sábado, 1 de junho de 2013

1 de Junho, dia da Criança

Em Louvor das Crianças                   
Eugénio de Andrade

Se há  na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. 
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus. 

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

Passarinho no Sapé  

 Cecília Meireles



P tem papo o P tem pé.
É o P que pia? (Piu!) Quem é?
O P não pia: O P não é. 
O P só tem papo e pé. 
Será o sapo? O sapo não é. 
(Piu!) É o passarinho
que fez seu ninho no sapé. 
Pio com papo. Pio com pé. 
Piu-piu-piu: Passarinho. 
Passarinho no sapé.

A Borboleta                            

Olavo Bilac
Trazendo uma borboleta, 
Volta Alfredo para casa. 
Como é linda! é toda preta, 
Com listas douradas na asa.
 Tonta, nas mãos da criança, 
Batendo as asas, num susto, 
Quer fugir, porfia, cansa, 
E treme, e respira a custo. 
 Contente, o menino grita: 
"É a primeira que apanho,
 "Mamãe! vê como é bonita
"Que cores e que tamanho! 
 "Como voava no mato! "
Vou sem demora pregá-la 
"Por baixo do meu retrato, 
"Numa parede da sala".
 Mas a mamãe, com carinho, 
Lhe diz: "Que mal te fazia,
 "Meu filho, esse animalzinho, 
"Que livre e alegre vivia? 
 "Solta essa pobre coitada! 
"Larga-lhe as asas, Alfredo! 
"Vê com treme assustada . . . 
"Vê como treme de medo . . . 
 "Para sem pena espetá-la 
"Numa parede, menino, 
"É necessário matá-la: 
"Queres ser um assassino?" 
 Pensa Alfredo . . . E, de repente, 
Solta a borboleta . . . E ela 
Abre as asas livremente,
 E foge pela janela. 
 "Assim, meu filho! perdeste 
"A borboleta dourada, 
"Porém na estima cresceste 
"De tua mãe adorada . . . 
 "Que cada um cumpra sua sorte 
"Das mãos de Deus recebida: 
"Pois só pode dar a Morte 
"Aquele que dá a Vida!"
                                                 
 

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