sexta-feira, 31 de maio de 2013

Joana d'Arc

1431: Joana D'Arc morre na fogueira      

Joana D'Arc foi queimada numa fogueira em praça pública a 30 de maio de 1431 na cidade francesa de Rouen. A jovem filha de camponeses liderou a luta contra a ocupação inglesa em 1429, na Guerra dos Cem Anos. Fez ontem 582 anos.
Napoleão Bonaparte certa vez disse: "Um francês pode fazer milagres ao ver a independência do país ameaçada". Ainda hoje, Joana D'Arc é um símbolo nacional para os franceses. Vários livros com sua biografia e diversos filmes foram lançados sobre a ingénua, porém corajosa filha de lavradores do interior da França.
Joana D'Arc nasceu em Domrèmy-la-Pucelle na noite de Epifania de 1412. Já em vida, se tinha tornado uma lenda, as pessoas queriam vê-la e tocá-la. Em 1429, entrou para a história da França ao escrever uma carta ao chefe da ocupação inglesa:

"Rei da Inglaterra, autointitulado regente do Império Francês, entregue à virgem enviada por Deus, imperador do céu, a chave de todas as cidades que Sua Alteza tomou dos franceses. Se não o fizer, Sua Alteza já o sabe, eu sou general. Em todo lugar na França que encontrar da sua gente, vou expulsá-la."
Teria sido ousadia ou ingenuidade a oferta feita por Joana, então com 16 anos, ao seu rei, Carlos VII, de expulsar os invasores ingleses de Orléans e assim ajudá-lo a garantir-se no trono da França? Ao se apresentar como enviada divina, ajudou a projectar seu nome na história.
Oficialmente, ninguém contestava a necessidade de expulsar os britânicos. Mesmo assim, o rei e seus consultores preferiram mandar averiguar quem era aquela jovem. Doutores, religiosos, guerreiros, ninguém encontrou ressalvas à pura Joana, apenas o bem, a inocência, a humildade, a honestidade e a submissão. 
Enviada por Deus                             

Joana apareceu para salvar os franceses justamente no momento em que eles acreditavam
que apenas um milagre poderia ajudá-los. E a Joana vestida de guerreiro, um enviado de Deus, incorporou esta esperança. O povo via nela a concretização de um antiga profecia, segundo a qual a França seria salva por uma virgem. Uma propaganda ideal para a corte. Era a oportunidade para motivar suas tropas, que a esta altura estavam com a imagem um tanto desgastada.
Joana, a salvadora. Com o passar dos séculos, ela foi chamada de tudo: bruxa, santa, feminista, nacionalista, heroína. E, na tela, é apresentada como um tipo de adolescente rebelde, altruísta, apegada aos ideais.
Mas, retrocedendo na história: depois que ela foi discutida em pormenor por uma comissão da corte, recebeu o uniforme completo de cavaleiro e começou a lutar pela libertação. Orléans estava sitiada pelos ingleses há seis meses. Uma tropa de cinco mil homens pretendia forçar os 30 mil habitantes a se entregar. Apesar de não ser um integrante activo nos planos dos militares franceses, o espírito de luta de Joana – e talvez apenas sua presença – trouxe a vitória aos franceses.
No dia 8 de maio de 1429, ela foi festejada pelos moradores de Orléans como enviada divina. E seguiram-se ainda muitas vitórias até a coroação de Carlos VII em Reims. Os ingleses, derrotados, iniciaram uma conspiração contra Joana, que acusavam de bruxaria. Ela foi presa em 1430 e condenada pela Inquisição a morrer na fogueira, depois de 20 meses de julgamento.
 Frases de Joana D'Arc   

"Assegurem-se de estar corretos com Deus, ataquem e a vitória será de vocês" - durante o ataque à Les Tourelles
"Tinha de ir até o delfim mesmo que tivesse de gastar minhas pernas até o joelho" - testemunho durante o julgamento de reabilitação
"Não sei nada de A e B, mas venho em nome de Deus acabar com o cerco de Orléans e levar o rei a Reims para sua coroação" - resposta dada aos doutores da Igreja quando foi questionada sobre sua missão
"Não tenham dúvida, a hora chega quando Deus quer. Ajam, que Deus agirá!" - motivação dada aos soldados durante questionamentos rumo à Reims

"Existe uma única coisa que temo: a traição" - resposta dada quando foi questionada se não sentia medo
"Essas roupas não afligem minha alma. Quanto às roupas femininas, não as porei enquanto isso não agradar a Deus" - sobre o fato de vestir roupas masculinas no decorrer de todo seu julgamento
" Agrada a Deus que assim seja, uma simples donzela expulsar os inimigos do rei" - extraído de seu processo
"As crianças pequenas dizem que, algumas vezes, homens são enforcados por terem dito a verdade" - desabafo durante uma conversa
"Tenho mais medo de cometer uma falta dizendo algo que desagrade essas vozes do que de não lhe responder" - durante o julgamento, quando foi pressionada pelo bispo Cauchon
"Eu os perdôo!" - últimos momentos da execução, enquanto as chamas roíam seu corpo.


Excerto do filme "A Paixão de Joana d'Arc" de
Carl T. Dreyer (1928)



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Cesare Pavese




A MORTE VIRÁ E TERÁ OS TEUS OLHOS   Trad. José Carlos Brandão

A
morte virá e terá os teus olhos –
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos

serão uma palavra vã,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês cada manhã
quando, sob ti só, pendes
no espelho. Oh, que esperança,
nesse dia saberemos, também nós,
que és a vida e és o nada.

A morte tem um olhar para todos.
A morte virá e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
ressurgir uma face morta,
como ouvir os lábios fechados.
Desceremos mudos ao abismo.



VIRÁ A MORTE E TERÁ OS TEUS OLHOS    Trad. A.M.


Virá a morte e terá os teus olhos -
esta morte que nos acompanha
de manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso,
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma mera palavra,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês cada manhã
quando sobre ti mesma te dobras
ao espelho. Ó querida esperança,
nesse dia saberemos também nós
que tu és a vida e és o nada.


Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como largar um vício,
como ver no espelho
reaparecer um rosto morto,
como escutar uns lábios cerrados.
Desceremos calados no remoinho.



VIRÁ A MORTE E TERÁ OS TEUS OLHOS  Trad. Jorge de Sena


Virá a morte e terá os teus olhos

esta morte que nos acompanha

da manhã à noite, insone,

surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito emudecido, um silêncio.
Assim os vejo todas as manhãs
quando sobre ti te inclinas
ao espelho. Ó cara esperança,
nesse dia saberemos também nós,
que és a vida e és o nada.

Para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
reemergir um rosto morto,
como ouvir lábios cerrados.
Desceremos ao vórtice mudo.




segunda-feira, 27 de maio de 2013

Simplesmente, Fiama

Fiama sente a inextricável complexidade do mundo e a sua perplexidade perante ele é permanente, embora não passiva. Essa perplexidade não paralisa a investigação activa do real, antes parece estimulá-la e desenvolvê-la. Qualquer dos seus poemas é um percurso acidentado e abrupto que gera na fragilidade irredutível de uma identidade perplexa mas insubmissa.
António Ramos Rosa

Letras & Letras, 21/ 10/ 92


Ao longo de mais de trinta anos, a poesia de Fiama Hasse Pais Brandão mais não fez do que aprofundar as relações entre a linguagem e o mundo, entre as palavras e a vida, entre as imagens linguísticas e as imagens reais. Se a poesia é um som e se a obra de um poeta é o seu som, o seu sopro, então a poesia sopra através da vastidão de uma vida e arrasta nesse sopro a

imagem dos lugares por onde passou.

Gastão Cruz

Letras & Letras, 21/ 10/ 92


(...) uma das chaves para ler esta poesia é a aceitação de que, na sua opacidade,.ela é de uma transparência absoluta: Porque tudo está nela, inclusivamente a explicitação dos princípios a partir dos quais se elabora. (...) O que resulta, então, é uma arte poética das mais interessantes e acabadas da actual poesia portuguesa, que nos faz remontar, por vezes, à romântica no modo

como torna impraticável toda a diferença entre a "palavra pensante" e a palavra poética.

António Guerreiro

O Diário, 28/ 10/ 89


(…) Quanto mais nos adentramos no âmago da poesia de Fiama, mais distinto o som do universo clássico. Não se trata de um classicismo histórico, mas do veio perene da grande tradição oriental.
Mário Garcia

Brotéria, 1997





Epístola para Dédalo

Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera
se o sol todo-poderoso no alto as desfaria?
Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse:
todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar.
Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue
dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.

Fiama Hasse Pais Brandão, in Epístolas e Memorandos, 1996





Os grous?

As viagens separam-nos do passado.
Se apenas viajássemos como grous,
sem reconhecer as nações debaixo da quilha do nosso esterno,
se não trocássemos os idiomas e as unhas
com os habitantes das novas geografias,
seríamos nós. Porque o idioma
é fechado e insondável em cada criatura,
porque cada nação é o berço de uma língua
e os meus poemas noutra língua não são meus.
Quando viajamos no mundo não sabemos quem fomos.

