Assine e divulgue a ILC contra o acordo ortográfico, aqui: http://ilcao.cedilha.net/
ACORDO ORTOGRÁFICO: O CADÁVER ADIADO - artigo publicado no início de 2013 no DN
No Brasil,
tratava-se fundamentalmente de sacrificar o trema e o acento agudo em meia dúzia
de casos. E ninguém se resignava às regras absurdas de emprego do hífen... Com
isso, bastou o abaixo-assinado de uns 20 mil cidadãos para se adiar a aplicação
de uma coisa trapalhona denominada Acordo Ortográfico (AO). Os políticos ouviram
a reclamação, estudaram-na e assumiram-na, e a sr.ª Rousseff
decidiu.
Em Portugal, o
número de pessoas que tomaram posição contra o AO já ultrapassava as 120 mil em
Maio de 2009. Hoje, e considerando tanto o Movimento contra o AO de então como a
actual Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) com a mesma finalidade, esse
número é incomparavelmente mais elevado.
Portugal bem
pode propor a todos os quadrantes ideológicos e parlamentares da sua classe
política que se assoem agora a este cruel guardanapo.
Faltou-lhes a
coragem de respeitar as opiniões autorizadas, a capacidade de reflectir com
lucidez sobre o assunto, a vontade cívica de se informarem em
condições.
Acabaram a
produzir este lindo serviço, com a notável excepção do relatório Barreiras
Duarte, aprovado por unanimidade na Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e
Cultura (Abril de 2009), mas que não teve qualquer efeito prático.
A CPLP, ao
engendrar o torpe segundo protocolo modificativo do AO, violou sem escrúpulos o
direito internacional e traiu a língua portuguesa. Não serve. Mostrou total
inconsciência, incompetência, incapacidade e oportunismo na
matéria.
Agora, é
evidente que, de três, uma: ou o Brasil vai propor uma revisão do AO, ou tratará
de a empreender pro domo sua sem ouvir os outros países de língua portuguesa, ou
fará como em 1945, deixando-o tornar-se letra morta por inércia pura e
simples.
No primeiro
caso, mostra-se a razão que tínhamos ao insistir na suspensão do AO, a tempo,
para revisão e correcção. A iniciativa deveria ter sido portuguesa e muitos
problemas teriam sido evitados.
No segundo
caso, mostra-se além disso que continuamos a ser considerados um país pronto a
agachar-se à mercê das conveniências alheias. Com a desculpa, a raiar um
imperialismo enjoativo, da "unidade" da língua, em Portugal haverá sempre umas
baratas tontas disponíveis para se sujeitarem ao que quer que o Brasil venha a
resolver quanto à sua própria ortografia. Foi o que se passou em 1986 e
1990.
No terceiro
caso, mostra-se ainda que ficaremos reduzidos a uma insignificância
internacional que foi criada por nós mesmos.
Mas, em
qualquer dos casos, a situação será muito diferente da actual.
O Acordo
Ortográfico não ficará incólume e as suas regras serão revistas e modificadas.
Ninguém esconde no Brasil esta necessidade de revisão e correcção, tão cultural,
social e politicamente sentida que está na base do adiamento
decretado.
Se as regras
vão ser modificadas, e quanto a este ponto não pode subsistir qualquer espécie
de dúvida, será um absurdo absoluto que se mantenha a veleidade de as aplicar em
Portugal na sua forma presente.
Não se pode
querer contestar oficial ou, sequer, oficiosamente a existência de três grafias,
nada menos de três, como resultado grotesco de uma tentativa sem pés nem cabeça
de uniformização delas em todos os países que falam português: a brasileira, a
angolana e moçambicana e a irresponsável que é a portuguesa.
Torna-se
imperativo o reconhecimento oficial de que a única ortografia que está em vigor
em Portugal é a que já vigorava antes das desastrosas pantominas que foram
empreendidas pelo Governo Sócrates.
No meio desta
vergonha, o mais simples é:
a)
reconhecer-se que o AO nunca entrou em vigor por falta de ratificação de todos
os estados signatários; pressuposto
essencial da sua aplicação que é o vocabulário ortográfico comum que nem sequer
foi iniciado;
b)
suspender-se tudo o que se dispôs em Portugal quanto à aplicação do AO,
nomeadamente no plano das escolas, dos livros escolares e dos serviços do
Estado;
c) tomar-se a
iniciativa de negociações internacionais com vista a uma revisão e correcção do
AO por especialistas dignos desse nome.
O Acordo
Ortográfico é tão mal feito que nem o Brasil o aceita... Logo à nascença, já era
um cadáver adiado. Com vénia de Fernando Pessoa, agora não se pode deixar que,
sem a necessária revisão, ele procrie seja o que for.
Vasco
Graça Moura in Diário de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário