A noite de Walpurgis (de 30 de Abril para 1 de Maio), no dia de é uma festa europeia, sobretudo de tradição germânica, que foi acusada pela Igreja de ser “dedicada à magia e ao culto do diabo”, mas que era, na realidade, uma festa de alegria dramática.
“Walpurgis” é um nome de inspiração pagã, que provém de “Wal” (que significa pilha de mortos ou campo de batalha) e “bergs” (proteger), ou, segundo uma outra interpretação etimológica, de “Purag” (castelo ou cidade fortificada, que é defendida na batalha, ou, segundo outros, castelo dos mortos). Remete, portanto, para os derradeiros soldados que enfrentam as forças disformes que ameaçam a “cidade”, a ordem, a forma.
Nesta longa véspera de Maio, caracterizada pela fascinante e dramática abertura de passagens para o disforme e pelo imperativo de manter a firmeza, o pensamento torna-se deferente, os cálices erguem-se transbordantes, e o coração cheio eleva-se em direcção àquele que, homem e mulher, soube acolher o momento de provar dedicação: ao seu povo, à sua terra, aos seus antepassados e ao possível futuro destino de uma nação que parecia sob o abismo do desaparecimento.
“A chama purifica-se do fumo: Assim se purifique a nossa fé! E se nos tiram os velhos costumes: A tua luz, quem a poderá tirar?”
Druidas
Dedicado a quem de direito:
Um druídaMaio ri!
O bosque está livre
de céu e geada.
Os druídas
Maio ri!
O bosque está livre
de céu e geada.
A neve desapareceu!
Numa paisagem verde
ressoam cantos de júbilo.
Um druída
Uma neve muito branca
cobre o cume;
apressemo-nos rumo ao alto,
festejam-se os velhos e sagrados costumes,
ali se louva o pai do universo.
As chamas ardem através do fumo!
Assim se eleva o coração.
Uma neve muito branca
cobre o cume;
apressemo-nos rumo ao alto,
festejam-se os velhos e sagrados costumes,
ali se louva o pai do universo.
As chamas ardem através do fumo!
Assim se eleva o coração.
Os druídas
As chamas ardem através do fumo!
festejam-se os velhos e sagrados costumes,
ali se louva o pai do universo.
Ao alto! Cara ao alto!
Assim se eleva o coração.
Uma anciã da aldeia
Como podeis agir tão ousadamente?
Quereis caminhar rumo à morte?
Não conheceis as leis
dos nossos absolutos vencedores?
Cercaram-nos com as suas redes
para pagãos, para pecadores.
Matam, aí, junto às muralhas,
as nossas mulheres, os nossos filhos,
e todos nós
nos aproximamos de um fim certo!
Como podeis agir tão ousadamente?
Quereis caminhar rumo à morte?
Não conheceis as leis
dos nossos absolutos vencedores?
Cercaram-nos com as suas redes
para pagãos, para pecadores.
Matam, aí, junto às muralhas,
as nossas mulheres, os nossos filhos,
e todos nós
nos aproximamos de um fim certo!
Coro de mulheres
No acampamento da grande muralha
matam os nossos filhos.
Ai, os nossos absolutos vencedores!
E todos nós
nos aproximamos de um fim certo!
No acampamento da grande muralha
matam os nossos filhos.
Ai, os nossos absolutos vencedores!
E todos nós
nos aproximamos de um fim certo!
Um sacerdote
Todo aquele que seja hoje
avesso ao sacrifício,
Merece já as suas correntes.
O bosque está livre!
Trazei a lenha,
e preparai uma fogueira!
Fiquemos aqui
entre os arbustos
em silêncio durante o dia,
poremos os homens ao vosso serviço
para que nada temeis.
Depois deixem-nos com renovada coragem
cumprir o nosso dever!
Todo aquele que seja hoje
avesso ao sacrifício,
Merece já as suas correntes.
O bosque está livre!
Trazei a lenha,
e preparai uma fogueira!
Fiquemos aqui
entre os arbustos
em silêncio durante o dia,
poremos os homens ao vosso serviço
para que nada temeis.
Depois deixem-nos com renovada coragem
cumprir o nosso dever!