Fiama Hasse Pais Brandão,
em Cenas Vivas, 2000


Epístola para meus medos 


Sois: os sons roucos, a espera vã, uma perdida imagem.
O coração suspende o seu hálito e os lábios tremem
sinto-vos, vindes ao rés da terra, como ventos baixos,
poisais no peitoril. Sois muito antigos e jovens,
da infância em que por vós chorava encostada a um rosto.
Que saudade eu tenho, ó escuridão no poço,
ó rastejar de víboras nos caniços, ó vespa
que, como eu, degustaste o figo úbere.
Depois, mundo maior foi a presença e a ausência,
a alegria e as dores de outros que não eu.
E um dia, no alto da catedral de Gaudí,
chorei de horror da Queda, como os caídos anjos.





«Eu vinha para a vida, e deram-me dias»
vivos com os seus lugares e espaço.

Ontem nasci sem fim, e alimentei-me
nesta mesa que em duas se reparte.
Uma aba no mar, vagante à toa,
trouxe os sabores de ondas, de orlas.
Outra aba na terra mostrou-me as pedras
polidas, úberes, gastas. Pedras
densas que me encheram o ventre
e me criaram similar à Terra.
No mar tive cristais quebrados, jóias;
na terra, tão nítida poeira branca
que fundi as formas das flores visíveis.
...E hoje é este olhar profundo
deriva das imagens pelo mundo

Imagem MinhaFicas a ler comprazida diante das rosas 
silhueta que vislumbrei compus e reanimei. 
Tinhas o perfil marcado cruamente pela luz, 
as mãos claras no colo, os cabelos despojados 
do brilho das cabeleiras soltas, mas juvenis 
e sacudidos no início da tarde com alegria. 
As páginas balouçavam do mesmo modo que as rosas 
porque ao começar a tarde nos dias de Verão 
brisas e vapores estendem-se desde o mar 
até às margens floridas. No teu banco 
adornado por festões de rosas trepadeiras 
afastas os olhos do livro não absorta 
mas para sempre atraída por inúmeras imagens. 

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Poemas Revistos"

























Para ouvir sobre e de Fiama: 

http://soundcloud.com/marisabel-branco/110-programa-fiama-hasse-brand        

Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, 15 de Agosto de 1938 - Lisboa, 19 de Janeiro de 2007) foi uma escritora, poeta, dramaturga, ensaísta e tradutora portuguesa.
A sua infância foi passada entre uma quinta em Carcavelos e o St. Julian's School. Foi estudante de Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras. Foi casada com Gastão Cruz.
Estreou-se como autora com Em Cada Pedra Um Voo Imóvel (1957), obra que lhe valeu o Prémio Adolfo Casais Monteiro. Ganha notoriedade no meio literário com a revista/movimento Poesia 61, em que publica o texto "Morfismos". É considerada como uma das mais importantes escritoras do movimento que revolucionou a poesia nos anos 60. Foi premiada em 1996 com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. O seu livro Cenas Vivas foi distinguido em 2001 com o prémio literário do P.E.N. Clube Português.
A sua actividade no teatro iniciou-se com um estágio, em 1964, no Teatro Experimental do Porto e com a frequência de um seminário de teatro de Adolfo Gutkin na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1970. Em 1974, foi um dos fundadores do Grupo Teatro Hoje, sendo a sua primeira encenadora com Marina Pineda, de Federico García Lorca. Em 1961 recebeu o Prémio Revelação de Teatro, pela obra Os Chapéus de Chuva. É autora de várias peças de teatro.
Traduziu obras de língua alemã, de língua inglesa e de língua francesa, de John Updike, Bertold Brecht, Antonin Artaud, Novalis e Anton Tchekov, entre outros.
Colaborou em publicações como Seara Nova, Cadernos do Meio-Dia, Brotéria, Revista Vértice, Plano, Colóquio-Letras, Hífen, Relâmpago e A Phala.
  • 1961 - "Morfismos", in Poesia 61
  • 1967 - Barcas Novas
  • 1970 - (Este) Rosto
  • 1974 - Novas Visões do Passado
  • 1976 - Homenagem à literatura
  • 1978 - Área Branca
  • 1978 - Melómana
  • 1985 - Âmago I/Nova Arte
  • 1986 - F de Fiama (antologia)
  • 1989 - Três Rostos
  • 1974 - O Texto de Joao Zorro (Obra poética)
  • 1991 - Obra Breve (Obra poética)
  • 1995 - Cantos do Canto
  • 1996 - Epístolas e Memorandos
  • 2000 -  Cenas Vivas
  • 2002 -  As Fábulas 


A minha homenagem ao Capitão Barros Basto (Ben-Rosh)





