segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Três poemas de Avelino de Sousa

Sigo as tuas pegadas pela praia
em busca de teu corpo de azevinho.
És como um búzio onde se ouve o mar,
como a onda que alaga e se retrai,
como um vinho novo que se bebe.
Sigo tuas pegadas, mas não te encontro.
És como a rocha aonde a vaga cai
e rebenta numa maré de espuma.
Ou te sumiste ou não mereço ter-te.
Por isso, agora há só o grito das gaivotas
e a luz tardia desmaiada             :bruma

Avelino de Sousa, Poemas, 2005.





















Disseste-me em surdina ao meu ouvido
palavras que não ouso revelar.
Todo o segredo havido entre nós dois
só o partilharemos com o mar.
Disseste-me palavras nunca ouvidas,
palavras de desejo, ciciadas,
que só os amantes pronunciam
e se fundem no som alto das vagas.
O que me disseste e o que eu te disse
p'ra sempre o haveremos de calar.
A não ser que outros amantes as escutem
na rebentação larga do mar.

 Avelino de Sousa, In Poemas, 2005



Ias na proa da barca, singela.
Teu olhar vogava à flor das águas
e tua mão tocava-as, distraída.
Eu era teu barqueiro.
Fazia deslizar os remos, silencioso.
Mas já atearas em meu corpo
o rastilho do amor. E como a mariposa,
era atraído à tua chama intensa.
Só me falta arder no teu incêndio.

Avelino de Sousa, Poemas, Ed. de Autor, 2005


3 comentários:

  1. Belíssimos poemas de Avelino de Sousa, bem como, as imagens que os ilustram. Parabéns pela postagem caríssimo David!
    Grande abraço!
    Elaine! : )

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  2. Poemas de amor um ritmo, uma vibração e um respirar deslumbrantes.

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