quarta-feira, 5 de junho de 2013

2 Poemas de Georg Trakl

Georg Trakl

No Outono

Junto à cerca, os girassóis e o seu brilho,
Doentes sentados ao sol, sem alento.
No campo, as mulheres cantam no trabalho,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.

Os pássaros contam lendas de encantar,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.
Há um violino no pátio a gemer.
E já o vinho escuro vão recolhendo.

Todos parecem felizes, libertos,
E já o vinho escuro vão recolhendo.
Os jazigos dos mortos estão abertos,
Pintados pelo sol que vai entrando.


em A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas, selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento, Lisboa: Relógio D' Água, 2001, p. 223.


NASCIMENTO

Montanhas: negridão, silêncio, neve.
Vermelha, a caçada sai da floresta;
Oh! O musgoso olhar do animal .

O silêncio das mães; debaixo dos abetos negros
Abrem-se as mãos adormecidas,
Quando, em ruínas, a lua aparece.

Oh! O nascimento do Homem. Nocturna, a água azul
Rumoreja ao fundo do penhasco.
Suspirando, o anjo caído vê o seu rosto.

Uma palidez acorda no quarto embotado.
Duas luas
Iluminam os olhos da velha empedernida.

Ó aflição! O grito do parto. Com asas negras
A têmpora do rapaz encosta-se à noite,
Neve que suavemente cai das nuvens purpúreas.


De Caspar David Friedrich


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