Na intenção de aliar a minha homenagem (tardia) à que foi prestada à memória desta ilustre figura do nosso Passado ainda tão recente, com a "Reabilitação e reintegração no Exército do Capitão de Infantaria Artur Carlos Barros Basto que foi alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937"(resolução com data de 25 de Julho de 2012) recorro ao investigador Amílcar Paulo, que em “Os Judeus Secretos em Portugal”, reproduz a história da família de Barros Basto conforme o próprio Capitão a contava. Dou pois a palavra a Amílcar Paulo:

“Segundo ele conta, num folheto de cinquenta e duas páginas, publicado em 1920 e intitulado Linhagem de Arthur Ben Rosh, é a sua família descendente em varonia de reis de Israel, tombada em desgraça com a entrada dos Romanos na Palestina. Yudah Ben-Rosh, aprisionado e feito escravo dum nobre romano, cativa a afeição do seu senhor, o qual toca lira e Kinor, entoando cânticos. O nobre seu senhor instituiu-o herdeiro de todos os seus bens, entre os quais uma villa em Espanha(*), junto a Córdova. Flávio, seu filho, vem residir nesta villa fugindo secretamente de Roma por motivo de uma insurreição na Palestina, da parte dos Hebreus contra os Romanos. No tempo do Imperador Juliano, protector dos Judeus, os Ben-Rosh distinguiram-se em Córdova. Muitos outros membros desta família ocuparam lugares de destaque quer em Granada, quer em Sevilha. No séc XIV, um seu descendente, devido a certa perseguição contra os hebreus movida pelo monge Vicente Ferrer, teve de se converter ao cristianismo – conversão aparente, com que se passou a Portugal e a praticar livremente o judaísmo. Em Portugal, o apelido Ben-Rosh evoluiu para Barros. Vejamos agora a própria narração do capitão Barros Basto:

Joseph, filho de Diogo de Barros, nasceu em Lisboa em 1452, consagrou a sua vida ao estudo da religião e da astronomia, gozando dos bens que seu pai lhe legara, vivendo em boa paz com os nazarenos e os da sua nação. Tendo morrido o rei D. João, que muito privava com a gente hebreia, sucedeu-lhe um outro de nome Manuel, que, logo que tomou o poder, ordenou que fossem mandados fora do reino todos os de nação que não quisessem ser cristãos.
Nesse tempo, Joseph e seu filho Daniel foram feitos cristãos à força, e desta arte conservaram seus benefícios, porém, em seu coração, continuaram a servir ao senhor Deus de seus pais.
Depois destes sucessos, como Joseph tivesse casa e outros bens em terras de Basto, tomou para si e para a sua família o nome de Barros Basto.”




_______
(*) Subentenda-se – Hispânia
_______
in: Amílcar Paulo, “Os Judeus Secretos em Portugal”, Editorial Labirinto, 1985
pág 40/41
_______

domingo, 26 de maio de 2013

Livros de bronze descobertos numa gruta da Jordânia entre 2005 e 2007

Livros de bronze descobertos numa gruta da Jordânia, que falam de  Jesus Cristo
                                          Notícia colocada por Luis Dufaur

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSs6CbD1wU04xf5MirbPCsRc7CvihYHQQsrnf2Rtqg3jPiYhWebSsdJ8ejS_BdNiWiauy0fRhUhz8Xhu5Y2nDw7eMlwtDxlpXRQXkc3zkfJqAZ1KjahQZBnEa6h74JL4jM65ZViwspGZ0/s640/Livrosdebronze02800.jpg
Aspecto de um dos livros em análise

Numa gruta de Saham, Jordânia, localizada numa colina com vista para o Mar da Galiléia, foram encontrados 70 livros do século I da era cristã que, segundo as primeiras avaliações, contêm as mais antigas representações do catolicismo.


Os livros têm a peculiaridade de serem gravados em folhas de bronze presas por anéis metálicos. O tamanho das folhas vai de 7,62 x 50,8 cms a 25,4 x 20,32 cms. Em média, cada livro tem entre oito e nove páginas, com imagens na frente e no verso. 



Segundo o jornal britânico "Daily Mail", 70 códices de bronze foram encontrados entre os anos 2005 e 2007 e as peças estão sendo avaliadas por peritos na Inglaterra e na Suíça.



A cova fica a menos de 160 quilómetros de Qumran, a zona onde se encontraram os rolos do Mar Morto, uma das maiores evidências da historicidade do Evangelho, informou a agência ACI Digital. 

