sexta-feira, 24 de maio de 2013

António Osório, livro e dois poemas

 Título: O Concerto Interior - evocações de um poeta
Autor: António Osório
Págs: 136
PVP: 12€
Edição Brochada 

«As recordações são acompanhadas aqui de poemas. Não se trata de uma antologia — a poesia procurou sempre tornar mais clara a minha vida, e a prosa revela a verdade dos versos e das pessoas invocadas. As duas, lado a lado, buscam o encanto de caminharem juntas e de se completarem. Falta acrescentar que o mistério da existência — procurei-o sempre descobrir ao longo da vida — é o das quatro estações. Porque será que a velha glicínia segue o ritmo das jovens roseiras, essas lindas raparigas? E porque luzem na hora certa, como as constelações? De tudo resulta um concerto interior, preenchendo a alma e tornando-a digna de voltar.» António Osório

«E em cada poema, em cada texto, é o sentido do mundo que procura, o lado fraterno da existência, como se pode aferir, página a página, em O Concerto Interior. Concertante deambulação pelas recordações epoemas de um homem que nunca deixou de procurar entender o mistério das quatro estações. Em fundo talvez Vivaldi, reverberação constante dos seus dias.» Maria Leonor Nunes, JL 19/09/2012
Sobre o autor: 
Nasceu em Setúbal em 1933, filho de pai português e mãe italiana. Poeta e ensaísta é licenciado em Direito, exercendo atividade como advogado em Lisboa. Foi bastonário da Ordem dos Advogados e presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente. Pertence, desde 1999, à Academia de Ciências de Lisboa, secção de Letras. Tem sido unanimemente considerado pela crítica como uma das vozes mais consistentes da poesia portuguesa contemporânea. 

Poema de António Osório                                         



CAMÕES

Lia-me Camões meu Pai.
A tristeza de ambos
se juntava, em mim crescia.
E a voz, a inalterável
mergulhia das palavras
procriavam sarmentosos liames.
(Basílico a Mãe depunha no lume,
a carne com alecrim perfumava).
O livro de carneira negra,
as letras juntas em oiro:
morros, alusões, muros
verdentos, o último da vida ouvia.
Amor doía, emaranhava.
Mordaça invisível. Em lágrimas,
minhas, de meu Pai e de Camões, voava.



O PASSADO

Olha para trás o monstro corrompido
por trinta anos de degredo,
por tanta ladainha, tanta gente,
tamanhos e tamanhos infortúnios,
lentamente destruído por tanta
ocultação, desprezo, tanto medo e raiva,
que não encontra o próprio rosto de criança.


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