Coro dos guardas
Separai-vos, homens honrados, aqui
ao longo de todo o bosque
e vigiai em silêncio,
enquanto cumprem o vosso dever!
Separai-vos, homens honrados, aqui
ao longo de todo o bosque
e vigiai em silêncio,
enquanto cumprem o vosso dever!
Um guarda
A estes enfadonhos pastores cristãos,
deixem-nos enganá-los!
Com esse diabo dos seus contos,
queremos assustá-los.
Vinde! Com pontas e forquilhas
e com tochas e pandeiretas
faremos ruído durante a noite
Pelos estreitos caminhos rochosos.
Mochos e corujas
ululam no coro do bosque!
A estes enfadonhos pastores cristãos,
deixem-nos enganá-los!
Com esse diabo dos seus contos,
queremos assustá-los.
Vinde! Com pontas e forquilhas
e com tochas e pandeiretas
faremos ruído durante a noite
Pelos estreitos caminhos rochosos.
Mochos e corujas
ululam no coro do bosque!
Coro dos guardas
Vinde com pontas e forquilhas,
como os do diabo, ou dos seus contos,
e com selvagens pandeiretas
pelos abandonados caminhos rochosos!
Mochos e corujas
ululam no coro do bosque!
Vinde com pontas e forquilhas,
como os do diabo, ou dos seus contos,
e com selvagens pandeiretas
pelos abandonados caminhos rochosos!
Mochos e corujas
ululam no coro do bosque!
O sacerdote
Vindo de tão longe
como nós na noite!
O Pai do universo canta em segredo!
Já é de dia,
enquanto o queiramos
um coração puro te traremos.
Vindo de tão longe
como nós na noite!
O Pai do universo canta em segredo!
Já é de dia,
enquanto o queiramos
um coração puro te traremos.
Os druídas
Já é de dia,
enquanto o queiramos
um coração puro te traremos.
Já é de dia,
enquanto o queiramos
um coração puro te traremos.
O sacerdote
Hoje podes, em verdade,
e nalgum momento,
permitir muito ao inimigo.
A chama purifica-se do fumo:
assim se purifique a nossa fé!
E se nos tiram os velhos costumes:
a tua luz, quem a poderá tirar?
Hoje podes, em verdade,
e nalgum momento,
permitir muito ao inimigo.
A chama purifica-se do fumo:
assim se purifique a nossa fé!
E se nos tiram os velhos costumes:
a tua luz, quem a poderá tirar?
Um guarda cristão
Ajuda, ai, ajuda-me; camarada!
Ai, aproxima-se o inferno!
Vê, como os corpos embruxados
se consomem completamente nas chamas!
Homens lobo e mulheres dragão,
que passam voando!
Que horrível estrondo!
Fujamos, fujamos todos!
Em cima ardem e assobiam os malignos;
e do chão
soltam-se por todos os lados vapores infernais.
Ajuda, ai, ajuda-me; camarada!
Ai, aproxima-se o inferno!
Vê, como os corpos embruxados
se consomem completamente nas chamas!
Homens lobo e mulheres dragão,
que passam voando!
Que horrível estrondo!
Fujamos, fujamos todos!
Em cima ardem e assobiam os malignos;
e do chão
soltam-se por todos os lados vapores infernais.
Coro dos guardas cristãos
Terríveis e embruxados corpos,
Homens lobo e mulheres dragão!
Que horrível estrondo!
Vê, ali ardem, ali se agitam os malvados!
E do chão
soltam-se por todos os lados vapores infernais.]
Terríveis e embruxados corpos,
Homens lobo e mulheres dragão!
Que horrível estrondo!
Vê, ali ardem, ali se agitam os malvados!
E do chão
soltam-se por todos os lados vapores infernais.]
O sacerdote e o coro dos druídas
A chama purifica-se do fumo:
assim se purifique a nossa fé!
E se nos tiram os velhos costumes:
a tua luz, quem a poderá tirar?
A chama purifica-se do fumo:
assim se purifique a nossa fé!
E se nos tiram os velhos costumes:
a tua luz, quem a poderá tirar?
Johann Wofgang von Goethe , “Die erste walpurgisnacht”
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