Importantes documentos do mesmo período já haviam sido encontrados na mesma região.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvO1hmd0yfUkcfvroEnRk-IjCubLi7fBGoe8GBNDFD9m7XvpRvEF9OlpSVMtT2nDDLM0GoEaYNX5eTArJjIEdmPUDl2kxyOydi16sFOofDYM3XolQ34piHr2_QMJ_mfU-DZQH8kDSbY7E/s400/Livrosdebronze03800.jpg
A gruta onde teriam sido encontrados


No local ter-se-iam refugiado, no ano 70 d.C., os cristãos de Jerusalém, durante a destruição da cidade pelas legiões de Tito, que afogaram em sangue uma revolução de judeus que queriam a independência. 


Cumpria-se então a profecia de Nosso Senhor relativa à destruição de Jerusalém deicida e à dispersão do povo judaico.



Segundo o "Daily Mail" os académicos, que estão convencidos da autenticidade dos livros, julgam que é uma descoberta tão importante quanto a dos rolos do Mar Morto em 1947.



Nelas, há imagens, símbolos e textos que se referem a Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Paixão. 



David Elkington, especialista britânico em arqueologia e história religiosa antiga, foi um dos poucos que examinaram os livros. Para ele, tratar-se-ia de uma das maiores descobertas da história do Cristianismo. 



"É uma coisa de cortar a respiração pensar que nós encontrámos estes objectos deixados pelos primeiros santos da Igreja", disse ele.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilqvM0VsLV3Z9pFSBHMZnboiISOmDfM9B4WHpTIgzww9QbvUv0m-9f3-LRF7euJ3FIte5A46OC22ISOBUqMGi1nfT-c2nEeRiFzG9Qmzmd9s6kUNvbjYpCg4YYS82QO-hgWUZezPJOD-w/s640/SaoSimeao,bispodeJerusalem.jpg
São Simeão, bispo de Jerusalém


Com efeito, na época da desastrosa rebelião judaica, o bispo de Jerusalém era São Simeão, filho de Cleofás (irmão de São José) e de uma irmã de Nossa Senhora. Por isso, São Simeão era primo-irmão de Nosso Senhor Jesus Cristo e pertencia à linhagem real de David. 


Quando o apóstolo Santiago, "O Menor" (primeiro bispo de Jerusalém) foi assassinado pelos judeus que continuavam seguidores da Sinagoga, os Apóstolos que ficaram, em rotura com o passado, escolheram Simeão como sucessor e ele recebeu Espírito Santo em Pentecostes.



Os primeiros católicos - naquela época não tinham aparecido heresias e todos os cristãos eram católicos- lembravam com fidelidade o anúncio feito por Nosso Senhor de que Jerusalém seria destruída e o Templo arrasado. Porém, não sabiam a data. 



O santo bispo foi alertado pelo Céu da iminência do desastre e de que deveriam abandonar a cidade sem demora. São Simeão conduziu os primeiros cristãos à cidade de Pella, na actual Jordânia, como narra Eusébio de Cesárea, Padre da Igreja.



Após o arrasamento do Templo, São Simeão voltou com os cristãos que se restabeleceram sobre as ruínas. O facto favoreceu o florescimento da Igreja e a conversão de numerosos judeus pelos milagres operados pelos santos.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTRdlNEsctBMHtjRzptnvwrqW8nf8K2DVI7rB1ALvqCQXJmrxhQKJqwZjw2WsDt3NbkNnZQHpE_PPRBL2s38nrf8oNh4sLYigyBXAcvnxvA1IQ4d_usl2jlVNG4pJWiI9-ZV9JP3W1Ksc/s400/Livrosdebronze07800.jpg
Os livros geraram muita disputa


Assim, começou a reconstituir-se uma comunidade de judeus fiéis à plenitude do Antigo Testamento e ao Messias Redentor aguardado pelos Patriarcas e anunciado pelos Profetas.


Porém, o imperador romano Adriano mandou arrasar os escombros da cidade, e os seus sucessores pagãos, Vespasiano e Domiciano, mandaram matar a todos os descendentes de David. 



São Simeão fugiu. Mas, durante a perseguição de Trajano foi crucificado e martirizado pelo governador romano Ático. São Simeão recebeu com fidalguia o martírio quando tinha 120 anos, diz a tradição. (cf. ACI Digital)







































Emociona pensar que esses heróicos católicos judeus tenham deixado para a posteridade o testemunho da sua Fé inscrito em livros tão trabalhados. O facto aponta também para a unicidade da Igreja Católica.


Philip Davies, professor emérito de Estudos Bíblicos da Universidade de Sheffield, disse ser evidente a origem cristã dos livros que incluem um mapa da cidade de Jerusalém. No mapa é representada o que parece ser a balaustrada do Templo, mencionada nas Escrituras. 



