viviam os pobres e os doentes, deu uma virada radical em sua vida e passou da compaixão à ação. Interiorizou a convicção de que qualquer mulher e qualquer homem eram seus irmãos e passou a viver para todos os que precisavam: “chagados, tolhidos, incuráveis, feridos, desamparados, tinhosos, loucos, prostitutas, mendigos, andarilhos, órfãos, pobres envergonhados… todos, aqui, tem um lugar” dizia João em uma de suas cartas.
Por volta do ano 1539 fundou um hospital, inovador para a época, ao qual deu o nome de “Casa de Deus”, já que em cada paciente via o próprio Cristo. Nesta casa eram acolhidas todas as pessoas, sem distinção. Com a colaboração de alguns companheiros que se juntaram a ele, organizou a assistência conforme considerava que os pobres mereciam. O povo vendo tanta bondade nele começou a chamá-lo João de Deus, o Bispo de Tuy vendo que era verdade o que sobre João diziam, lhe mudou o nome de João Cidade para João de Deus. Convidava as pessoas a fazer o bem a si mesmas ajudando aos que mais precisavam, pois estava convicto de que quando alguém faz o bem aos outros é para si mesmo o bem maior. João de Deus pronunciava estas palavras com a autoridade de quem tinha feito a experiência. Ele se sentia o menor de todos e era feliz por sê-lo. Com a coragem dos profetas e uma postura de não-violência, denunciou as injustiças sociais, desmandos morais e a desumanização dos cuidados em hospitais. Foi voz para os fracos e excluídos em meio a uma sociedade marcada pelo egoísmo, fanatismo religioso e muitas injustiças. Resumimos a sua postura de acolhimento integral às pessoas com a palavra HOSPITALIDADE .
Ela era misericodiosa, solidária, holística, criativa, profética e geradora de seguidores. Sua hospitalidade não conhecia fronteiras. Seu estilo atraiu muitos discípulos. Estes, ajudados por muitos, continuaram e ainda continuam o seu trabalho. Fundaram outros hospitais, embarcaram em muitas missões. Em 1572 o Papa reconheceu-os como Instituto Religioso para o carisma da Hospitalidade, considerando que, “era a flor que faltava no jardim da Igreja”. Hoje, os Irmãos de São João de Deus estão presentes nos cinco continentes em 50 países, com cerca de 300 obras apostólicas. São João de Deus é o patrono dos doentes, dos hospitais e dos enfermeiros. No dia 8 de Março de 1550, de joelhos, entregou a sua alma a Deus. Tinha nas mãos um crucifixo. Morreu como tinha vivido: de joelhos perante Deus, abraçando a cruz redentora de Cristo. João de Deus soube arriscar tudo pela causa que servia. Arriscou a saúde, a fama, a vida! A sua festa celebra-se no dia 8 de Março.
É sabido que São João de Deus fazia o bem a todos quanto pudesse e até o que não pudesse. Seus inscritos e suas cartas relatam que ele se endividou a fim de poder acolher a todos que necessitassem e não lhes deixar faltar nada. Pedia esmolas dia e noite e dedicava a sua vida inteiramente ao próximo. Algumas histórias são contadas por terem um teor inusitado. Estão a seguir:
O MENDIGO QUE NÃO ERA POBRE:
Ocorreu que um homem, desconfiado de João de Deus e da “loucura” com que dizia levar a sua vida – porque para muitos trata-se de verdadeira loucura abandonar a própria vida em favor dos outros – quis testar a João de Deus para saber se ele realmente usava as esmolas que conseguia para cuidar dos pobres. Ao ver João de Deus aproximar-se pelo caminho, deu-lhe uma esmola. Saiu dali apressadamente, vestiu-se de mendigo a fim de lhe testar a caridade e foi para a beira do caminho solicitar ajuda a São João de Deus. Qual não foi a surpresa do homem quando João de Deus tirou dos bolsos tudo o que tinha e entregou-lhe tudo sem hesitar. Com isso, o homem converteu-se, aderiu a causa do Santo e passou a ser Colaborador de sua obra.
AS CORTINAS QUE ALIMENTAM OS POBRES:
Certo dia, chegando João de Deus a casa de um rico, percebeu ele que as janelas de sua casa possuiam belas cortinas. Todas elas aveludadas e grossas. É sabido que na Espanha, assim como em toda Europa, os invernos são muito rigorosos e milhares de pessoas acabavam morrendo de frio por serem muito pobres. Os mesmos pobres os quais cuidava São João de Deus. Observando aquilo, João de Deus disse ao homem que enquanto as janelas de sua casa eram cobertas por cortinas luxuosas, com tecidos finos, os seus pobres morriam de frio por falta de roupas. O homem sentiu-se tão envergonhado com tal comentário, que mandou que fossem retiradas todas as cortinas da casa e serem entregues a João de Deus. Ao recebê-las, João de Deus agradeceu-lhe. E imediatamente perguntou ao homem se não gostaria de comprar as tais cortinas, pois estava precisando de dinheiro para os pobres.
ORAÇÃO A SÃO JOÃO DE DEUS Senhor, que inflamastes São João de Deus no fogo da caridade para que fosse na terra o Apóstolo dos pecadores, Socorro dos pobres e Saúde dos doentes; no céu o constituístes Alívio dos que sofrem, Padroeiro e Modelo dos profissionais de saúde. Concedei-nos, por sua intercessão, a graça que neste momento vos pedimos, prometendo imitá-lo nas suas virtudes, na construção do Vosso Reino de Paz, Justiça, Amor e Misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém.
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