quarta-feira, 22 de maio de 2013

Francisco de Holanda, 3 das «Imagens das Idades do Mundo»


Francisco de Holanda foi um dos mais relevantes expoente da reflexão estética no renascimento português. Pintor e humanista, nascido em Lisboa em 1517, filho de António de Holanda, cuja projecção no âmbito da pintura e da iluminura se havia já firmado entre nós, é na escola de seu pai que adquire os primeiros conhecimentos da arte da pintura. Em 1537 parte para Roma no âmbito da política cultural de D. João III que tanto estimulou a presença de bolseiros portugueses nos maiores centros da cultura europeia da época.
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Aportando a Itállia já com uma importante bagagem cultural adquirida em Évora, viria a considerar-se discípulo de Miguel Ângelo, relatando nos Diálogos em Roma os aspectos mais marcantes e fecundos do seu convívio com o mestre italiano.


Na obra deste pintor português, o maneirismo está presente através do aspecto que melhor o define: a premissa teórica da Ideia, concebida platonicamente como fonte da beleza e recondizida, em última análise, ao intelecto divino. Encarada pelos tratadistas italianos como "scintilla della divinitá", a ideia é um reflexo, no entendimento humano, do modelo eternamente imanente ao intelecto divino, do qual procedem todas as criaturas. Ao artista, ser privilegiado, é dado imitá-la, nela reconhecendo os aspectos universais da natureza, identificados com a verdade.
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Nestes termos, a pintura humana consiste num criar de novo, numa função plástica inanimante, pois que o pintor «encerra em si aquela ideia criada no entendimento criado, com que imita ou quer imitar as divinas ciências incriadas com que o muito poderoso Senhor Deus criou todas as obras».
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Mas sendo fonte da pintura e primeiro pintor, Deus é também a causa primeira da pintura humana, pois F.H. considera a ideia directamente infundida por Deus no génio do artista, ou por palavras suas «naturalmente dada pelo Sumo mestre Deus, gratuita no entendimento», sendo também aqui que reside a possibilidade por si enunciada de uma vivência mística, na tradição do neoplatonismo medieval, estabelecendo-se a contemplação divina pelo elo da ideia.
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Abre-se-nos então o vasto domínio da aprendizagem a propósito do qual se revela possuído do ideal de um saber enciclopédico, transformando a pintura na mais completa e difícil de todas as artes humanas, reclamando, em consequência, um ambiente de liberdade incompatível com a organização corporativa vigente nesta época.
                                                                                                                         
                                                                                                                          (Fonte: Instituto Camões)
Imagens de "De Aetatibus Mundi Imagini"


























Obras
Francisco de Holanda, Retrato de Miguel Ângelo (Antigualhas, f. 2). Biblioteca de San Lorenzo de El Escorial.
Os Desenhos de Antigualhas que viu Francisco de Holanda, Pintor Português (1539-40);
De quanto serve a ciência do desenho e entendimento da arte da pintura na república cristã assim na paz como na guerra (1571); 
De Aetatibus Mundi Imagines (1543-1573);
Da Pintura Antiga (1548), introdução, notas e comentário de José da Felicidade Alves, Lisboa, 1984; 
Diálogos em Roma (1548), introdução e notas de José da Felicidade Alves, Lisboa, 1984; 
Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa (1571), introdução e notas de José da Felicidade Alves, Lisboa, 1984; Do Tirar Polo Natural (1549), introdução e notas de José da Felicidade Alves, Lisboa, 1984.

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