"Assim que eu vi fiquei estupefacto", disse. "O que me impressionou foi ver uma imagem evidentemente cristã: Há uma cruz na frente e, detrás dela, há o que deve ser o sepulcro de Jesus, quer dizer, uma pequena construção com uma abertura e, mais no fundo, ainda os muros de uma cidade".



"Noutras páginas destes livros também existem representações de muralhas que, quase de certeza, reproduzem as de Jerusalém. E há uma crucifixão cristã acontecendo fora dos muros da cidade", acrescentou.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

António Osório, livro e dois poemas

 Título: O Concerto Interior - evocações de um poeta
Autor: António Osório
Págs: 136
PVP: 12€
Edição Brochada 

«As recordações são acompanhadas aqui de poemas. Não se trata de uma antologia — a poesia procurou sempre tornar mais clara a minha vida, e a prosa revela a verdade dos versos e das pessoas invocadas. As duas, lado a lado, buscam o encanto de caminharem juntas e de se completarem. Falta acrescentar que o mistério da existência — procurei-o sempre descobrir ao longo da vida — é o das quatro estações. Porque será que a velha glicínia segue o ritmo das jovens roseiras, essas lindas raparigas? E porque luzem na hora certa, como as constelações? De tudo resulta um concerto interior, preenchendo a alma e tornando-a digna de voltar.» António Osório

«E em cada poema, em cada texto, é o sentido do mundo que procura, o lado fraterno da existência, como se pode aferir, página a página, em O Concerto Interior. Concertante deambulação pelas recordações epoemas de um homem que nunca deixou de procurar entender o mistério das quatro estações. Em fundo talvez Vivaldi, reverberação constante dos seus dias.» Maria Leonor Nunes, JL 19/09/2012
Sobre o autor: 
Nasceu em Setúbal em 1933, filho de pai português e mãe italiana. Poeta e ensaísta é licenciado em Direito, exercendo atividade como advogado em Lisboa. Foi bastonário da Ordem dos Advogados e presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente. Pertence, desde 1999, à Academia de Ciências de Lisboa, secção de Letras. Tem sido unanimemente considerado pela crítica como uma das vozes mais consistentes da poesia portuguesa contemporânea. 

Poema de António Osório                                         



CAMÕES

Lia-me Camões meu Pai.
A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Amor doía, emaranhava.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.



O PASSADO

Olha para trás o monstro corrompido
por trinta anos de degredo,
por tanta ladainha, tanta gente,
tamanhos e tamanhos infortúnios,
lentamente destruído por tanta
ocultação, desprezo, tanto medo e raiva,
que não encontra o próprio rosto de criança.


O Mosteiro de Santa Maria de Pitões das Júnias


O Mosteiro na paisagem

O Mosteiro de Santa Maria das Júnias encontra-se localizado, num vale que fica a dois quilómetros a Sul da aldeia de Pitões das Júnias, na província de Trás-os-Montes. Pertence ao distrito de Vila Real, concelho de Montalegre, freguesia de Pitões das Júnias e localiza-se num vale estreito, de difícil acesso, isolado numa região fronteiriça.
Pitões das Júnias, situada na zona intermédia do Gerês e do Barroso, é uma pequena aldeia comunitária onde se sente que o tempo corre mais devagar. As suas gentes vivem em harmonia com a natureza, tirando dela todo o seu sustento. Com as suas casas sempre abertas para quem chega, aceitam de bom grado o bom e o mau que a natureza lhes oferece. Das terras bem tratadas retiram o centeio, da pastorícia o restante. O forno comunitário coze para toda a aldeia as grandes broas do centeio extraído das terras circundantes. As casas de granito desenvolveram-se de forma orgânica, adaptando-se às condições naturais do terreno. As ruas, estreitas e sinuosas, estão marcadas pelo vai e vem diário do gado bovino.
Para se desfrutar de uma vista geral do mosteiro é necessário subir as encostas das serras que ficam de um lado e do outro da ribeira Campesinho. Subindo a encosta da serra a nascente, vê-se a fachada posterior da igreja, com o muro do cemitério à direita e, à esquerda, a ala dos monges, que se desenvolve ao longo da ribeira. Ao subir a encosta poente tem-se uma vista panorâmica que permite ver a fachada principal da igreja, a fachada Sul, o claustro e todo o complexo monástico.














A gramática ornamental do portal

A gramática ornamental do portal enquadra-se no românico tardio da região norte do país. São muitos os exemplos onde encontramos os temas representados em Santa Maria das Júnias: no entanto não há nenhum edifício que se possa equiparar a esta singular igreja, pelo equilíbrio e sobriedade que apresenta. Se nos centrarmos apenas na sua gramática ornamental, são muitos os exemplos que podemos citar. De facto, os motivos cordiformes, as fitas dobradas e as pontas de lança, são elementos recorrentes do nosso românico. Podemos encontrá-los nas Igrejas de Manhente (Concelho de Barcelos), Ferreira (Concelho de Paços de Ferreira), Arnoso (Concelho de Vila Nova de Famalicão), entre outras, só para citar os casos em que estes elementos se combinam no portal. No entanto, qualquer dos portais citados é, não só mais perspectivado, como apresenta também colunas, o que em Santa Maria das Júnias não acontece.

Igreja de Santa Maria de Pitões das Júnias
Se atendermos às características do tímpano, podemos citar vários exemplos onde os tímpanos apresentam uma cruz vazada: Igreja de Unhão (Felgueiras), São Pedro das Águias(Tabuaço), Arnoso (Famalicão), Sé de Braga (porta do sol), todos eles próximos entre si, mas mais uma vez distantes do que acontece em Santa Maria das Júnias. Qualquer destes tímpanos, embora vazados, apresentam cruzes muito trabalhadas, geralmente ladeadas por motivos enlaçados ou por animais afrontados. O que mais se aproxima de Santa Maria das Júnias é o tímpano da porta Sul da Igreja de Arnoso (sendo o do portal principal mais próximo dos anteriormente citados).  
Pela sua contenção ornamental e pela ausência de profundidade, que se viria a acentuar progressivamente, como nos mostram os muitos exemplos do românico português, podemos ser levados a pensar que Pitões das Júnias remonta a uma época mais recuada, em especial se tivermos em consideração as informações da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que nos dão conta da existência de dois documentos no Tombo do Mosteiro de Celanova, referentes a Santa Maria das Júnias e datados de 953 e 1100.
O tímpano de Santa Maria das Júnias, claramente uma representação da abóbada celeste, é passível de muitas leituras. Se olharmos para o tímpano com um olhar menos codificado, mais inocente, até pelo confronto com a decoração do lintel, a primeira leitura que se faz, não é a cruz branca de pedra, mas o espaço negativo que o vazado deixou; um jogo geométrico que remete para uma temática vegetalista. No interior escuro da igreja esta leitura é ainda mais acentuada; no lugar da cruz surge uma estrela que guia e o tímpano transforma-se numa abobada estrelada. No portal de Santa Maria de Júnias esta leitura assume um significado ainda maior, uma vez que estão representadas sete estrelas. O número sete presta-se a muitas leituras: os sete dias da criação, o tempo presente que se desenvolve em ciclos de sete dias, mas também as sete igrejas do apocalipse, simbolizadas por sete candelabros e por sete estrelas. Sem esquecer que a construção geométrica da cruz, é feita a partir da intersecção de sete circunferências. Se é verdade que, durante o dia, no escuro do interior da igreja, a luz que entra pelos vazados nos mostra um céu estrelado, a inversa também será verdadeira. Durante a noite, naquele vale isolado, estando a igreja iluminada, projecta para o exterior a mesma imagem, que durante o dia se tem no seu interior. Se pensarmos, que Santa Maria das Júnias ficava num dos caminhos de Santiago e que uma das suas funções era o albergue de peregrinos, estes tímpanos vazados ganham ainda uma importância maior, funcionando como verdadeiras estrelas que conduzem os peregrinos. Sabendo que as frestas, pelo menos a do alçado principal, só foram acrescentadas no século XVI, os únicos pontos de luz, com excepção da cabeceira, eram as aberturas dos tímpanos.
Fazendo o esforço por me colocar numa perspectiva diferente, procurando uma leitura comparada deste tímpano com os exemplos do românico anteriormente citados, poderia aceitar como válida a possibilidade de ter sido exactamente esta dificuldade de legibilidade que levou os cantoneiros a acentuar a decoração dos tímpanos. No entanto, essa perspectiva colocaria a execução do portal de Santa Maria das Júnias num contexto em que eu não o enquadro. A lógica construtiva pela qual o edifício é regido, a forma como se estrutura e os significados que carrega, não comportam, em meu entender, uma intenção falhada. Também não vejo neste portal, “um reflexo dos escassos meios económicos disponíveis e de uma certa ingenuidade do artista responsável pela obra”, como entendeu Mário Barroca. Pelo contrário, vejo uma opção estética racionalmente construída com motivos que remontam ao visigótico.    

A gramática ornamental do portal enquadra-se no românico tardio da região norte do país. São muitos os exemplos onde encontramos os temas representados em Santa Maria das Júnias: no entanto não há nenhum edifício que se possa equiparar a esta singular igreja, pelo equilíbrio e sobriedade que apresenta. Se nos centrarmos apenas na sua gramática ornamental, são muitos os exemplos que podemos citar. De facto, os motivos cordiformes, as fitas dobradas e as pontas de lança, são elementos recorrentes do nosso românico. Podemos encontrá-los nas Igrejas de Manhente (Concelho de Barcelos), Ferreira (Concelho de Paços de Ferreira), Arnoso (Concelho de Vila Nova de Famalicão), entre outras, só para citar os casos em que estes elementos se combinam no portal. No entanto, qualquer dos portais citados é, não só mais perspectivado, como apresenta também colunas, o que em Santa Maria das Júnias não acontece.
Se atendermos às características do tímpano, podemos citar vários exemplos onde os tímpanos apresentam uma cruz vazada: Igreja de Unhão (Felgueiras), São Pedro das Águias(Tabuaço), Arnoso (Famalicão), Sé de Braga (porta do sol), todos eles próximos entre si, mas mais uma vez distantes do que acontece em Santa Maria das Júnias. Qualquer destes tímpanos, embora vazados, apresentam cruzes muito trabalhadas, geralmente ladeadas por motivos enlaçados ou por animais afrontados. O que mais se aproxima de Santa Maria das Júnias é o tímpano da porta Sul da Igreja de Arnoso (sendo o do portal principal mais próximo dos anteriormente citados).  
Pela sua contenção ornamental e pela ausência de profundidade, que se viria a acentuar progressivamente, como nos mostram os muitos exemplos do românico português, podemos ser levados a pensar que Pitões das Júnias remonta a uma época mais recuada, em especial se tivermos em consideração as informações da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que nos dão conta da existência de dois documentos no Tombo do Mosteiro de Celanova, referentes a Santa Maria das Júnias e datados de 953 e 1100.

O tímpano de Santa Maria das Júnias, claramente uma representação da abóbada celeste, é passível de muitas leituras. Se olharmos para o tímpano com um olhar menos codificado, mais inocente, até pelo confronto com a decoração do lintel, a primeira leitura que se faz, não é a cruz branca de pedra, mas o espaço negativo que o vazado deixou; um jogo geométrico que remete para uma temática vegetalista. No interior escuro da igreja esta leitura é ainda mais acentuada; no lugar da cruz surge uma estrela que guia e o tímpano transforma-se numa abobada estrelada. No portal de Santa Maria de Júnias esta leitura assume um significado ainda maior, uma vez que estão representadas sete estrelas. O número sete presta-se a muitas leituras: os sete dias da criação, o tempo presente que se desenvolve em ciclos de sete dias, mas também as sete igrejas do apocalipse, simbolizadas por sete candelabros e por sete estrelas. Sem esquecer que a construção geométrica da cruz, é feita a partir da intersecção de sete circunferências. Se é verdade que, durante o dia, no escuro do interior da igreja, a luz que entra pelos vazados nos mostra um céu estrelado, a inversa também será verdadeira. Durante a noite, naquele vale isolado, estando a igreja iluminada, projecta para o exterior a mesma imagem, que durante o dia se tem no seu interior. Se pensarmos, que Santa Maria das Júnias ficava num dos caminhos de Santiago e que uma das suas funções era o albergue de peregrinos, estes tímpanos vazados ganham ainda uma importância maior, funcionando como verdadeiras estrelas que conduzem os peregrinos. Sabendo que as frestas, pelo menos a do alçado principal, só foram acrescentadas no século XVI, os únicos pontos de luz, com excepção da cabeceira, eram as aberturas dos tímpanos.

Fazendo o esforço por me colocar numa perspectiva diferente, procurando uma leitura comparada deste tímpano com os exemplos do românico anteriormente citados, poderia aceitar como válida a possibilidade de ter sido exactamente esta dificuldade de legibilidade que levou os cantoneiros a acentuar a decoração dos tímpanos. No entanto, essa perspectiva colocaria a execução do portal de Santa Maria das Júnias num contexto em que eu não o enquadro. A lógica construtiva pela qual o edifício é regido, a forma como se estrutura e os significados que carrega, não comportam, em meu entender, uma intenção falhada. Também não vejo neste portal, “um reflexo dos escassos meios económicos disponíveis e de uma certa ingenuidade do artista responsável pela obra”, como entendeu Mário Barroca. Pelo contrário, vejo uma opção estética racionalmente construída com motivos que remontam ao visigótico.

Excerto de um texto e de imagens de Delmira Espada em "Medievalista"